Sonhos perdidos na incompreensão, carreira comprometida por falsas promessas, labor honesto por recompensar. Alejandro Díaz sente ter uma dívida por pagar e uma imagem por corrigir. «Os adeptos do F.C. Porto merecem tudo», desabafa ao Maisfutebol, ainda angustiado por não ter consolidado o nome no Estádio das Antas.

Não é para menos. Rotulado de promessa maior do futebol uruguaio, chegou a Portugal em 1996 e partiu definitivamente três anos depois. Embrulhado no anonimato e vexado pelo rótulo de flop.

Pelo meio, apenas nove minutos (mais descontos) de dragão ao peito. «Foi numa derrota em Braga, por 2-1. Dei tudo de mim nesse bocado. Entrei a substituir o Folha e soube a pouco. Joguei para ser campeão nacional», conta, a partir de Montevideu.

A vida de Alejandro Díaz no cinema, na pintura e na moda

A memória pode ser injusta. Por esquecimento, triagem precipitada ou má vontade. Alejandro Díaz é muito provavelmente vítima desse lapso de rigor. O uruguaio, inteligente e culto, foi desaproveitado nas Antas, depois de ter estado bem perto de Real Madrid e Barcelona. Os jornais da época não deixam mentir.

«Fui injustiçado», lamenta, 16 anos depois. «Tinha 22 anos e dois grandes jogadores para a minha posição: Aloísio e Jorge Costa. Aprendi muito, treinei sempre no duro e só tive uma oportunidade. Mais por política do que por outro motivo», sugere o antigo internacional uruguaio.

Vamos lá ver: como é que um jogador refinado, de elevada estatura (1,97m) e que tão boas referências deixou numa célebre pré-época em Inglaterra, joga apenas uma vez pelo F.C. Porto?

«Ainda hoje não sei, nunca me explicaram. Tinha condições para ser útil ao clube. No Liverpool Montevideu era a principal referência. Podia ter ido para Espanha e não fui porque o Porto se antecipou. Depois... não sei, honestamente. Só o treinador António Oliveira poderá explicar.»

«Teve de ser o Mielcarski a devolver-me a roupa»

O nosso jornal recupera Alejandro Díaz precisamente na véspera de um Sp. Braga-F.C. Porto. O único jogo onde o uruguaio sujou o equipamento em Portugal. «Pensei que depois dessa noite ia ter mais oportunidades. Infelizmente não. Ainda estive no banco contra o Sp. Espinho e acabou-se.»

Verão de 97, esperanças retemperadas e logo esvaziadas. Ao primeiro treino da que seria a segunda temporada no plantel. «Saiu a convocatória para o estágio na Suécia e o meu nome não estava lá. Passei depois 22 dias a treinar sozinho, à espera que os meus colegas voltassem», lembra Alejandro Díaz.

Os colegas vieram e o uruguaio continuou à parte. «Passei a ir para o Parque da Cidade e cheguei a estar no Atlético Samil (Vigo) só a treinar. O meu contrato era válido e sentia-me jogador do clube. Foi pena.»

A dada altura, Alejandro Díaz percebeu tudo: a relação com o F.C. Porto chegara ao fim. «Tentei ir buscar a minha roupa e nem isso consegui. Teve de ser o Mielcarski a trazer-me tudo à socapa, no carro. O mundo caiu-me em cima.»

«Aloísio, João Pinto, Rui Barros, Jardel, Silvino, Mielcarski, grandes amigos», enumera Alejandro Díaz, desafiado pelo nosso jornal. «Ficaram chocados ao saber que me ia embora. O Aloísio levava-me a almoçar, pedia-me paciência, era como um pai para mim.»

Apesar da frieza cruel inerente à dispensa, Díaz nada tem a apontar aos responsáveis. «Até aí todos tinham sido excelentes. O presidente era fabuloso, dizia-me que eu era o sucessor do Aloísio. O treinador era um pouco excêntrico, mas sempre me tratou bem. Gostava de voltar ao clube e colocar a conversa em dia com o senhor Pinto da Costa, um génio.»

«Quando rescindi o contrato, em 1999, percebi o quão desconfortável ele estava.»