É difícil encontrar um português em Magaliesburgo que nunca tenha sido assaltado. Roubado ou apenas furtado, com mais ou menos violência, todos já sentiram a violência da criminalidade sul-africana. Mas acordam no dia a seguir e voltam a levantar-se para viver a vida e correr os mesmos riscos.

Aprenderam a dobrar o medo. Faz parte do país: a África do Sul tornou-se a casa deles e eles aprenderam a viver na África do Sul. «Temos de ter certos cuidados. Olhar para ver se vem alguém por detrás, nos semáforos estar sempre a ver se alguém se aproxima, a casa tem alarmes, tem cães, enfim», conta Maria.

Maria é empregada num supermercado e recorda dois assaltos. Uma vez entraram no estabelecimento e apontaram-lhe uma arma às costas. Levaram o que quiseram. Da segunda vez entraram em casa e com as cortinas levaram tudo o que podiam: ninguém estava em casa. «Foi uma sorte ter sido naquela hora.»

Adriano Baptista é dono do supermercado onde Maria trabalha em Magaliesburgo. Ele também já foi vítima de um assalto: num outro estabelecimento, próximo da localidade onde a selecção estagia, conta que «cinco ou seis homens entraram no supermercado, posicionaram-se em vários locais e apontaram-nos as armas.»

Nessa altura Adriano já sabe o que tem de fazer: «Não reagir, deixá-los levar tudo o que quiserem. São criminosos que não são profissionais, assaltam porque não têm nada a perder e estão sempre muito nervosos. Mais do que nós, até. Por isso não vale a pena tentar demovê-los, o melhor é levarem tudo e não tocar em ninguém.»

Depois de ter uma arma apontada ao corpo, Adriano reconhece que é difícil voltar ao mesmo espaço no dia seguinte. «Temos de continuar com o nosso negócio. Sim, é verdade, fica-se assustado, mas há que continuar para a frente. Não podemos parar, temos de andar com a nossa vida e habituarmo-nos a isso.»

A criminalidade faz parte do país, mas nem sequer parte de dentro do país. Pelo menos na sua maioria. «A maior parte dos assaltantes são emigrantes ilegais. São pessoas que vêm da Nigéria, de Moçambique, do Zimbabué. Não têm nada, vêm para cá sem nada e não têm nada a perder. A maior parte deles vem ter com familiares.»

Ângelo Vasconcelos passou pelo mesmo. Tem 35 anos, emigrou para a África do Sul e tem uma empresa de maquinaria de construção. Um dia apontaram-lhe duas armas. «Estava a trabalhar na estrada que faz a ligação com Joanesburgo, afastei-me um pouco e apareceram seis ladrões saídos do mato», conta.

«Um apontou-me uma arma pelas costas e outro pela frente. Estendi-lhe logo as mãos com tudo o que tinha: o telemóvel, a carteira e as chaves do camião. Só pegaram no telemóvel e na carteira, disseram que não queria o camião. No fim ainda agradeceram, ainda disseram obrigado», diz este madeirense.

Depois disso aprendeu a manter a calma. «A maior parte deles são ladrões, não são assassinos. Mas são pessoas que estão debaixo de grande tensão. Por isso disparam à mais pequena coisa.» Ele que aprendeu a lidar com o medo. «Nenhum sítio é seguro. Acontece com toda a gente, em todo o lado. Importante é estar preparado.»

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