A história acidentada do Campeonato Mundial de Clubes já o tornava numa das competições mais mal-amadas da história recente do futebol internacional. A possibilidade, consumada nesta quarta-feira, de ter como vencedor uma equipa convidada – e não detentora de qualquer título continental – não ajudou em nada a reforçar a credibilidade deste projeto da era Blatter.

Mas a vitória desta noite do Raja Casablanca, em Marraquexe sobre o At. Mineiro (3-1) teve, pelo menos, o condão de deixar para a posteridade um momento em que as prioridades voltaram a estar certas. Foi quando, interrompendo por momentos a euforia dos festejos pelo inesperado triunfo sobre o campeão sul-americano, os jogadores marroquinos rodearam Ronaldinho Gaúcho e, como crianças extasiadas perante um ídolo, foram saqueando o craque brasileiro, em busca de recordações.



Valha a verdade que, mesmo num At. Mineiro que durante 90 minutos se mostrou alérgico a converter as oportunidades de que dispôs, Ronaldinho tinha assinado o momento mais mágico da noite: um livre direto, com uma parábola acentuada, digna dos seus melhores tempos, a bater no poste e a fazer uma momentânea igualdade. Por essa altura, pensava-se que os brasileiros, cujos adeptos ao longo da semana já projetavam a final de sonho com o Bayern Munique, tinha feito o mais difícil para se tirarem de apuros.

Mas os nervos estavam à flor da pele: um minuto antes do empate, Marcos Rocha, ao ser substituído, deixou um desabafo com bolinha ao canto do ecrã, na direção do seu treinador, Cuca, que já estava de saída para o futebol chinês. Talvez por esse mal-estar, por essa incapacidade para traduzir em campo um favoritismo anunciado, o At. Mineiro continuou a mostrar-se vulnerável, acabando por cair com dois golos tardios – embora o do 2-1 tenha nascido de um penálti inventado pelo árbitro espanhol Velasco Carballo.

Para todos os efeitos, os marroquinos, convidados na condição de organizadores – para uma competição que, logo à partida, tem um problema estrutural com o número ímpar de concorrentes – voltaram a surpreender, depois de nos quartos-de-final terem afastado no prolongamento os mexicanos do Monterrey, legítimos campeões da zona Concacaf.

Assim, por linhas tortas, o Raja vai tornar-se a segunda equipa africana a jogar uma final de Campeonato do Mundo de clubes, depois dos congoleses do Mazembe, em 2010, terem sido atropelados pelos italianos do Inter de Milão. Sem representante sul-americano para medir forças, sai ainda mais reforçado o ultrafavoritismo do Bayern Munique, que na véspera tinha despechado, em ritmo de cruzeiro, os chineses do Guanghzou Evergreen (3-0).

A menos que a surpresa aumente a escala até assumir dimensões bíblicas, e a final de sábado nos presenteie com o primeiro campeão mundial de clubes de um país africano, parece estar cada vez mais encaminhada a possibilidade de Pep Guardiola somar o tri, depois dos triunfos conseguidos pelo Barcelona, em 2009 e 2011. Mas – por mais esforços que a FIFA faça para nos convencer do contrário - essa será sempre uma linha secundária no seu currículo, recheado com troféus bem mais importantes. A reação dos jogadores do Raja, de genuína idolatria perante a verdadeira grandeza de um Ronaldinho em fim de carreira, acabou por ser a demonstração mais eloquente dessa evidência.