O nome denuncia-o de imediato: Vaz Té. Não é um apelido comum e percebe-se que há laços familiares entre Ricardo e Fernando. «Somos irmãos», conta Fernando. Ele que joga no Mirandela e ainda não alcançou a dimensão do mano mais velho, mas ele também que está no futebol com a mesma descontracção.

No currículo tem até uma história curiosa: já passou pelo United of Manchester. Para os mais distraídos, o FC United of Manchester é o clube fundado em 2005 por adeptos dissidentes do Manchester United, descontentes com o rumo dado ao clube pelo milionário Malcolm Glazer. «Estive lá um ano e tal», conta.

Fernando Vaz Té diz que foi um ano e tal «fantástico». «É um clube diferente de todos os outros. Jogava na sétima divisão, mas tinha uma mentalidade de clube de topo. Era muito organizado, muito profissional, os dirigentes estavam lá pelo prazer do futebol, não ganhavam dinheiro e davam tudo pelo clube», lembra.

Fernando foi lá parar por influência do mano Ricardo. «Vivia com o meu irmão em Bolton e jogava em Manchester. Foi bom. Até a rivalidade dos adeptos para com o Manchester United era engraçada. Era uma rivalidade amigável, eles respeitavam a dimensão do grande Manchester, mas picavam-se muito.»

De Manchester para... Mirandela (com sustos pelo meio)

No United of Manchester jogou com colegas formados no Man. United: «Havia até um guarda-redes que fez uma época no Bolton.». Mas esta, como todas as histórias, teve um fim. «Estava de férias em Portugal, a jogar num torneio de rua, quando apareceu um empresário a prometer-me um teste no Málaga.»

«Fiz uma semana de testes no Málaga mas, segundo ele, o clube estava com problemas financeiros e não podia assinar comigo. Disse para ir treinar no Rio Maior enquanto esperava por uma proposta do Estrela Vermelha». A proposta nunca chegou e Fernando Vaz Té cumpriu mesmo a temporada toda no Rio Maior.

No ano seguinte foi para o Chipre, onde diz que teve um contrato financeiramente bom. «Fiz um bom campeonato e esse empresário disse-me que tinha propostas da Roménia e da Grécia. Isso subiu-me à cabeça e fui recusando várias propostas. Até que fechou o mercado de transferências e eu sem clube.»

Fernando Vaz Té achou então que era uma boa altura para romper com o empresário espanhol. «Foi depois disso que surgiu o Mirandela. Disseram-me que era um passo atrás para depois dar dois em frente, que aqui ia ter oportunidade de jogar e de me mostrar. Por isso assinei por cinco meses, até ao fim da época.»

A felicidade em Trás-os-Montes, onde ao lado está um amigo

Os cincos meses correram tão bem que Fernando renovou por mais uma época. Mesmo que em Mirandela não haja luxos. Não há aliás ordenados acima dos 500 euros e os jogadores dividem um apartamento com nove colegas. «Foi complicado aceitar essas condições ao início, mas o dinheiro não é tudo na vida», diz.

«A felicidade é mais importante e o ambiente na casa é espectacular. É verdade que Mirandela é uma cidade pequena, mas habituei-me a isto. Como se costuma dizer, mais importante do que o sítio onde estás é quem está ao teu lado. É uma cidade muito fixe, é tranquila e o pessoal é carinhoso», refere.

Por isso diz que gosta de estar onde está. O que não quer dizer que fique muito mais tempo. Está em final de contrato e aos 25 anos ainda tem muitos sonhos para cumprir. «A minha ambição é chegar à Liga e sinto que tenho qualidade para isso. Mas o futuro a Deus pertence. Eu só quero continuar a jogar futebol como sei.»