Andorra, ex-libris dos desportos de Inverno, paraíso fiscal, capricho da natureza no coração dos Pirinéus. Sexto país mais pequeno da Europa, palco exemplar da harmonia social e da qualidade de vida. Berço adoptivo de Manuel Riera, o português vencedor do concurso Soccastars em 2004; palco de segurança extrema e de uma realidade anormal nos dias que correm.
«Sinto-me completamente tranquilo no meu dia-a-dia. Posso sair à noite, levar 200 euros na mão e sei que nada de mal me acontece. O índice de criminalidade é nulo e isso define o país. Pena é que ainda não olhem para o futebol como deveriam olhar. O orçamento anual para uma estância turística ronda os 1,5 milhões de euros, enquanto o bolo total para os clubes de futebol não passa os 200 mil euros», sublinha Riera ao Maisfutebol.
O esquerdino está há duas temporadas no principado, gosta do que vê e já foi convidado a representar a selecção de Andorra. «Até perder toda e qualquer esperança de representar Portugal, não vou aceitar o convite. Sei que até poderia ganhar muito dinheiro, mas o coração é mais importante. Não vou desistir de vestir a camisola da Selecção Nacional.»
Uma vénia a Pepe Mengual
Riera assume-se «tímido por natureza». Inseguro, até. Mas está «melhor». Tudo graças ao homem que elevou o seu futebol a um patamar superior. «Nos Lusitans fui treinador pelo Pepe Mengual, um antigo árbitro internacional. Ele mexeu com a minha cabeça, tornou-se o meu mentor, deu-me confiança. Era apenas um miúdo da aldeia. Fiquei chocado com a minha evolução nas mãos dele.»
Esse boom no seu futebol passou despercebido em Portugal, mas não aos principais emblemas espanhóis. Na temporada passada, Riera foi abordado por responsáveis do Villarreal e do Espanhol. Um aliciamento com sequela anunciada.
«O título com o Sant Juliá cativou a atenção do Espanhol, uma vez mais. Quero estar bem nos dois jogos da Liga dos Campeões e depois logo veremos o que sucede.»
Riera, em nome das vitórias do avô
A origem da alcunha Riera é curiosa. Manuel Machado, nome de baptismo, foi beber a designação ao antigo técnico chileno do Benfica, Fernando Riera.
«O meu avô estava a treinar um clube em França, ganhava muitas vezes e começou a ser apelidado de Riera, pois na altura o Benfica também dominava o futebol português. Foi na década de 60. O nome pegou e quando nasci os meus pais quiseram mesmo chamar-me Riera mas o padre não deixou. Disse que era um nome estrangeiro. Tive de me chamar Manuel, mas mantenho até hoje a convicção que sou Riera. Todos me chamam assim.»
Numa carreira de altos e baixos, passos em frente e outros atrás, a força que inspira Riera advém da família e de dois filmes muito especiais: We Are Marshall, realizado por McG em 2006 e o inesquecível Forrest Gump, de Robert Zemeckis (1994). Até porque, como diz a personagem de Tom Hanks, «A vida é como uma caixa de chocolates. Nunca sabemos o que vamos ter a seguir.»