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Opinião  |  

Quem comprará um jogador ao Benfica por 30 ou 40 milhões?

Geraldinos & Arquibaldos XLIV

Não obstante a aparente naturalidade com que a eliminação do Benfica da Europa foi encarada, jamais seria expectável isto de ser a pior prestação portuguesa e o pior cabeça de série de sempre na fase de grupos da Liga dos Campeões, com zero pontos, 14 golos sofridos e um marcado.

Arriscaria que é vergonha maior o atual Benfica ter perdido por 5-0 em Basileia, com uma equipa suíça pouco mais do que arrumadinha, do que a equipa de 1999/2000 ter sido goleada por 7-0 em Vigo pelo Celta de Mostovoi, Karpin e McCarthy.

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Dir-me-ão: «Isso já acabou, vira-se a página e passa-se à frente.»

Na verdade, não acabou. As conclusões sobre a prestação europeia do Benfica só serão devidamente tiradas no próximo relatório e contas.

Num grupo com um favorito e duas equipas acessíveis e até teoricamente mais fracas (Mourinho dixit) o Benfica não só deixou de encaixar seis milhões de euros pela passagem aos oitavos de final, como outro tanto pela soma de pontos.

Esses potenciais 12 milhões de euros são, porém, o menor dos rombos financeiros que o vexame na Europa indicia.

Ao contrário dos Big Five, os clubes portugueses têm na Europa, sobretudo na Liga dos Campeões, a sua grande montra para potenciar ativos. Aliás, salvo exceções (encontrarão sempre algumas a confirmar a regra), chegar aos oitavos ou quartos da Champions vale bem mais em termos de valorização de jogadores do que vencer o campeonato por cá.

Tal como FC Porto e Sporting, o Benfica não escapa ao fado luso de ter de vender jogadores. Aliás, de janeiro para cá vendeu Gonçalo Guedes, Ederson, Nélson Semedo, Lindelöf, Mitroglou… Tudo, exceto o grego, negócios iguais ou superiores a 30 milhões de euros.

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Qual será então o gigante europeu que vai pagar 30 ou 40 milhões por um jogador do atual plantel do Benfica?

Que comprador cobiça ativos por valores milionários naquela que foi a equipa com a pior prestação entre as 80 que estiveram nas fases de grupos das duas competições europeias?

Se a questão é simples, a possível resposta foi rápida. Surgiu na segunda-feira numa chamada de primeira página do jornal mais vendido do país:

«Krovinovic já vale 30 milhões»

Valerá?

O que se percebe da notícia é que a mensagem é passada pela parte interessada e amplificada pela comunicação social. O alvo não é mal escolhido, diga-se, até porque o médio croata nem sequer tem associado o lastro da negra campanha europeia (não foi inscrito).

Entendamo-nos: acompanho Krovinovic desde que ele começou a dar os primeiros pontapés na bola no Rio Ave. Essa é uma das vantagens de ver semana após semana jogos ao vivo e não só os três grandes pela TV. Há cerca de um ano e meio até lhe fiz uma pequena entrevista a propósito do Portugal-Croácia, do Euro 2016.

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«Krovimodric» ou «Krackinovic», como agora começam a chamar-lhe, é um jogador talentoso, sem dúvida. Esta reflexão nem tem que ver particularmente com o seu valor. Tem sim com o facto de o exercício do jornalismo ter de cumprir regras básicas de verosimilhança. Caso contrário, tornamo-nos quase em promotores comerciais, capazes de tornar primeiras páginas e manchetes numa espécie de folhetos promocionais com negócios de ocasião.

Ora, Krovinovic ganhou a titularidade no Rio Ave em fevereiro deste ano (à 21.ª jornada de 2016/17, para ser preciso), foi transferido em junho por 3,5 milhões de euros e só há um mês passou a ser opção para o onze inicial do Benfica.

Assim sendo: como é que uma eliminatória da Taça de Portugal e quatro jornadas seguidas do campeonato a titular correspondem a uma valorização de quase mil por cento até aos 30 milhões de euros?

Num tempo de guerrilha mediática no futebol português, com jornalistas acusados dia sim dia não de serem peças ao serviço de uma qualquer máquina de propaganda, cabe-nos escorar cada trabalho nos sólidos pilares da credibilidade, para que não sejamos todos, por atacado, levados pela corrente.

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O mais elementar, para mim, é firme como betão: respeitar a inteligência de quem nos lê.

Só isso. E já não é pouco.

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«Geraldinos & Arquibaldos» é um espaço de crónica quinzenal da autoria do jornalista Sérgio Pires. O título é inspirado pela expressão criada pelo jornalista e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, que distinguia os adeptos do Maracanã entre o povo da geral e a burguesia da arquibancada.

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