Babak Rafati estava destacado para arbitrar o Colónia-Mainz, da Bundesliga, a 19 de novembro de 2011, mas nunca chegou a comparecer no estádio RheinEnergie e o jogo teve de ser adiado por não ter sido encontrado substituto a tempo.

Na madrugada que antecedeu a partida, o árbitro internacional alemão tentou suicidar-se no quarto do Hotel Hyatt, onde estava hospedado. Pensou em saltar do quinto andar do edifício, pensou atirar-se para o Reno, em tomar comprimidos, mas decidiu cortar os pulsos: foi encontrado estendido na banheira, ensanguentado.

Recuperou os sentidos já no hospital, salvo pela intervenção médica, mas a sua situação consternou a Alemanha. Rafati sofria de depressão, agudizada pela ansiedade inerente a ter de lidar durante mais de uma década com as pressões da alta competição: com a exploração do erro público, com as repreensões de observadores, com os insultos racistas a ele, que é cidadão alemão mas descendente de pais iranianos.

Aviso no estádio do Colónia, no jogo que Babak Rafati acabou por não apitar

Naquele tempo, a situação tocou em particular Bastian Schweinsteiger, que lhe escreveu uma carta. «Na vida caímos muitas vezes, mas o mais importante é levantarmo-nos outras tantas», transmitiu-lhe o internacional alemão então atuar no Bayern de Munique.

Apesar de não ter tido apoio por parte da Federação Alemã de Futebol, Babak Rafati caiu, demorou bastante tempo até recuperar do estado depressivo, com a ajuda de médicos e da família (em particular da mulher), mas tal como o aconselhou Scheweinsteiger, levantou-se.

Este banqueiro de Hannover de 46 anos, que abandonou a arbitragem na sequência daquele quase trágico episódio, dá palestras sobre gestão de stress e é agora mental coach de três futebolistas da Bundesliga – cuja identidade, naturalmente, não revela.

«A depressão ainda é um grande tabu no futebol e os jogadores não contam todos os seus problemas aos psicólogos que são contratados pelo clube», referiu o ex-árbitro em entrevista ao jornal suíço Blick, publicada no fim de semana.

Nesse testemunho, Rafati lamentou publicamente a falta de apoio da federação alemã e recordou como o sensibilizou o gesto de Schweinsteiger: «Emocionei-me, porque estava num momento muito frágil. Foi um gesto muito bonito e nada calculista, já que ele sabia que eu nunca mais voltaria a apitar depois do sucedido.»

Babak, apitou mais de 150 jogos nas duas principais ligas profissionais alemãs e foi internacional entre 2008 e 2011, é o autor de um livro em que aborda a relação entre a sua atividade no futebol e a depressão e onde conta como ultrapassou a situação clínica que quase lhe pôs fim à vida.

«Tento com o meu livro ajudar outros a conseguirem ultrapassar a mesma situação difícil que vivi», recorda o homem que aos 16 anos optou pela arbitragem por ser «um péssimo futebolista», atividade que exerceu durante 25 anos. Os pensamentos sobre suicídio, porém, ficaram para trás: «Agora percebo como fui estúpido. A vida é muito bela para ser destruída.»