Há uma história do «Bola na Barra» que só duas pessoas conhecem. Eu e o repórter de imagem Braune Caetano.

(Ou, melhor, só nós dois e agora também quem aqui tome conhecimento dela, naturalmente.)

A 11 de Março de 2010, o Sporting jogou em Espanha com o Atlético de Madrid para a Liga Europa. Dois dias antes, foi feita a viagem da equipa de reportagem da TVI designada para fazer a cobertura dos treinos, das conferências de imprensa e do jogo.

Como essa viagem (de mais de 600km) foi feita de carro, houve mais do que tempo para conversar sobre tudo o que podia ser assunto de conversa em cerca de seis horas de auto-estrada mas, ainda antes da fronteira Elvas-Badajoz, já eu tinha convencido o Braune Caetano de que «giro, giro era fazermos um Bola na Barra em Espanha, o primeiro internacional! - sem ninguém saber», aproveitando o facto de nesse dia só termos mesmo a viagem para fazer, sem qualquer compromisso de reportagem até chegarmos a Madrid.

A estratégia não podia ser mais simples: ir fazendo o caminho e, pela "A5" espanhola, ir olhando em volta, à procura de torres de iluminação de campos de futebol que ficassem perto da estrada (para não nos afastarmos muito da rota, naturalmente) e tentar fazer um «Bola na Barra». Mesmo que em Espanha ninguém soubesse o que era o «Bola na Barra», quem nós éramos ou por que raio iríamos aparecer no treino de uma equipa ao calhas com uma câmara de televisão e propor-lhes tentar acertar na barra de uma baliza com um chuto do meio campo. Como disse, nada mais simples.

O Braune estava entusiasmadíssimo com a ideia e já planeava a melhor forma de utilizar a máquina fotográfica pessoal (que também fazia video) como segunda câmara para fazermos esse «Bola na Barra» o mais semelhante possível a todos os outros. Já eu - o culpado dessa excitação - começava a fazer contas de cabeça e a imaginar que, se fizéssemos mesmo um desvio para levar a cabo o nosso plano, o mais certo seria chegarmos a Madrid a meio da madrugada, com um dia seguinte pejado de trabalho pela frente, de manhã até à noite. Mas enfim.

Com o cair da noite, finalmente, torres de iluminação! Saímos da auto-estrada sem nos perguntarmos onde estávamos. Trujillo, ficámos a saber depois. 150km depois de Badajoz e ainda a 250km do nosso destino, Madrid. O campo era logo à entrada da povoação. O Braune cada vez mais entusiasmado («A malta vai-se passar connosco quando souber!») e eu, confesso, também já imbuído do espírito. Saímos do carro, entrámos pelo portão do campo e o treino tinha terminado há minutos. O treino das camadas jovens, muito jovens. Iniciados, que nunca chegariam à baliza, por muito boa vontade que demonstrassem, se aceitassem o desafio. Não seria bonito.

Perdeu-se essa oportunidade, portanto. E as seguintes. Espanha é geograficamente muito diferente de Portugal, de facto. Nada é «já ali». Nada é perto. Nem mais uma torre de iluminação conseguimos ver até Madrid. Lá, enquanto fazíamos as reportagens inicialmente planeadas, tentámos contactar clubes madrilenos que treinassem na manhã do jogo, a única altura em que poderíamos sequer pensar em fazer algo do género (mas, mesmo assim, muito à pressa). Nada. No dia do regresso, o seguinte ao jogo Atlético - Sporting, quase, quase conseguimos convencer o Real Madrid "C" (!) a abrir-nos as portas de Valdebebas. Quase. E no regresso, pela "A5", a mesma vontade mas também o mesmo resultado.

Fizemos tudo o que estava planeado desde a saída de Queluz-de-Baixo. Só não fizemos o "extra" (que até hoje ainda não foi feito): o primeiro «Bola na Barra» gravado fora de Portugal.