Em alerta
O antigo juiz de campo português que já fazia parte dos eleitos da FIFA esclareceu que «o boicote» foi anunciado com o intuito de «alertar não só as entidades que regulavam os árbitros, mas também as que governavam o País, no sentido de os árbitros terem mais segurança», pois, como frisou, «os jogos tinham de realizar-se» e «havia sempre pessoas que se disponibilizavam, ou antigos árbitros que estavam na bancada».
Recordando a «falta de segurança em alguns jogos», António Garrido confirmou que «depois do 25 de Abril houve alguns casos graves». E, mesmo sem já se lembrar do espancamento de Mário Feveiro e da agressão com uma pedrada sofrida por José Fernando Marques, Garrido contou que houve mais exemplos, entre os quais o seu; ocorrido já um ano depois da Revolução, mas como inelutável consequência de Abril de 1974, num período que antecedeu o chamado «Verão Quente». «Em Maio de 1975, num Guimarães-Boavista, tive graves problemas; inclusivamente, queimaram-me o automóvel. Tive muitas dificuldades para sair do estádio e isso só aconteceu passadas muitas horas. E só foi possível por intermédio das forças do
COPCON [Comando Operacional do Continente], que conseguiram que eu saísse do campo sem quaisquer danos», contou.
«Nessa altura, as pessoas sentiam-se com uma liberdade excessiva que lhes permitia fazer desacatos. É inconcebível que um árbitro, depois do jogo, fosse para o seu automóvel e este estivesse incendiado», acrescentou António Garrido descartando destas manifestações populares sócios ou responsáveis dos clubes, voltando a encontrar justificação no excesso de liberdade: «Naquela altura, veio a tropa de Braga, disparava tiros, as pessoas levantavam as camisas, apontavam o peito e diziam Atira para aqui!.» «As pessoas podiam fazer o que queriam. Foram dois anos em que houve liberdade excessiva e grandes desacatos e
a integridade física dos árbitros também esteve em causa», sintetizou.
Em resposta
Voltando ao boicote de 1974, a jornada acabou por realizar-se com os árbitros nomeados para os jogos e António Garrido explicou que a decisão de arbitrar prevaleceu não só porque «o próprio Conselho de Arbitragem (através das instâncias desportivas da altura) acabou por prometer aos árbitros maior segurança para desempenharem o seu trabalho», mas também pela constatação de que «os jogos iriam realizar-se [sendo dirigidos] por pessoas menos qualificadas e isso era mau para o futebol».
O que se revolucionou então? «Foi uma tomada de posição e conseguimos resposta a algumas reivindicações, como o estabelecimento do regulamento de arbitragem na feitura do qual nós também participámos [como comissão coordenadora de todos os árbitros junto da Comissão Central de Arbitragem]», esclareceu.
RELACIONADOS
25 de Abril: a(s) festa(s) pacíficas do Sporting no seguimento da Revolução (II)
25 de Abril: a(s) festa(s) pacíficas do Sporting no seguimento da Revolução (I)
25 de Abril: quando os árbitros ameaçaram com greve (I)
25 de Abril: cravos em Alvalade, borlas para os militares em Coimbra
25 de Abril: o primeiro dia de futebol pós-Revolução
25 de Abril: «E depois do Adeus» à Taça das Taças... (II)
25 de Abril: «E depois do Adeus» à Taça das Taças... (I)
25 de Abril: a necessidade de uma liga de clubes quatro anos antes de acontecer
25 de Abril: como fintar a censura numa crónica de um jogo
25 de Abril: o começo da revolução dos futebolistas (II)
25 de Abril: o começo da revolução dos futebolistas (I)
25 de Abril: uma final da Taça em que a Académica defrontou o Benfica e o Regime
25 de Abril: o «chumbo-político» do sobrinho-bisneto Norton de Matos
25 de Abril: António Simões, futebolista e deputado
25 de Abril: a amnistia de Vitorino Bastos pela queda da ditadura espanhola
25 de Abril: jogadores com mais direitos, mas com contratos paralelos (II)
25 de Abril: jogadores com mais direitos, mas com contratos paralelos (I)
25 de Abril: o dia de Verão em que a FPF foi ocupada
25 de Abril: quando Vitorino Bastos «atravessou» o fogo cruzado
25 de Abril: um alargamento da I Divisão vetado pelo Governo
25 de Abril: Vítor e Vasco, dois Gonçalves como líderes das aspirações portuguesas
25 de Abril: a Académica tornou-se Académico e este entrou em campo