«El Crá» parece estar de volta, para gáudio dos adeptos sportinguistas, à espera da melhor versão de Matías Fernández. Com dificuldades para estabilizar o nível exibicional praticamente desde que chegou a Alvalade, o chileno tem sido um dos principais impulsionadores do bom momento leonino. Mesmo com a timidez que o caracteriza, vai soltando um sorriso. Está mais «leve», fruto da melhor condição física, mas também da principal alteração tática que Ricardo Sá Pinto tem introduzido.

Com Domingos o Sporting jogava preferencialmente em 4x3x3, com um médio mais recuado (Rinaudo) e dois interiores (Schaars descaído à esquerda, Elias à direita). Matías funcionava como alternativa ao brasileiro e ao holandês, para papéis que não o favorecem. Com Sá Pinto apareceu uma variação ligeira mas importante, nos últimos jogos. O Sporting aproxima-se agora do 4x2x3x1, com Schaars um pouco mais recuado, perto de Carriço (nos dois jogos com o City) ou Elias (frente ao V. Guimarães).

A defender, a equipa leonina passou a formar duas linhas de quatro, deixando depois Matías e Wolfswinkel na frente. O desgaste do chileno é bem menor, já que divide a primeira fase de pressão com o holandês (um pressiona o lateral direito e o central do mesmo lado, e o outro fica com o lateral esquerdo e o central próximo). «El Crá» reserva energias para os momentos que o Sporting tem a bola, e aparece entre linhas, como tanto gosta. Esconde-se entre o meio-campo e o setor defensivo contrário, e quando recebe a bola tem normalmente espaço para progredir e criar desequilíbrio. Veja-se o primeiro golo ao V. Guimarães, por exemplo, em que fez a assistência para Wolfswinkel.

A influência de Matías cresce também de bola parada. O chileno falhou um penalty no Bonfim, mas ajudou a derrubar o Man City com dois livres: o que dá origem ao golo de calcanhar de Xandão, e aquele que atirou diretamente para o fundo da baliza de Hart. Com Matías a este nível, Sá Pinto terá de conciliar Carriço, Elias e Schaars. E Rinaudo está para voltar¿

O guia bracarense

Hugo Viana justifica todos os elogios que tem merecido, e a «campanha» que pede o regresso à Seleção. É verdade que o meio-campo da equipa das quinas pede elevada intensidade de jogo, e privilegia um futebol curto e apoiado, mas o jogador do Sp. Braga tem outros argumentos válidos.

Viana não precisa de correrias para, ao jeito de um «quarterback», distribuir jogo. De um ponto mais recuado, e menos sujeito a pressão, lança o ataque. Cabeça levantada, olhos no horizonte, e um maravilhoso pé esquerdo com a precisão de uma mão. O médio minhoto está cada vez mais refinado, aliando o dom que tem a uma enorme inteligência. A tirar proveito das suas virtudes, mas também a esconder os defeitos. Na forma fria como lê o jogo. É a verdadeira referência do Sp. Braga, e um dos melhores jogadores da Liga. Pode até nem ser titular na Seleção, mas é uma alternativa muito válida para um setor onde, na verdade, nem existem assim tantas soluções óbvias.

P.S. (para seguir): tem apenas 19 anos, mas começa a conquistar o seu espaço no Bayern (cumpriu todos os minutos dos últimos oito jogos). David Alaba, esperança do futebol austríaco, é um médio que pode jogar ao meio ou na esquerda, mas que tem sido adaptado por Jupp Heynckes à lateral, tal como Louis van Gaal já tinha feito. Um jogador muito dinâmico e vertical, que parece começar a ocupar o papel que o Bayern queria dar a Fábio Coentrão.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-táctica do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.