Ponto prévio: cuidado com o Boavista. Cinco vitórias consecutivas sustentadas por um futebol do mais fino recorte técnico. É uma equipa sem lirismos. Joga bem, mas não se deixa embebedar pela fantasia. Sabe ser pragmática, às vezes cínica, consegue subir e recuar em função do adversário e asfixiá-lo na melhor investida. A Académica caiu na teia perante uma pantera bem mais experiente e que está a ser a grande sensação da segunda volta.
Num jogo de picos, em que os axadrezados dominaram na primeira parte mas deram a iniciativa ao adversário após o intervalo, o génio de João Pinto emergiu num desafio nem sempre bem disputado. Dois golos do veterano avançado selaram o resultado e colocam os estudantes numa situação difícil na tabela classificativa. Deu para ver que a crise de confiança é uma expressão a condenar a equipa de Coimbra, que somou erros defensivos fatais. E os erros pagam-se sempre muito caro¿
Veneno de João Pinto
Indo aos factos: primeira parte insossa depois de um quadro que prometia muito em função dos últimos resultados dos dois adversários. Impressionou a dificuldade da Académica em descobrir o caminho para chegar à baliza contrária. Os estudantes foram uma equipa macia e sem improvisação no último terço do terreno perante um Boavista sólido na sua defesa e com Ricardo Silva a comandar todas as operações. E com um meio-campo acutilante e que soube apoiar um ataque venenoso e eficaz.
Num jogo descolorido, os axadrezados somaram mais oportunidades de perigo antes do intervalo e beneficiaram do poder letal de João Pinto, um dom que nem todos os pontas-de-lança são capazes de revelar. Curiosamente, o experiente jogador actuou no eixo do ataque e marcou um golo de cabeça (44m) que colocou a nu a fragilidade defensiva de um adversário apático. Erro de NDoye. Bem mais alto do que João Pinto não impediu o cabeceamento deste.
Coragem depois do intervalo
Chegou o intervalo e Nelo Vingada mudou o figurino para melhor. A Académica foi uma equipa bem mais atrevida e que passou a incomodar os axadrezados que tiveram de rectificar posições na sua defesa para manter a vantagem de um golo. Entrou Serjão e os estudantes passaram a ter duas referências ofensivas na grande-área e o guarda-redes William teve de se aplicar para manter o resultado.
O Boavista deu a falsa aparência de adormecido. É verdade que passou a ser uma equipa muito mais pragmática e consciente de que tinha de equilibrar o meio-campo para partir em direcção à baliza em contra-ataque. Foi esta a fórmula que permitiu a João Pinto ampliar a vantagem para 0-2, na sequência de um passe bem medido por Paulo Jorge e numa altura em que a Académica estava mais perto do empate. A treze minutos do último apito do árbitro, o jogo terminou naquele instante. Obra de João Pinto.