Empatar em Olhão é uma coisa que acontece, sobretudo se o visitante for candidato a qualquer coisa.

Sucedeu com F.C. Porto e Sporting, esteve perto de acontecer com o Sp. Braga. Já as equipas do meio da tabela para baixo sentem-se confortáveis. E até conseguem ganhar em Olhão, sem grandes problemas.

Tem a ver com o perfil e atitude da equipa do Olhanense, que não demonstra vergonha em assumir as suas dificuldades perante os grandes. E possui uma defesa sólida e um meio-campo que marca muito bem os adversários, o que lhes retira espaços.

Tudo isto já se sabia e foi de novo observado esta sexta feira, no jogo com o Benfica.

O que já não entende é que nesta fase da competição o Benfica não tenha conseguido encontrar solução para o problema. E, sobretudo, que não tenho atacado a questão desde o primeiro minuto.

Os «encarnados» tiveram três problemas: má entrada em campo, expulsão de Aimar e organização caótica.

A má entrada é inexplicável, com tudo o que está em jogo. Salvo algum problema que desconheço, este tipo de abordagem não resulta de um convencimento de que a coisa acabará por resolver-se. É algo que vai aparecendo com o passar dos minutos sem que as ideias apareçam.

No caso desta sexta, o Benfica precisava de várias coisas que não teve: jogo exterior de qualidade, um meio-campo criativo e avançados que inventassem espaços.

O jogo exterior do Benfica está, hoje em dia, entregue a Maxi. Gaitan joga pouco e para dentro e Nolito nunca pisa a lateral, além de estar a enorme distância do que fez no início de temporada. Emerson não disfarça as limitações.

No meio-campo, Aimar faz a diferença. Mas Jorge Jesus optou por deixá-lo de início no banco, o que ajudou a criar a ideia de que isto era coisa para resolver depois. Witsel está gasto.

Ter dois avançados como Nelson Oliveira e Cardozo é algo que está por provar que faça sentido frente a equipas que não deixam respirar. O paraguaio «só» existe para fazer golos. Quando é preciso trabalhar a jogada, dar opções, procurar tabelas, desaparece. O português simplesmente precisa de espaço, ainda não sabe como relacionar-se com tantos adversários ao seu redor.

A expulsão de Aimar obrigou o Benfica a reagir em esforço. Acabou por ser o período em que pressionou mais, mas percebeu-se que foi só alma. Até porque, último ponto, o Benfica acabou sem organização, com jogadores fora das suas posições, caótico. Desconfio que improvisar não é o caminho mais curto para resolver um desafio.

Salvo melhor opinião, acho que este teria sido um jogo para Capdevila, Saviola, Rodrigo e Aimar. O que teria tido a enorme vantagem, para Jorge Jesus, de efetivamente rodar jogadores e evitar a desculpa fácil do cansaço. Aliás, acho que o treinador do Benfica já deveria ter promovido esta alternância há vários meses. Agora é natural que uns estejam fatigados e outros simplesmente sem ritmo. Gerir bem um plantel é uma ciência que Jorge Jesus ainda não domina por completo.

P.S.: Desde que começou a ficar a zero no marcador (três jogos para a Liga entre fevereiro e março) e a perder pontos, Jesus perdeu a linha habitual de discurso. Já passou muito tempo sobre a promessa benfiquista de não falar sobre arbitragem. Nesta altura, pelo contrário, os árbitros parecem o único ponto na agenda, sem que se detete uma linha coerente de comunicação. De resto, o mesmo sucedeu com a resposta de Jesus a Vítor Pereira sobre os bloqueios. O treinador do Benfica simplesmente caiu no jogo do adversário, ajudando a colocar a questão na agenda da semana. Elementar.