O Paderborn é líder da Bundesliga, na sua época de estreia no principal campeonato alemão. O clube com orçamento mais baixo da liga vive um sonho. Pode durar pouco, já esta terça-feira visita o todo-poderoso Bayern Munique, mas esta já é uma história feliz, que tem dentro muitas outras. A do incrível golo a mais de 80 metros que selou a vitória sobre o Hannover, claro. Mas, entre todas, a de Suleyman Koc. A experiência de alguém que foi ao fundo e aproveitou uma segunda oportunidade.

Quando Koc saiu aos 81 minutos no jogo de estreia do Paderborn na Bundesliga, a 24 de agosto, frente ao Mainz, os adeptos dedicaram-lhe uma ovação especial. O médio de 25 anos, de origem turca e nascido na Alemanha, é uma inspiração para muitos. Cometeu crimes, foi preso, renasceu para o futebol e está no topo. 

Koc jogava no SV Babelsberg, no quarto escalão do futebol alemão quando, em abril de 2011, a polícia entrou no apartamento que partilhava com o irmão e os levou presos, bem como a mais quatro jovens, suspeitos de formarem um gangue que assaltava casinos e cafés em Berlim. Acusado de conduzir o carro de fuga usado nos roubos, a sua justificação em tribunal foi que não sabia dizer não a amigos de infância. Foi condenado a três anos e nove meses de prisão. 

Passou 11 meses detido. Da prisão escreveu ao seu treinador e aos companheiros de equipa no clube a pedir perdão. Eles responderam-lhe com palavras de encorajamento e devolveram-lhe a ilusão. «Deu-me esperança. Por isso comecei a treinar na minha cela», contou numa entrevista à revista 11 Freunde. 

Acabou por sair da prisão na primavera de 2013, uma saída antecipada por bom comportamento. E o SV Babelsberg acolheu-o de volta. «Se ele lamenta o que fez, merece uma segunda oportunidade», disse o presidente do clube, Thomas Bastian. 

Koc voltou, jogou e marcou oito golos em 14 partidas pelo clube. Despertou o interesse de outros clubes e, no inverno de 2013, assinou pelo Paderborn. Ficaria livre da sentença no início de janeiro, o clube reconheceu o seu talento e também acredita em segundas oportunidades. «Falei com ele pessoalmente, e toda a gente merece uma segunda oportunidade», disse o presidente do Paderborn, Wilfried Finke. 

André Breitenreiter, o treinador do Paderborn, elogiava as suas qualidades futebolísticas: «É muito rápido e muito forte no um para um. Pode jogar como ala ou ao centro.» E jogou, fez 11 jogos e marcou dois golos na reta final da campanha do clube até à histórica promoção à Bundesliga, festejada em maio. 

Hoje, Koc participa com a Federação alemã num projeto que se chama «Kick off for a new life», junto daqueles que aravessam momentos parecidos com o que passou. Visitou, por exemplo, uma prisão, onde levou, junto com um patrocinador, o troféu da Taça do Mundo. Olhando para trás, Koc sintetiza assim o seu presente e o seu passado: «Hoje sou um exemplo. Antes, era um perfeito idiota.» 

Neste sábado, foi de novo titular na vitória sobre o Hannover que, aliada aos resultados estranhos de um início atípico de Bundesliga, deixou o Paderborn na frente. Sem derrotas, com duas vitórias e dois empates em quatro jogos, soma oito pontos e lidera em igualdade com um quarteto que integra ainda Mainz, Hoffenheim e Bayern Munique. 

É hora de viver o sonho para o clube que tem orçamento de 15 milhões de euros e que chegou à Bundesliga ao fim de 107 anos de história. As raízes do clube recuam a 1907, é essa a data no símbolo do Paderborn, embora na sua forma atual tenha surgido em 1985, resultando da fusão de dois clubes, o FC Paderborn e o Neuhaus. 

Num campeonato em que as equipas recém-promovidas se têm dado mal nos últimos anos, ninguém apostava no Paderborn para protagonista da Bundesliga. E no entanto eles aí estão. 

Mas agora as coisas vão complicar-se. Já nesta terça-feira visita o Bayern Munique, para a quinta jornada. Um duelo desigual, ainda que a equipa de Pep Guardiola esteja bem menos sólida do que na época passada, e limitada por várias lesões. É um gigante, incomparavelmente mais forte que o pequeno rival de uma cidade de 140 mil habitantes na Renânia do Norte-Vestfália, com um estádio para 15 mil pessoas e 15 milhões de euros de orçamento, mais de dez vezes inferior aos 160 milhões do Bayern.

Depois de Munique, seguem-se confrontos com B. Mgladbach e Bayer Leverkusen, todos adversários teoricamente mais exigentes do que aqueles que o Paderborn defrontou até agora.  
 
Já houve no passado outras equipas recém-promovidas a brilhar no início, mas a acabarem de novo na segunda divisão. Aconteceu ao Hansa Rostock, em 1991. O Paderborn não se deixa iludir, os discursos de jogadores e treinadores são realistas.

Moritz Stoppelkamp, o autor do tal golo a 82 metros, resume assim as coisas: «Líderes da Bundesliga, uau. Mas é apenas um apontamento engraçado», disse, lembrando o verdadeiro significado dos bons resultados no arranque da Bundesliga. «Para nós são apenas pontos na luta para evitarmos a despromoção.»

O treinador André Breitenreiter, antigo avançado e apenas com três anos de experiência no banco, lembra que o Bayern não é do seu campeonato, portanto a equipa não tem nada a perder. «Mesmo em Munique queremos fazer uma boa exibição. Os rapazes devem desfrutar do jogo. O resultado é secundário para mim.»