Eliminada na fase de grupos, a prestação da anfitriã Dinamarca no Europeu de sub-21 ficou aquém do esperado, mas ainda assim permitiu analisar as duas facetas de Daniel Wass. Utilizado a médio-direito no primeiro jogo, com a Suíça, o reforço do Benfica recuou para lateral nos dois últimos jogos, frente a Bielorrússia e Islândia. Três exibições merecedoras de nota positiva, pautadas por um acerto que pode ser qualidade ou defeito, consoante o contexto. Ser «certinho» é um óptimo princípio para quem joga na defesa, mas é insuficiente para quem aparece mais adiantado no terreno. Perspectivando a mudança para a Luz, será como lateral que Wass tem mais hipóteses de ser feliz.

Inteligente e rigoroso tacticamente, o dinamarquês é daqueles jogadores que cumprem em qualquer posição, mas a meio-campo a sua influência é limitada. O reforço benfiquista raramente falha um passe, privilegiando o jogo curto, mas também pouco ou nada desequilibra. Só arrisca o duelo individual quando não resta outra solução, e sempre em cenários de perigo reduzido. As diagonais para a baliza aparecem apenas quando a iminência de um cruzamento do lado oposto sugere um aparecimento ao segundo poste. Com a bola nos pés fica quase sempre colado à linha, mas a verdade é que também aposta pouco nos cruzamentos. Para o futebol português, mais criativo, isto sabe a pouco.

Toda esta segurança que Wass transmite é bem mais valiosa no sector recuado. Conciliando uma estatura respeitável e uma velocidade digna, o dinamarquês é sólido a defender, ainda que não lhe fizesse mal aumentar um pouco a agressividade para a aventura portuguesa. Bom tecnicamente, sai a jogar com firmeza, sempre preferindo o futebol curto. Não é lateral que embale para o ataque com a bola nos pés, mas antes que apoie na segunda vaga, nas costas do médio que joga à sua frente.

Daniel Wass partilha com Maxi Pereira a elevada entrega ao jogo, mas com abordagens diferentes. O uruguaio tem o sangue quente, e joga sempre com o coração na ponta das chuteiras. O dinamarquês é fiel às origens na frieza que o rosto revela. Será menos empolgante que o sul-americano, mas de fiabilidade idêntica.

P.S. (para seguir): se Wass teve de ser um lateral prudente na selecção dinamarquesa de sub-21, muito se deveu à acção de Nicolai Boilesen, o colega do flanco oposto. Formado também no Brondby, mas há um ano e meio no Ajax, é um ala muito dinâmico, que sobe no corredor sempre que possível. Isto sem perder a noção da sua tarefa prioritária, que é defender, algo que faz com igual acerto, até por conhecer as funções de central. Com apenas 19 anos, é um jogador a ter em conta para uma posição globalmente carenciada.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-táctica do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.