Depois da estrondosa vitória sobre a França e do comportamento bárbaro nos balneários de Clermont-Ferrand, em 2003, era difícil que a selecção de sub-21 continuasse a demonstrar em permanência a sua personalidade bipolar ao longo de 2004. Mas, entre Maio e Setembro, a equipa (pouco) comandada por José Romão alternou euforia e depressão de forma ainda mais desconcertante.
Na Alemanha, tudo começou com uma derrota estrepitosa com a Suécia, a valer um comentário precipitado e oscilante (chamemos-lhe assim) de Gilberto Madail, clamando por culpados. Mas, em menos de uma semana, os três jogos seguintes da selecção permitiram garantir um honroso terceiro lugar e, objectivo principal, a presença nos Jogos Olímpicos de Atenas, em Agosto. Pelo meio, sem Cristiano Ronaldo, Tiago e Hélder Postiga, já a trabalhar para o Europeu, a revelação/confirmação de alguns nomes de valor como Hugo Almeida, Lourenço e Carlitos.
Veio o Euro, vieram as incertezas acerca dos 18 convocados ¿ Frechaut, Fernando Meira e Boa Morte foram os convidados de honra para Atenas ¿ e veio a certeza de que esta equipa tinha pouca gente a defendê-la. Por entre críticas directas dos principais clubes, a indiferença mais ou menos assumida da estrutura federativa e a evidente falta de pulso e de rumo do seu treinador, a selecção olímpica fez uma preparação atabalhoada no Algarve e chegou à Grécia alimentando legítimas expectativas de medalhas.
A derrota com o Iraque, na abertura, foi o preâmbulo para um descalabro, adiado com uma frágil vitória sobre Marrocos e consumado com uma derrota vergonhosa com a Costa Rica, não tanto pelo resultado, mas pelo absoluto desnorte revelado em campo durante e depois do jogo. No fim, sobraram duas ideias fortes: a de que o futebol olímpico é uma realidade cada vez mais indesejável para quem manda; e a de que o talento é inútil quando falta motivação, liderança e educação desportiva.