A Polónia ultrapassou pela primeira vez uma fase de grupos de um Campeonato da Europa e já chegou aos quartos de final da competição. Excelente campanha para quem nunca tinha vencido um jogo no torneio de Seleções do Velho Continente.

Adam Nawalka está a levar a seleção polaca a um patamar histórico. Mas quem é este homem, praticamente desconhecido fora do seu país, que orienta o adversário de Portugal?

Curiosamente, Nawalka é um antigo jogador com bons recordações das equipas das Quinas.

A seleção nacional cruzou-se com o atual técnico polaco na qualificação para o Campeonato do Mundo de 1978.

Adam Nawalka destacava-se no Wisla Cracóvia como um médio extremamente disciplinado e combativo. Tinha apenas 19 anos quando se estreou pela Polónia em jogo particular frente à Hungria. O médio saiu do banco ao intervalo e marcou logo depois.

Por essa altura a seleção polaca estava na frente do seu grupo de qualificação para o Mundial. O grande adversário era…Portugal. Os lusos, à época orientados por José Maria Pedroto, foram surpreendidos no arranque da qualificação e nunca mais conseguiram recuperar a desvantagem.

A vitória da Polónia em pleno Estádio das Antas, ainda em 1976, foi decisiva. 0-2, com bis de Grzegorz Lato.

Portugueses e polacos garantiram triunfos nas jornadas seguintes e a única hipótese de reviravolta – o Mundial só estava ao alcance do primeiro classificado de cada grupo – surgiria em Chorzow.

A equipa das Quinas teria de vencer na Polónia para continuar a alimentar a esperança de qualificação.

No onze da seleção local surgiu Adam Nawalka, já com 20 anos. Depois de algumas presenças como suplente utilizado, o médio era lançado num jogo decisivo onde bastava aos polacos garantir um ponto. Assim foi.

José Maria Pedroto tinha abandonado o cargo de selecionador e o milagre estava dependente de Juca. Portugal tinha vencido na Dinamarca (2-4) e preocupou os locais. Tanto que se decidiram pela mudança de estádio, de Cracóvia para Chorzow, onde o ambiente seria mais infernal.

Reinava alguma instabilidade na Seleção lusa, não só pela saída de Pedroto, mas igualmente pela pouca importância dada à equipa das Quinas por comparação com os clubes. Ainda por cima, Jordão saiu do onze em cima do apito final, oficialmente por indisposição.

A Polónia chega à vantagem num canto direto de Deyna e Portugal não foi além de um empate (1-1), com um golo de Manuel Fernandes na etapa complementar. O capitão dessa equipa era…Humberto Coelho, atual vice-presidente da Federação.

Eis os onzes:

Portugal: Bento; Gabriel, Humberto Coelho, Laranjeira, Murça, Octávio Machado, Toni, João Alves, Chalana (Seninho, 62m), Manuel Fernandes e António Oliveira.

Polónia: Tomaszewski; Wawrowski, Zmuda, Maculewicz, Rudy, Kasperczak, Deyna (Elrich, 84m), Nawalka, Masztaler (Boniek, 38m), Lato e Szarmach.

A seleção portuguesa voltava a falhar a presença numa grande competição (desde o Mundial de 1966). O regresso ficou adiado para o Europeu de 1984 e o Mundial de 1986.

Para a Polónia era mais uma demonstração de qualidade geracional. Depois do terceiro lugar no Campeonato do Mundo de 1974, os polacos estavam novamente na fase final do torneio.

Adam Nawalka disputou cinco dos seis encontros da sua seleção na Argentina.

O médio do Wisla Cracóvia ajudou a Polónia (onde ia brilhando um jovem Boniek) a garantir o primeiro lugar no Grupo 2, à frente da Alemanha Ocidental, mas caiu na fase seguinte perante a anfitriã Argentina e o Brasil.

Ainda assim, foi o período mais entusiasmante da carreira de Nawalka, que chegou a ser premiado com a presença no melhor onze do Mundial de 78.

O atual selecionador polaco começou a ser atormentado por lesões e terminou a carreira prematuramente. Adam Nawalka ainda participou na fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 1980 mas foi perdendo o brilho e desapareceu da órbita da seleção.

Após uma série infindável de lesões e operações, o médio viu-se obrigado a terminar a carreira profissional em 1984, a caminho dos 27 anos.

Nawalka despediu-se do Wisla Cracóvia e aceitou um convite para emigrar para os Estados Unidos da América. Ali, dividiria o seu tempo entre jogos semi-profissionais no Polish-American Eagles SC e trabalhos diversos como o corte de árvores em torno de linhas de alta voltagem.

Alimentando o sonho de ser treinador de futebol, Adam Nawalka regressou à Polónia em 1990 e começou por vender carros oriundos do Leste da Alemanha. O Trabant, munido com um motor VW Polo, era extremamente popular no seu país mas deixou de ser produzido pela fábrica germânica no ano seguinte.

Enquanto se formava como técnico, o atual selecionador desempenhou outras funções. O grande desejo, ainda assim, iria ser concretizado em breve.

Adam Nawalka começou por modesto Swit Krzeszowice, passou em vários períodos pelo Wisla Cracóvia mas brilharia no comando técnico do Górnik Zabrze. A 26 de outubro de 2013, numa altura em que a sua equipa liderava o campeonato local, Nawalka foi anunciado como o sucessor de Waldemar Fornalik.

O presidente da Federação, Zbigniew Boniek (seu antigo companheiro de seleção), pedia a Adam Nawalka para apagar as deceções do Euro 2012 – foi co-organizador mas não venceu qualquer jogo - e do apuramento falhado para o Mundial de 2014. Aconteça o que acontecer frente a Portugal, esse objetivo já está garantido.