Nic Coward, secretário-geral da Premier League, foi uma voz enérgica na conferência sobre Direitos de Propriedade Intelectual no desporto, que decorreu nesta quinta-feira em Lisboa. A sua interpretação sobre a passividade dos legisladores europeus, por exemplo, não tem meias palavras: «As decisões políticas não avançam porque há demasiados estados europeus que, graças a monopólios da exploração de apostas, ganham dinheiro com o que é propriedade de outros», acusa. A conversa que manteve com o Maisfutebol foi para lá desse tema, ou não fosse o representante de uma da marcas comerciais mais fortes do futebol mundial.

Os problemas de violação de direitos de propriedade afetam todas as Ligas profissionais, qualquer que seja a sua dimensão?

- Claramente, o problema não tem a ver com a dimensão, nem com a modalidade, como vimos com o European Tour, de golfe. As apostas transnacionais em provas desportivas são uma nova atividade económica em curso na Europa, que tem de ser alvo de regulamentação. Toda a gente concorda que os direitos de transmissão televisiva sejam pagos. Que haja indivíduos e empresas a lucrar com uma atividade que explora comercialmente provas desportivas, sem partilhar com os organizadores, é um princípio errado. Essa é a base de tudo.

Marcas fortes como a Premier League não retiram espaço e valor comercial a Ligas mais modestas?

- Pelo contrário. O impacto das grandes competições é cumulativo, não exclui nem retira espaço. Quem se interessa pela Premier League não perde o interesse por outras competições. Em muitos países africanos a paixão pelo futebol inglês é enorme, e ninguém duvida de que esse é um fator de crescimento das Ligas locais.

A globalização não ameaça a identidade das Ligas nacionais? O Manchester United não tem mais em comum com o Bayern do que com o Wigan, por exemplo?

- Mais uma vez, a nossa experiência diz-nos o oposto. Não creio que o cenário de Ligas transnacionais seja uma ameaça. Em Inglaterra a base de adeptos locais é fantástica e temos taxas de ocupação de 95 por cento. Há muitos aspetos a prender as pessoas, para lá da dimensão relativa dos clubes. E nós fazemos um grande esforço de comunicação para alimentar essa ligação.

A Premier League já licenciou o acesso a fotos dos seus jogos, depois recuou. Não há uma zona de conflito entre direito à informação e a exploração comercial?

- Acredite que não temos qualquer interesse em restringir a informação. Por isso trabalhamos em conjunto com as organizações de media para encontrar equilíbrios. Ajustes como esse continuam a fazer-se regularmente, sem conflito. Desde que ninguém espere a exploração comercial gratuita de um produto que custa muito dinheiro.