Mais de vinte e quatro horas depois de ter enchido o campo na vitória do Manchester City sobre o West Ham, levando até a primeira distinção de Man of the Match, Rony Lopes ainda não olhou com atenção para os elogios que a imprensa lhe dispensa esta quarta-feira.

«Por acaso ainda não vi as notícias. As redes sociais estão um pouco malucas e estou à espera que acalmem», referiu em conversa com o Maisfutebol. «Já soube que há muita gente a dar-me os parabéns e a felicitar-me, e por estarem assim prefiro descansar primeiro.»

Rony diz que geralmente gosta de ver o que escrevem sobre ele, e tem até uma pessoa que o ajuda nisso, mas esta quarta-feira é dia de descansar: e as obrigações profissionais têm sempre prioridade.

«Às vezes tento responder e agradecer, mas nem sempre é possível.»

O médio português tem dezoito anos mas fala como um homem de trinta: não treme em nenhuma resposta, não mete o pé em terreno desconhecido, não exagera em nenhuma frase. Diz que é assim no discurso e na vida. Vive em Manchester com os pais e está totalmente orientado num sentido.

«Sei o que quero e o que tenho de fazer para lá chegar. Gosto de trabalhar no campo e de me cuidar bem em casa. Tenho muito cuidado com a alimentação, não como gorduras e faço uma alimentação mais à base de vegetais. Fico depois dos treinos acabarem a trabalhar lances específicos ou bolas paradas, depois faço sempre um pouco de ginásio e termino com um futvólei, geralmente com os treinadores da equipa de sub-21, para descompromir e me divertir.»

Por aqui já se percebe de onde vêm os elogios: Rony Lopes é, recorde-se, apontado como um exemplo para todos os miúdos da formação do Man. City e ainda ontem recolheu os maiores louvores de Manuel Pellegrini pela capacidade de trabalho que coloca todos os dias em campo.

«Não sei se trabalho muito ou não», garante. «Sou assim.»

A presença da família em Manchester, garante, é fundamental. O pai viajou com ele logo na primeira época, quando tinha apenas quinze anos, no ano seguinte a mãe e os irmãos foram ter com eles. Rony Lopes diz que eles são o suporte que lhe permite estar permanentemente no caminho certo.

«Estiveram sempre comigo, sempre ao meu lado e apoiam-me em tudo. Nunca imaginei com 18 anos estar no meio de tantas estrelas, mas se estou tenho de agradecer muito à minha família.»



Por falar em estrelas, a conversa com o Maisfutebol passou naturalmente pela convivência de Rony Lopes com várias das maiores estrelas do futebol mundial. Fala-se de Kun Aguero, David Silva, Negredo, Yaya Touré, Fernandinho, Nasri, Dzeko, Kompany, enfim, a lista é enorme.

Rony ouve estes nomes todos e dou outro lado da linha ouve-se o som do riso.

«Todos são muito amigos e todos me ajudam muito. Pode pensar-se que são grandes estrelas, mas não sinto isso. Por uma razão de língua e proximidade de culturas, falo mais com o Fernandinho, mas dou-me bem com todos.»

E ainda fica nervoso no meio deles?

«A primeira vez que fui chamado, estava nervoso, claro. Lembro-me perfeitamente. Foi para fazer um estágio de pré-época, tinha dezasseis anos e andei ali três ou quatro dias nervoso. É normal. Só conhecia aquelas caras de as ver na televisão. Agora esse problema do nervosismo já passou há algum tempo, graças a Deus. Agora sinto-me um deles.»

Rony explica que lugar dele é por princípio o plantel sub-21 do Manchester City, mas que pelo menos uma ou duas vezes treina com o plantel principal. «Nas últimas semanas tenho treinado sempre com o plantel principal porque estamos numa fase da época de muitos jogos.»

Foi lá, de resto, no plantel principal, que Rony Lopes conheceu um dos mais irascíveis jogadores da atualidade: Mario Balotelli. Fala-se do nome do italiano e do outro lado da linha sente-se de novo o riso.

«O que eu conheci dele foi uma pessoa amiga, divertida e que fazia naturalmente muitos amigos. Não posso esquecer-me também que na minha estreia pela equipa principal foi ele que fez o remate que me permitiu fazer a recarga para o golo.»

Sim, para quem não se lembra Rony estreou-se na equipa principal com um golo. Aconteceu no dia 5 de janeiro de 2013, no jogo da Taça da Liga com o Watford: entrou aos 87 minutos e fez o 3-0 final no período de descontos. «O Balotelli depois deu-me os parabéns.»



Foi há mais de um ano e desde então muita coisa mudou.

«Nunca me imaginei com dezoito no anos no meio destas estrelas todas, obviamente que não. Toda gente tem sonhos, e eu quando vim para o Manchester City sonhava com jogar na equipa principal, mas era difícil imaginar que isto podia acontecer.»

Aconteceu, claro, e lança uma dúvida: se com 18 anos está no plantel principal do Manchester City, onde sonha estar com 24, 25 ou 26? Num melhor onze do ano da FIFA, por exemplo?

«Não, não posso pensar nisso nem quero pensar nisso. Vivo a minha carreira momento a momento. Só este ano consegui ser titular, ainda tenho muito para trabalhar e é isso que quero fazer: continuar a trabalhar como até aqui. Depois o que tiver de acontecer, acontecerá naturalmente.»

No entanto há um sonho que Rony Lopes admite desde já: ser campeão inglês já esta época.

O Manchester City está em segundo lugar da liga inglesa a um ponto do Arsenal, bateu recentemente o recorde de mais de cem golos num ano, Rony Lopes está na rampa de lançamento para se estrear em jogos da liga inglesa, portanto não é uma conjugação impossível de se realizar.

«O Manchester City está forte e num bom momento, por isso claro quer sim: espero que a equipa seja campeã e que vá a festejar o título com os meus companheiros.»

É uma meta de Rony Lopes, mas é apenas uma meta volante: a aventura está só a começar.