Detesto o antijogo.

Mas hoje escrevo para defender o antijogo.

Começo por questionar a palavra. Defender, defender muito, defender com tudo não é fazer antijogo. É outra forma de jogar. É fazer 50 por cento do jogo. E é legal, as leis permitem que os jogadores fiquem todos junto à sua área. Em cima da linha de baliza, se quiserem. É permitido. Cabe ao árbitro acrescentar o tempo que se perde quando se faz antijogo.

Durante anos, as equipas italianas ficaram conhecidas pelo pouco que jogavam. Fechadas, à espera que o adversário se cansasse de bater contra a parede. Na semana passada o Manchester United foi a Madrid e passou 45 minutos a pensar sobretudo em não deixar o Real jogar. Até podia ter vencido, se Van Persie tivesse aproveitado as quebras de concentração dos adversários. Não foi bem antijogo, mas foi de certeza abordar um jogo a partir da defesa. Há uns anos o Inter de Mourinho, com dez, estacionou o avião em Camp Nou e chegou à final da Liga dos Campeões. Onde jogou bem e ganhou.

O antijogo nunca é bonito, mas por vezes é a única saída.

Assim, quando oiço Jorge Jesus criticar o antijogo sou obrigado a lembrar ao treinador do Benfica o básico: faz parte e nenhum treinador pode dizer que desta água não beberá.

A questão, acho, não é tanto criticar o antijogo. O interessante, no caso do Benfica-Académica, é tentar perceber se Pedro Emanuel precisava de ter jogado assim. Se esta equipa precisa de passar esta imagem.

Todos sabemos que o Benfica, como por exemplo o Real Madrid, fica mais feliz quando dispõe de espaço. Tem jogadores que correm muito e partem depressa da sua área para a do adversário. Sem Cardozo e Matic, e sobretudo sem Aimar e Carlos Martins em pleno, o Benfica sente dificuldades quando precisa de trocar a bola, ser paciente.

A Académica bloqueou muito bem as laterais e foi forte no meio. Como o Benfica desperdiçou muitas bolas paradas (sobretudo cantos), o jogo decorreu com escassas oportunidades. Os de Coimbra defendiam ao mesmo tempo que ajudavam o tempo a passar. Nunca deram qualquer sinal de entusiasmo pela baliza de Artur.

Do meu ponto de vista, Pedro Emanuel levou a estratégia ao exagero. Não é de hoje, mas olho para o plantel da Académica e vejo ali potencial para fazer melhor. Na frente há jogadores de enorme qualidade. No meio-campo também. Talvez a defesa seja o setor menos equilibrado, mas mesmo assim nada especialmente preocupante.

O treinador saberá melhor, mas do meu ponto de vista a Académica devia desejar mais dos jogos. O que fez na Luz foi desperdiçar uma oportunidade para crescer e isso é algo que não entendo. Há duas épocas em Coimbra, Pedro Emanuel já ganhou uma Taça de Portugal, o que é fantástico, mas era legítimo que jogasse melhor. Devia estar ao nível de Paços de Ferreira, Rio Ave ou pelo menos Vitória de Guimarães. Não está, acho, porque é a primeira vítima do antijogo.

P.S.: Jesus teve duas oportunidades de explicar o que se passou no final do jogo. Em ambas questionou o interesse da pergunta. Edinho, pelo contrário, relatou a sua versão dos factos, que me pareceu verosímil. Alguém devia explicar a Jesus que um treinador do Benfica não deve comportar-se assim.