A conversa corria naturalmente quando se lançou uma provocação: já lhe disseram que parece um treinador da nova vaga na forma confiante como fala? Juvenal Brandão sorri. «Colocando as coisas dessa forma, não», garante. «Mas já me disseram muitas coisas». Quase todas elogiosas. «Dizem-me que sou muito à frente, que não estavam habituados a uma coisa assim, que vou chegar longe e para não me esquecer deles».
O jovem de P. Ferreira tornou-se um caso mediático por se preparar para iniciar a temporada no nacional de juniores como treinador principal. Com apenas 21 anos, vai orientar a equipa do Freamunde, que este ano se estreia na primeira divisão. O que é um pequeno feito. «Eu acredito em mim, acredito no meu trabalho, tenho ideias concretas sobre o que quero e sei que vou chegar longe», responde. «Com calma vou chegar lá».
«No meu primeiro dia pensaram que era um jogador»
Ao lado do F.C. Porto, do Boavista, do Leixões, do V. Guimarães, do Sp. Braga ou a da Académica, Juvenal Brandão vai orientar miúdos que têm menos três ou quatro anos. «O ano passado, no primeiro dia no Freamunde, até pensaram que era um jogador», sorri. «Depois aceitaram-me e até começaram a admirar-me. Construí com eles uma relação de amizade e de respeito. Formamos um grupo fantástico». Apanhado num desses momentos com o grupo, diz que vai afastar-se para evitar os risos cúmplices. «Passamos muitas horas juntos, preocupo-me com os problemas pessoais deles e conversamos». Só não vão juntos para os copos. «Eles bem tentam, mas não aceito».
Uma história que teve sempre o futebol como companhia
A história de Juvenal Brandão começou bem antes do Freamunde, porém. Natural de P. Ferreira, cresceu numa família de jogadores. «O meu pai, que também se chama Juvenal Brandão, foi jogador do P. Ferreira e o meu tio Malheiro foi jogador do F.C. Porto». O futebol sempre foi uma paixão, portanto. «Com 14 anos comecei a acompanhar todos os jogos do P. Ferreira para a Gazeta de Paços, com 17 anos tornei-me responsável pelo departamento de velhas guardas do clube, no ano seguinte tornei-me adjunto da equipa de velhas guardas e há duas épocas entrei no departamento de futebol juvenil para ser treinador principal das escolinhas e adjunto dos infantis».
Uma experiência que durou apenas meia-época. «Em Fevereiro eu e mais dez treinadores, decidimos sair do clube por não concordarmos com a mudança da estratégia da direcção». Ficou apenas meio ano sem clube. «Na época seguinte fui chamado para ser adjunto dos juniores do Freamunde. As coisas correram bem e subimos à primeira divisão. Este ano o treinador principal ficou em exclusivo como adjunto de Jorge Regadas na equipa sénior e eu fui convidado a ser treinador dos juniores». Uma actividade que divide com o curso de Gestão de Desporto no ISMAI e com o curso de treinadores, no qual já vai no segundo nível. «A prioridade é o futebol», diz.