Substituir João Moutinho. Eis aquele que tem sido o grande desafio de Paulo Fonseca como treinador do FC Porto. Fácil de identificar mas difícil de contornar, tendo em conta que há poucos jogadores como o agora médio do Mónaco, e menos ainda enquadrados nas possibilidades da bolsa azul e branca.

Daí que nem seja justo pensar em alguém igual a ele, mas alguém que, dentro do atual plantel portista, seja o mais aproximado possível. E nesse sentido sigo o legado da camisola. O 8 que Moutinho envergava está agora entregue a Josué, e olhando para o perfil de jogo do FC Porto fica a convicção de que o médio formado nos «dragões» mas recuperado em Paços de Ferreira é melhor solução do que Herrera ou Defour.

Moutinho tem o dom de ser maestro e «roadie» ao mesmo tempo. Tão competente a marcar os ritmos como disponível para enrolar os fios que ligam as ideias adversárias. E Josué, embora não ao mesmo nível, tem essa versatilidade.

Um dos problemas do FC Porto tem sido o excessivo número de bolas perdidas na primeira fase de construção de jogo, e Josué pode estabilizar a equipa nesse sentido, sem que esta veja os níveis de agressividade reduzidos. É que o miúdo do Bairro das Saibreiras morde tanto ou mais a língua do que Herrera e Defour. Não será tão rigoroso posicionalmente, é certo, mas não será esse um risco necessário nesta altura?

Das nove ocasiões em que foi titular esta época, Josué só uma vez entrou em campo com a missão de jogar perto de Fernando e Lucho: foi na visita ao Austria de Viena. Na receção ao Zenit entrou como falso ala mas cedo passou para o meio por força da expulsão precoce de Herrera, oferecendo um importante contributo para que a inferioridade numérica fosse, durante muito tempo, muito bem disfarçada pela equipa. Nesse jogo Josué soube procurar a bola junto da defesa e comandar os ataques da equipa de forma sólida e inteligente, sem virar as costas ao esforço defensivo.

O problema de Paulo Fonseca será, porventura, sentir que o lençol não tapa tudo. É que Josué também faz falta na posição em que tem jogado mais. O FC Porto está habituado a jogar com um falso ala, alguém que parte do flanco mas que aparece a criar desequilíbrios na zona central, entre linhas, como Hulk e James. Um papel que Josué desempenhou muito bem no Paços de Ferreira, e que no plantel portista só pode ser assumido por outro jogador, Quintero, de momento indisponível.

A planificação da época falhou nesse sentido. Se Josué era visto como alguém para jogar na zona central, faltou contratar um outro ala. E se a ideia era logo lançá-lo a partir do flanco, então talvez tenha sido depositada demasiada confiança em Herrera, e cedo de mais. E nesse caso torna-se ainda mais estranho o empréstimo de Castro, que até era visto por Moutinho como o principal candidato à sua sucessão. É que Herrera até pode ter muito potencial, mas precisa de tempo. Uma margem de manobra que o FC Porto até costuma dar às suas promessas.

P.S. (para seguir): Enquanto esperam pela afirmação plena de Julian Draxler, agora com 20 anos, os adeptos do Schalke vão entretendo-se com outra pérola da sua formação, que até tem roubado algum protagonismo à figura principal. Max Meyer tem apenas 18 anos e estreou-se na equipa principal só em fevereiro deste ano, mas está a ganhar um lugar de destaque muito rapidamente. A baixa estatura é apenas um mal necessário para uma velocidade muito elevada, e um drible curto imprevisível. Com quatro golos marcados em treze jogos, esta época, é mais um produto muito promissor do futebol alemão.


«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter .