Quando, na madrugada deste sábado, a bola começar a rolar no PPL Park, de Filadélfia, e no Empire Field, de Vancouver, a Liga norte-americana de futebol, MLS, terá entrado no 18º ano de existência. Um número simbólico, que lhe permite superar, em longevidade, a sua mais ou menos ilustre antecessora, NASL, que nos anos 70 levou figuras como Pelé, Eusébio, Cruyff e Beckenbauer a pisar os relvados sintéticos dos EUA.

Como é típico nos adolescentes, não é fácil aferir o grau de maturidade destes 18 anos de MLS. Afinal, esta é uma competição que continua a lutar pelo reconhecimento, num país onde o futebol profissional ainda ocupa lugar de nicho quando comparado com as modalidades tradicionais. É verdade que os 4,2 milhões de atletas federados, metade dos quais mulheres, deixem a federação norte-americana, US Soccer, no segundo lugar do ranking mundial de praticantes, apenas atrás dos 6,3 milhões da Alemanha. E é também verdade que os resultados internacionais das seleções norte-americanas têm ganho consistência. com a seleção feminina a ocupar mesmo o primeiro lugar no ranking da FIFA

Mas se estes números consolidam o futebol como modalidade em crescimento nos EUA, no desporto profissional norte-americano os números que contam são outros. E, no caso da MLS, traduzem-se numa realidade difícil de atenuar: a final do último campeonato, em dezembro, entre os LA Galaxy e os Houston Dynamo, teve uma audiência televisivia de 0.7, percentagem que corresponde a menos de dois milhões de espectadores. Só a título de comparação, o Superbowl atrai um número 60 vezes superior, enquanto os audiências das finais da NBA são dez ou 15 vezes superiores, sendo esse valor multiplicado por um mínimo de quatro jogos. Até a terceira ronda do World Challenge de golfe, transmitida nesse dia pela NBC, fez um resultado bastante superior.

Pior ainda: os 0.7 de audiência, conseguidos em 2012, perderam na comparação com o valor do ano anterior. Os finalistas eram exatamente os mesmos, e a expetativa pelo último jogo de Beckham até deveria ter gerado um «buzz» mais significativo, mas o resultado acabou por defraudar as expetativas e tirar impacto a uma temporada positiva em muitos outros parâmetros.

Falando num evento de apresentação promovido pelo Google, na semana que passou, o comissário da MLS, Don Garber, fez questão de sublinhar a subida de estatuto da competição no panorama internacional: «temos a sétima liga profissional com maior média de assistências», lembrou a propósito do número final de 18.807 espectadores por jogo, a melhor de sempre, 5 por cento acima de 2011. Só as Ligas de Alemanha, Inglaterra, Espanha, Itália, Argentina e México estão claramente acima dos valores da MLS, surgindo depois, sensivelmente a par, campeonatos como a Ligue 1 (França), a Eredivisie (Holanda) e o Championship, segundo escalão inglês.

Ainda assim, as audiências televisivas residuais e a escassa cobertura mediática nos meios «mainstream» traduzem a reduzida capacidade para o futebol dar o salto, a partir da dimensão relevante que ocupa no desporto escolar norte-americano, para uma competição de elite que entre no radar do grande público.

Numa recente entrevista à Al-Jazeera, o presidente da FIFA pôs o dedo na ferida com algum acinte: «Não há uma Liga profissional forte, que seja reconhecida pela sociedade americana. Passaram 18 anos, e isso já devia ter sido conseguido, mas ainda estão a debater-se», afirmou Blatter. Garber acusou o golpe, e respondeu, ponto por ponto, na declaração de lançamento da temporada: «Nos últimos 17 anos trabalhámos duramente para consolidar fundações sólidas para este desporto profissional. Fizemo-lo de forma paciente e estratégica, embora muitos nos quisessem obrigar a ir mais depressa do que podíamos. Mas estamos confortáveis com a nossa posição atual», garantiu.