Goleadores. Uma espécie em vias de extinção em Portugal. Que o diga Domingos Paciência, antigo avançado do F.C. Porto e da Selecção Nacional, que foi o melhor marcador do campeonato português na época de 1995/96. O agora técnico da Académica tem uma visão muito própria sobre o desaparecimento de jogadores talhados para o golo e de como se fazem atletas com jeito para os marcar. «Para se ser goleador, é preciso nascer-se já com essas qualidades. É espontâneo. Pode-se tentar melhorar, mas nunca se consegue ser eficaz a cem por cento», garante, com conhecimento de causa, o jovem técnico.
A explicação para as dificuldades em encontrar artilheiros veio logo de seguida: «Hoje em dia, não é fácil golear porque houve uma alteração na forma de trabalhar, que agora privilegia certos aspectos como a organização defensiva, as transições e a recuperação em bloco. Isso leva a que se concedam cada vez menos espaços. O futebol está muito diferente de há 15 anos, muito mais táctico. E os jogadores não têm tanta qualidade, porque deixou-se de lhes dar liberdade, de dar ênfase às capacidades técnicas. Logo, quem consegue fazer algo diferente, vale muito dinheiro e pouco tempo fica por cá. Os goleadores, então, são os mais caros.»
O técnico da Académica falava na antevisão do jogo com o Marítimo, este domingo, no Funchal, um jogo que classifica de difícil mesmo tendo em conta o mau arranque de época dos insulares: «Ainda vai ser mais complicado porque o adversário passa por uma fase menos boa e tem necessidade de pontos. Como joga em casa, a pressão será ainda maior. Esperamos manter a disponibilidade, concentração e grande rigor, que foram a base da nossa última vitória.»
Domingos deixou ainda bem claro que poderá fazer mudanças no onze, não se mostrando particularmente adepto da velha máxima segunda a qual em equipa que ganha não se deve mexer. «Quando se trabalha para os objectivos da Académica tem de ser assim. Procuro escolher os jogadores em função do adversário. Claro que, quando falamos de um grande, que tem de impor o seu jogo, uma forma muito marcada de jogar, e tem grande dose de favoritismo, ai sim, penso que se deve mexer pouco na equipa», justificou.
«Lito é um capitão exemplar»
A possível renovação de Lito, cujo contrato termina no final da época, foi um dos temas da semana. Domingos Paciência não esconde que gostava de continuar a contar com o cabo-verdiano: «É um profissional a cem por cento. É um capitão exemplar, um dos cinco que escolhi esta época. Quando se tem este brio profissional, é sempre de manter um jogador assim, porque é uma referência para quem chega.»
O técnico congratulou-se ainda pelo regresso da claque Mancha Negra aos jogos: «É uma boa notícia para toda a gente na Académica. Quantos mais forem a apoiar-nos, melhor. A Mancha sempre nos acompanhou, até nos jogos com menos importância, de preparação, por exemplo. Desde que cá estou, não me lembro de os ver a assobiar a equipa.»
A comitiva da Académica parte na manhã deste sábado para Lisboa, onde irá apanhar o voo para a Madeira. Durante a tarde, haverá ainda um treino, já em solo insular. Edson, com uma inflamação num joelho, é o único jogador indisponível.