O F.C. Porto já era obra e graça de José Maria Pedroto. Um clube a rasgar as barreiras do regionalismo e a caminho da sua verdadeira dimensão nacional. Tinha vencido dois campeonatos consecutivos dezanove anos depois do último título. A 17 de Agosto de 1979 duelo quente nas Antas. A disputa da Supertaça Cândido Oliveira, numa altura em que a prova ainda era oficiosa. O campeão F.C. Porto recebia um Boavista a sair da casca depois da brilhante conquista da Taça de Portugal. «Jamais irei esquecer esse jogo». As palavras são de Artur, capitão do Boavista.
Os axadrezados ganharam por 2-1. Com dois golos de Júlio, a deixar um estádio à beira da loucura. Ninguém queria acreditar na derrota. «Naquela altura, a rivalidade era tremenda. Ganhar uma Supertaça nas Antas era uma coisa do outro mundo». Assim uma noite de festa transformou-se em pesadelo. «Não recebemos o troféu». Não havia condições para isso. «Pus um pé no primeiro degrau da tribuna e tive de recuar». Recuou até ao balneário. Ele e a equipa. «Os sócios do F.C. Porto reagiram, estavam doidos. Ouvimos insultos, mas não houve agressões». Por isso, a entrega do troféu ficou adiada para o jogo seguinte, no Bessa.
Sobre o jogo, Artur passou o filme à frente dos seus olhos. «Não foi um encontro difícil». Do outro lado, não estava Oliveira. Mas estavam os outros craques. Como Rodolfo, Frasco, Albertino, Gomes e Costa. «Tivemos sorte e aproveitámos as oportunidades de golo. Fomos muito eficazes». A eficácia que fez de Júlio o herói do desafio. Mas não houve casos nem polémicas. Nada que fizesse os adeptos espumar de raiva. Só o resultado. Só a vitória do rival Boavista. «Tínhamos uma equipa de jogadores experientes. Jogávamos de olhos fechados». Com Artur, Barbosa, Moinhos e Júlio. «E não recebemos nem um tostão como prémio. Naquele tempo, vencer já era o nosso prémio».