Alex Stepney prestou a sua homenagem a Eusébio no dia em que o Pantera Negra se despediu da vida. O antigo guarda-redes do Manchester United não esquece o aplauso do português após uma intervenção decisiva na final da Taça dos Campeões Europeus de 1968. O Benfica perdeu o jogo no Estádio de Wembey, após prolongamento (4-1).

Num depoimento recolhido pelo
The Guardian e disponibilizado pelo jornal inglês ao  Maisfutebol, Stepney faz o que não fez naquele instante que perdurou na memória coletiva. Depois de travar o remate de Eusébio, com 1-1 no marcador, o guarda-redes nem se apercebeu que foi aplaudido pelo adversário, afastando-se no momento em que o King tentou cumprimentá-lo.

«Depois de fazer aquela defesa, não me apercebi do que estava a acontecer junto a mim, sinceramente. Faltavam poucos minutos para o final e eu queria iniciar um contra-ataque, portanto enviei a bola para o Tony Dunne. Vi algo pelo canto do meu olho mas não percebi ao certo o que era», esclarece, acrescentando: «Só mais tarde, quando vi na televisão, é que percebi o que tinha feito Eusébio. Tinha ficado ali a aplaudir-me! Bem, isso demonstra o tipo de pessoa que ele era, o respeito que ele demonstrou por mim e pelo futebol foi tremendo.»

Alex Stepney foi recolhendo informações preciosas sobre Eusébio antes da famosa fina de 1968. «Um ano antes da final da Taça dos Campeões Europeus de 1968, o Manchester United jogou contra ele e contra o Benfica num jogo de exibição em Los Angeles. Tínhamos acabado de vencer a Liga inglesa. Nesse jogo, ele marcou-me um par de golos.»

«Eu não o sabia nessa altura, mas o que aprendi nesse dia ao defrontar Eusébio acabou por ser extremamente útil em maio, no estádio de Wembley. Isso ajudou-me, certamente, a ter o desempenho que tive na final da Taça dos Campeões Europeus», reconhece.

O antigo guarda-redes prolonga o raciocínio: «Com quanta frequência se consegue ter pela frente jogadores verdadeiramente de topo? Eu tinha ouvido tudo sobre Eusébio e tinha visto vários jogos dele na televisão, quer no Campeonato do Mundo de 1966, quer quando o Manchester United venceu o Benfica por 5-1, no ano anterior à minha chegada ao clube. Usei tudo isso quando o defrontei.»

«Sabia que ele ia querer fuzilar a baliza»

«Todo esse conhecimento permitiu-me ter uma hipótese naquela defesa perto do fim da Taça dos Campeões Europeus, quando o jogo ainda estava 1-1. Uma defesa que perdurou no tempo», remata.

Chega então o momento decisivo. Bem perto do final do tempo regulamentar, Eusébio surge à entrada da área, com a baliza do Manchester United à sua mercê. Stepney era o derradeiro obstáculo. «O relvado de Wembley, nessa altura, era lento e pesado. Quando a bola vinha pelo ar, achei que teria 55 por cento de hipóteses de chegar a ela primeiro. Porém, a bola travou e o Eusébio chegou primeiro. Mesmo assim, por ela ter parado um pouco, tive a oportunidade de recuar um pouco e colocar-me na melhor posição.»

«Eu sabia que ele ia querer fuzilar a baliza, porque era dessa forma que ele marcava grande parte dos seus golos. Isso ajudou-me», admite. Eusébio atirou em força, com o pé esquerdo. O dono da baliza do Manchester United encaixou no peito.


O United foi a primeira equipa inglesa a conquistar a Taça dos Campeões Europeus, chegando ao 4-1 no prolongamento. Anular Eusébio era fundamental no encontro decisivo. «Na final, a nossa missão era travar Eusébio e sabíamos que dessa forma teríamos mais chances de levantar o troféu europeu. Na primeira parte, ele marcou um livre e a bola bateu na trave! Ele era daqueles jogadores, como Bobby Charlton, que tinha um pontapé fulgurante! A bola rematada por ele nesse livre bateu na trave e veio para trás, saindo da área. Isso prova a potência do seu remate.»

«Depois daquela final ainda nos encontrámos mais três ou quatro vezes. A última vez foi quando o Manchester United jogou com o Benfica, há dois anos, na fase de grupos da Liga dos Campeões. Antes, na época 2005/06, alguns de nós fomos a Portugal como convidados do United e do Benfica. Almoçámos com alguns deles e, no jogo em nossa casa, ele veio a Inglaterra. Foi ótimo estar ao lado dele», acrescenta Alex Stepney.

O antigo guarda-redes inglês, atualmente com 71 anos, continuou a ouvir falar de Eusébio. Mesmo nos Estados Unidos da América: «Ele era um cavalheiro. Quando deixei o United em 1979 e fui jogar para a América, para os Dallas Tornado, estava na mesma equipa que António Simões. Falávamos bastante e ele dizia-me o grande homem que Eusébio era, o prazer que tinha tido em jogar ao lado dele.» 

«Eusébio foi certamente um dos maiores nomes deste desporto e marcar mais de 700 golos pelo seu clube é algo incrível. Não importa quem seja, em que era jogues. Conseguir algo assim é extraordinário, sobretudo no nosso tempo, quando as bolas eram mais pesadas e os relvados não eram como são hoje. Tive o grande prazer e a honra de jogar conta ele», remata Stepney.