Acácio Alfredo Casimiro tem 61 anos e passou 50 deles em contacto com uma bola de futebol. Ficou conhecido por jogar muitos anos ao serviço do Boavista, mas a fama que o acolhe é a sua idoneidade para treinar.

Como técnico passou pelo Boavista, Leixões, Estrela da Amadora, Guimarães e até foi chefe do gabinete de prospecção do Futebol Clube do Porto a convite de António Oliveira. Foi para o Bétis de Sevilha mas a sua passagem por Espanha foi rápida, pois teve que tomar a decisão mais difícil da sua vida: emigrar para um futebol completamente diferente.

Nos últimos doze anos Casimiro, como gosta de ser tratado, treinou na Tunísia, Gabão, Líbia, Marrocos, Golfo Pérsico, Kuwait, China e Irão. Vê a mulher e o filho duas ou três vezes por ano, mas as saudades da família não são tão fortes como as saudades de treinar, competir, jogar, vencer.

O treinador português aceitou partilhar ao Maisfutebol algumas experiências que o marcaram nos últimos anos.

«Acabei agora de almoçar com a equipa» confessou. «Amanhã se perdermos por menos de quatro zero estamos novamente na primeira divisão do campeonato do Irão».

Casimiro está actualmente ao serviço do Sanat Naft Abadan, equipa iraniana que já tinha treinado anteriormente: «Será a segunda vez que vou pôr o Sanat na primeira divisão. Já cá tinha estado e subi a equipa. Depois saí para a China e eles voltaram a descer até que me convidaram para fazer com que eles voltassem à primeira divisão. Ganhamos 5-1 na primeira mão e amanhã vamos jogar a segunda mão. Penso que vou subir outra vez a equipa».

Nos últimos 12 anos nem todos os momentos foram de felicidade. As diferentes culturas, a temperatura, os fusos horários dos países asiáticos fizeram Casimiro engrandecer a cada dia que passa.

«Tive que me adaptar a muita coisa. Cheguei à China e não sabia comer com dois paus, não sabia me vestir como eles se vestem, não percebia uma palavra de chinês. Tinha uma folga por mês e trabalhava 15 horas por dia. Às vezes a experiência vai-nos castigando com estas situações. Neste últimos doze anos tive que me adaptar a diferentes culturas, às temperaturas e à forma de vestir. Por exemplo, no Irão não posso andar de calções e não posso beber álcool, não posso comer carne de porco, nem posso olhar para as mulheres em público. É uma mentalidade muito diferente, tenho que respeitar os regimes. Uma das fortunas que tenho, são estas experiências que passaram por mim. Nos jogos dos grandes do Irão eles têm 120 mil pessoas dentro do estádio e 30 mil cá fora à espera de uma vaga», lembrou.

Confrontado com as diferenças entre o futebol português e o futebol do continente asiático, o treinador português foi claro: «É tudo igual, treinava o Guimarães ou o Estrela e até o Real Madrid como treino aqui. As tácticas são iguais, os métodos de treino são iguais, só muda a mentalidade. Eu treino para jogar, não jogo para treinar», concluiu.