Foto: Foto-Arte (Fafe)
ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA DE FAFE
Estávamos em 1988. Fafe e Famalicão disputavam de forma acesa a subida ao principal escalão do futebol português e, na fase decisiva, a equipa famalicense vence, na secretaria, um jogo em Macedo de Cavaleiros que acabara ao intervalo por causa de uma invasão de campo.
A vitória foi decisiva para a confirmação da subida do Famalicão, mas o Fafe alegou que a invasão de campo foi encenada a troco de dinheiro. O caso acabou por ser espoletado pelo próprio presidente do Macedo de Cavaleiros, António Veiga, que veio a público denunciar um suborno que tinha recebido da equipa de Famalicão para facilitar a vitória.
João Freitas, na altura presidente do Fafe, fala de tudo sem hesitar, em conversa com o Maisfutebol: «A nossa passagem pela I Divisão foi uma golpada forte na dignidade do futebol. Não nos queriam deixar subir.»
«Um amigo meu de Chaves foi a Macedo de Cavaleiros ver o jogo e ligou-me logo a dizer que nunca tinha visto nada assim. Filmou tudo, mas, já se sabe, não serviu de prova. Via-se o [António] Veiga a encher os bolsos, parecia um chouriço. Negociaram tudo para o jogo acabar ao intervalo», acusa.
Uma das questões que sempre se colocaram em torno deste caso foi sobre os motivos que levaram António Veiga a revelar o suborno. João Freitas diz que houve um desacordo de verbas: «Prometeram-lhe dez mil contos e só lhe deram cinco mil.»
A verdade é que o caso atirou com o Famalicão (e o Macedo de Cavaleiros) para a III Divisão e levou o Fafe, pela primeira e única vez na história, ao principal escalão. Mas não ficou por aqui. Um ano depois, António Veiga voltou a surgir em público a garantir que, afinal, nunca tinha havido suborno e que tudo não passara de uma vingança pessoal contra o presidente do Famalicão António Costa.
O caso foi novamente julgado, desta vez favoravelmente ao Famalicão, que voltou à I Liga em 1990/91, obrigando os dirigentes a alargar o campeonato para 20 equipas. Já não encontrou o Fafe, que descera ao segundo escalão, entretanto.
Um Fafe-Portimonense na I Divisão:
E não voltou. João Freitas lembra o que diz António Fiusa, presidente do Gil Vicente, sobre a II Divisão: «É muito mais fácil ficar na I Divisão do que subir.»
António Valença, que passou a treinar a equipa no ano do regresso ao segundo escalão, confirma o que diz o presidente da altura. «Eram II Divisões fortíssimas. Podíamos ombrear, perfeitamente, com qualquer equipa até meio da tabela na I Divisão», garante.
E depois, há a questão financeira, como explica João Freitas: «Mesmo descendo, na I Divisão tivemos lucro e nos outros anos, olhe, tive de meter no clube à volta de 50 mil contos. Depois, para tentar reaver algum negociei um espaço de publicidade que existe junto ao campo. Rendeu-me 250 euros…»
Cinco mil à espera de um árbitro
A história da AD Fafe tem outras passagens ilustres. António Valença, que além de treinador foi jogador na década de 70, lembra que nessa altura o clube disputou duas Liguilhas de acesso à I Divisão e também esteve duas vezes nas meias-finais da Taça de Portugal.
«Perdemos uma nas Antas por 3-0 e outra aqui em Fafe, com o Sporting, no prolongamento. Era o Sporting do João Rocha. Tinha o Damas, o Manuel Fernandes, o Jordão», conta.
O golo da vitória surgiu de grande penalidade e os adeptos do Fafe não se contiveram. «O penalty não existiu. Foi inventado», garante António Valença.
O pior foi depois. «Foi uma revolta enorme nas bancadas. Ninguém arredava pé no fim do jogo. Estavam ali cinco mil pessoas à espera do árbitro, que era um individuo de Coimbra, julgo», continua.
Solução? «O árbitro teve de fugir vestido de polícia, pelas traseiras do estádio», atira Valença, entre risos.
Não é à toa, aliás, que na região há um ditado que diz: «Com os de Fafe ninguém fanfa».