O sorteio da Taça trouxe a curiosidade de colocar o discreto Alba no caminho do Sporting e serve de pretexto para destacar aqui outra curiosidade: a história do pequeno clube de Albergaria-a-Velha.

Para início de conversa pode dizer-se que o Alba é uma espécie de Wolfsburgo em ponto pequeno: teve na origem uma fábriga metalúrgica que criou também uma das raras marcas de automóveis inteiramente portuguesas. O Alba, claro.

Como acontece com o Wolfsburgo em relação à Volkswagen, o Sport Clube Alba nasceu nos intervalos do trabalho na Metalúrgicas Alba: a empresa de António Augusto Martins Pereira que no início da década 50 criou um carro desportivo, descapotável, lindo e que atingia 200 quilómetros por hora. Uma coisa fantástica para a época.

A empresa construiu apenas três exemplares e se o leitor quiser ver como eram pode descobrir um desses exemplares no Museu do Caramulo. Foi inteiramente construído nas instalações da empresa, até o motor de 1500 cc, noventa cavalos e quatro cilindros.

Naquela fábrica fazia-se mais, porém: faziam-se bancos de jardim, bocas de incêndio, enfim.

Havia muito trabalho, empregava muita gente e tinha um descampado nas traseiras da empresa. «Quando terminava o trabalho, os funcionários iam para esse campo jogar à bola», conta José Pinho, o atual presidente do clube e um estudioso da história.

«Depois a empresa fez lá um campo de futebol para os funcionários jogarem e esse foi o campo do Alba até 1992. Fundaram o Sport Clube Alba suportado pela Metalúrgicas Alba, herdaram as cores, o símbolo e os funcionários», acrescentou José Pinho em conversa com o Maisfutebol.

A empresa cresceu, o clube cresceu com ela e chegou à II Divisão. «Esteve vários anos da II Divisão», corrige. «Foi numa altura em que Augusto Martins Pereira era presidente do Beira Mar.»

O fundador da metalúrgica não era só um homem apaixonado por carros, também gostava de futebol. Nos anos setenta ganhou a presidência do Beira Mar, que acumulava com a presidência da Metalúrgica Alba e, por arrasto, do Sport Clube Alba.

«Nessa altura os jogadores que não interessavam ao Beira Mar vinham todos para o Alba. O presidente dava-lhes trabalho na empresa para fazerem algum dinheiro e metia-os a jogar no clube.»

O fim da empresa e o declínio do clube

A história do Alba começou a separar-se da história do Wolfsburgo depois disso: ao contrário da Voskwagen, a Metalúrgica Alba nem sempre respirou saúde. «Entrou em dificuldades financeiras, abriu falência e acabou», conta José Pinho.

O Sport Alba não acabou, porém. «Um dos filhos do fundador comprou o símbolo e o Alba manteve-o». No entanto o clube e a memória da empresa afastaram-se. Os presidentes deixaram de ter ligação à empresa, as listas verticais amarelo e azul deram lugar a uma camisola toda amarela, o A do símbolo perdeu a perna e até o campo do Alba foi transformado em Estádio Municipal.

Foi nessa altura que João Alves, o luvas pretas, rapaz natural de Albergaria, chegou a ser presidente do Alba durante dois anos.

«Quando fui eleito presidente, há um ano, voltei a introduzir o equipamento antigo do Alba. Por minha vontade nunca vamos abandonar as ligações à Metalúrgica Alba», diz José Pinho.

Hoje o clube vive sozinho, numa pequena cidade, e joga nos Distritais. Tem equipa A e B, promoveu oito jovens à equipa principal e aposta na formação. Como o Sporting, de resto.

Por falar em Sporting, o Alba anda em festa, claro. «A gracinha está feita: foi o prémio do sorteio.»

A maior parte das pessoas de Albergaria são do Sporting, eu próprio sou fundador da casa do Sporting em Albergaria, por isso fazer uma gracinha agora é levar muita gente a Alvalade para apreciar este jogo histórico.»

Dia 20 de Outubro há reencontro marcado do Alba com a história, portanto.