Uma reviravolta que espelha a essência do Vitória. Numa época escrita por cinco treinadores, a irreverência e paixão vimaranense subsistiu, quando tantos outros grupos cederiam à pressão.

Na última jornada, os «Conquistadores» triunfaram na visita ao Arouca, por 1-3, à boleia do «mestre» André, do brilhante Jota e dos adeptos únicos. Às portas da Freita foram cerca de 700.

No rescaldo de uma semana atribulada, Rui Cunha – que assumiu o comando técnico do Vitória para esta partida – recuou Manu Silva e apostou em Händel, em detrimento de Jorge Fernandes. Importa referir que Butzke e Villanueva juntaram-se a João Mendes e Arcanjo no boletim clínico. Por sua vez, Nuno Santos cumpriu castigo.

Entre os anfitriões, Daniel Sousa alterou quatro peças, apostando no guardião Thiago, Kouassi, Matías Rocha e Trezza. Em sentido contrário, Arruabarrena, Javi Montero e Sylla «saltaram» da convocatória, enquanto Morozov foi suplente. Tal como nas últimas semanas, Mújica viu os camaradas de alcateia à distância.

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Depois de um arranque repleto de duelos, o «pai» destes «Lobos», ou seja, David Simão delineou o primeiro lance de perigo. Do próprio meio-campo, o capitão lançou a corrida de Jason e Cristo. Ainda assim, a dupla espanhola foi incapaz de dobrar o veloz Bruno Varela.

Quanto aos «Conquistadores», os ataques lateralizados e as sucessivas bolas paradas raramente surtiram efeito. Ainda que André André e Händel fossem combinando e convidando aos ataques de Jota e Nélson Oliveira, o guardião Thiago permanecia tranquilo.

Mérito – sublinhe-se – dos homens recuados. Aos 20m, quando Matías Rocha calculou mal o momento de salto e caiu desamparado, Jota e Nélson Oliveira dispararam na direção do golo. Todavia, David Simão e Bambu «voaram» para desarmar a dupla.

De aviso em aviso até ao golo

À meia-hora, os comandados de Daniel Sousa assumiram a batuta do encontro, aprimorando o processo ofensivo. Aos 29m, Cristo obrigou Varela a um voo vistoso. Na recarga, Trezza atirou por cima, quando a baliza estava deserta.

Na insistência, Jason não pediu licença e visou a baliza dos «Conquistadores». Na meia-lua da área, o espanhol encheu o pé e atingiu a barra. Bruno Varela estava batido.

Entregues estes avisos, o Vitória deu ao desbarato o ascendente do Arouca. Assim, os «Lobos» capitalizaram o espaço e, aos 37m, conquistaram um penálti. Pela esquerda, Cristo lançou a corrida de Trezza, que apenas não rematou porque Borevkovic travou o uruguaio em falta.

Na marca do castigo máximo, Cristo pôs fim ao interregno de duas jornadas «a seco» e assinou o 15.º golo na Liga. Na ausência de Mújica, esta é a principal referência ofensiva. Quiçá, Cristo avance para a segunda época.

Uma questão de espírito

A reviravolta começou antes de ser ensaiada. Os comandados de Rui Cunha apressaram-se para regressar ao relvado, motivados pelas centenas de adeptos. Por sua vez, os anfitriões caminharam, vagarosamente, para o reatar do encontro.

Ainda que taticamente nada tenha mudado, a etapa complementar foi dominada – por inteiro – pelo Vitória. À boleia de Jota, os minhotos viram Nélson Oliveira repor a igualdade. Aos 51m, Bruno Gaspar cruzou – da direita para a esquerda – André André cabeceou para o coração da área e Oliveira desviou para o empate.

Atordoado, o Arouca acumulou erros de construção. Assim, aos 53m, Jota desviou um passe de David Simão para o poste. A «remontada» era, portanto, uma questão de tempo.

Segundos volvidos, Jota Silva soltou a festa na bancada vimaranense. Pela direita, e já na área, o «Grealish» português cruzou para a pequena área. Ainda que o esférico não levasse a direção do golo, o guardião Thiago leu mal o lance e desviou, com as mãos, para a baliza.

E a enxurrada ofensiva não ficou por aqui. Determinados a atingir o recorde de pontos, o Vitória selou o triunfo pela cabeça de Manu Silva. Na sequência de um canto cobrado à esquerda, o jovem defesa – de 22 anos – agradeceu um primeiro desvio de Nélson Oliveira para assinar o 1-3. Estavam decorridos 63m.

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Até final, os «Conquistadores» desaceleraram, fixaram posições a meio-campo e neutralizaram a reação do Arouca. Assim, o Vitória sela o recorde de pontos (63), superando a marca de 2016/17 (62). Não obstante, nessa temporada, foram quartos, sob comando de Pedro Martins.

Para o Arouca, esta foi uma despedida amarga de Daniel Sousa, o obreiro de uma campanha surpreendente, até apaixonante. Selada a permanência e descartado o sonho europeu, os «Lobos» encaixaram três empates e duas derrotas.

Em todo o caso, para a história fica o impressionante registo em casa: seis triunfos, dois empates e três derrotas (Sporting, Benfica e Vitória). O técnico, de 39 anos, elevou os «Lobos» do último para o sétimo posto, o que vale uma oportunidade em Braga.