A ideia de Thomas Rensen, um holandês de 29 anos, começou por ser bem simples: fazer um «inter-rail» pela Europa. No entanto, uma campainha tocou-lhe no cérebro e quis ir mais longe, pelo mesmo caminho. «Por que não ver alguns jogos de futebol enquanto estiver lá por fora? A ideia cresceu e pensei: será possível ver 31 jogos em 31 dias?». Sim, foi possível. Rensen conseguiu-o (aliás, viu 32!) e contou tudo ao Maisfutebol.

«Fiz umas pesquisas para saber se seria possível e comecei a preparar tudo há um ano. Um patrocinador pagou-me o bilhete de comboio e fui escrevendo para um jornal holandês sobre a minha viagem. O resto ficou tudo a meu cargo. Gastei cerca de 4000 euros», começou por dizer.

A aventura teve início a 31 de Março, com um jogo entre as selecções sub-17 da Inglaterra e da Espanha, em Mol, na Bélgia e terminou, um mês mais tarde, no derby londrino entre Chelsea e Tottenham.

Pelo meio, 18 países, 31 cidades, milhares de quilómetros e muitas histórias para contar. «Em Milão perdi o meu passaporte. Tive de ficar em Itália um dia a mais do que o previsto. Felizmente havia mais um jogo lá, para não quebrar a rotina... Fui à embaixada holandesa e consegui um novo. Houve, depois, momentos bem melhores. Ainda em Itália encontrei o Westerveld [ex-internacional holandês] e conversámos. Conheci adeptos muito estranhos. Na Alemanha fui a um dentista, adepto do Schalke, que pintava o consultório de azul e branco», descreve.

Benfica no cartaz, Portugal no coração

No cartaz deste adepto do Willem II apenas surge um jogo com a participação de uma equipa portuguesa. O PSV Eindhoven-Benfica, dos quartos-de-final da Liga Europa, foi o programa do dia 14 de Abril. Não houve oportunidade para vir a Portugal, apesar de ter recebido convites do Porto. «As ligações iam demorar e quebrava-me o plano», explica.

«O PSV tinha perdido na primeira mão, por isso fiquei bastante surpreendido por vê-los bem melhor em Eindhoven. Até chegou a estar perto, com o 2-0. Mas o Benfica é tão bom quanto o PSV, por isso mereceram marcar. Gostei muito desse jogo, da atmosfera, e foi bom ver grandes jogadores como Aimar ou Saviola», afirmou.

Apesar de, nesta aventura, só ter visto jogar o Benfica, Thomas Rensen não esconde outras ligações ao futebol luso. «O que Portugal fez na Liga Europa este ano foi impressionante. Talvez as equipas holandesas consigam o mesmo, um dia. Gostei também de ver que o F.C. Porto não é uma equipa defensiva, mas que gosta de jogar futebol», referiu.

Apesar dos destaques aos clubes, foi a selecção nacional que lhe proporcionou o segundo melhor jogo que alguma vez viu. Rensen estava no Estádio da Luz durante o Portugal-Inglaterra do Euro 2004. E não esquece.

«Foi um jogo perfeito. Aconteceu tanta coisa...Por isso, mesmo para um adepto neutral, como eu, foi do melhor que se podia pedir. E a festa nas ruas, no final, também foi muito boa», lembrou Rensen, que só coloca um jogo acima deste, no seu top de eleição: a final da Taça UEFA de 2002, entre Feyenoord e Borússia Dortmund.

Da beleza da Champions à pobre III Liga de Itália

32 jogos em 31 dias é impressionante. Não é recorde, porque há ocasiões que permitem que se faça o mesmo com um custo menor. «No Mundial 2006, o Franz Beckenbauer esteve em mais jogos que eu e, em 2010, houve um tipo que viu 32. Mas isso é apenas num país. Eu viajei pela Europa», frisa.

Rensen viu bons jogos, como Schalke-Inter (2-1), da Liga dos Campeões, mas também jogos muito fracos. «O Monza-Spezia, do terceiro escalão em Itália, terminou 0-0. Foi o pior.»

A 30 de Abril, em Londres, fechou o ciclo. Para sempre. «Chega para mim, não tenciono repetir, nem melhorar. Foi uma experiência maravilhosa, mas é algo que se faz apenas uma vez. É possível fazer melhor, mas para mim chega», confessa. Thomas Rensen, o «Super-Adepto» pousa a capa de herói e passa a ser um simples fã do Willem II...com uma bela história para contar.