Associacion Civil Cultural e Deportiva Los Cuervos del Fin del Mundo. Argentina, Terra do Fogo, o clube mais austral do planeta. Apenas a algumas centenas de quilómetros anuncia-se a alvura da Antártica, misteriosa confidente, barreira de sonhos e medos.

Depois de ter viajado até Svalbard, no Oceano Glaciar Ártico, o Maisfutebol retoma a expedição e ruma 16 mil quilómetros a sul, no extremo do continente americano.

Na cidade de Ushuaia, 74 mil habitantes, os Cuervos são a paixão de um povo orgulhoso, único ponto de contato entre o isolamento e os centros de decisão do país. Na Argentina, como cá, as fraquezas potenciam as forças e o limite imposto por um clima duríssimo enobrece as intenções.

Criados a partir de uma peña do San Lorenzo, os Cuervos do Fim do Mundo nasceram em 2007 e passaram de clube regional a nacional em poucos anos. Ultrapassaram barreiras impensáveis e disputam o Torneio Argentino C, o quinto escalão nacional, com mais 200 clubes de 22 províncias.

«O nosso crescimento tem sido notável. Somos os mais revolucionários dentro da revolução que se tem vivido no futebol argentino», diz Andrés Almada, presidente dos Cuervos, benfeitor, hincha e assumido bolivariano.

«O Papa torce por nós», clamam os Cuervos

Jogar futebol no Fim do Mundo é, por si só, um feito notável. O complexo desportivo municipal contempla seis campos de futebol. O frio impede o crescimento de qualquer relvado, a terra é gelada, dura como lixa.

Os Cuervos jogam com o imponente Canal de Beagle aos pés e os Andes nas costas. Esfolar os joelhos numa entrada de carrinho, correr com uma bola incontrolável nos pés, sentir a respiração bloqueada pelo peito frio. Jogar futebol no Fim do Mundo é uma experiência sobre-humana.

«No início pensávamos apenas jogar futebol de salão e voleibol. Desportos de pavilhão, precisamente por causa do frio. Mas o futebol tem uma influência tremenda e decidimos aventurar-nos», conta Andrés Almada, médico «nas horas livres».

«Fazer desporto em Ushuaia é duríssimo. No mesmo dia pode nevar, chover, aparecer o sol, e voltar a nevar. É tudo muito instável e as temperaturas podem chegar aos 20 graus negativos», explica o máximo dirigente dos Cuervos.

Não surpreende, por isso, que um dos maiores desafios seja convencer os jogadores a serem assíduos aos treinos. «Aos jogos todos querem vir, claro, mas ter amadores a treinar à noite sob condições terríveis é uma missão heroica».

«No pontapé de baliza a bola não sai da área»

Ushuaia é terra de aventureiros, exploradores, viajantes. Gente acostumada ao estranho, a ter à porta de casa o Farol do Fim do Mundo e a sentir o gelo a cortar as faces. Ali nada encaixa na definição do normal. Muito menos no futebol.

«Há jogos realizados em dias de loucos. No pontapé de baliza a bola sai da área, anda a flutuar no ar e quando cai está novamente na mesma área. E assim se aguentam 90 minutos», explica, de orgulho sorridente, Andrés Almada.

Ninguém mais do que estes meninos, «entre os 19 e os 25 anos», merece ser campeão do mundo. Ou, pelo menos, campeão do Fim do Mundo.

Reportagem sobre os Cuervos na tv argentina:



Jogo interrompido pelas terríveis condições climatéricas: