Um acidente decisivo?
O reforço do Benfica no campo, nos gabinetes e nos media não é novidade para quem segue o futebol com atenção. Portanto, não acredito que o F.C. Porto tenha sido surpreendido pelo que encontrou na visita à Luz. Mas a verdade é que não soube estar à altura. A acreditar na acusação da Comissão Disciplinar da Liga (e o que se conhece leva a crer que estará muito próxima do que se passou de facto), «stewards» pagos pelo clube da casa estavam num sítio onde deviam ser proibidos, provocaram os jogadores do F.C. Porto e estes reagiram com agressões.
Num jogo duro como este, agora equilibrado nos diversos tabuleiros, um erro pode decidir. E este erro portista pode ter um peso decisivo no desfecho do campeonato.
Porque reforça a fé do adversário («Estão a ver?, isto funciona e eles estão a ficar nervosos!») e porque na passada foi apanhado o mais valioso activo do plantel: Hulk.
Tudo o que tem acontecido depois do dia em que Hulk e Sapunaru foram expulsos no agora famoso túnel da Luz é uma forma de F.C. Porto e Benfica tentarem lidar com o episódio.
Uns insinuam que até haveria mais jogadores portistas a merecer castigos. Outros sustentam que os maus da fita são os «stewards».
O objectivo de uns e de outros é apenas um: influenciar a Comissão Disciplinar da Liga. As mais recentes declarações de Ruben Micael sobre o intervalo do Benfica-Nacional são um exemplo da disponibilidade que existe para fazer tudo o que for necessário para colocar pressão sobre quem vai ter de decidir.
O que se segue?
A divulgação de escutas do apito dourado no «Youtube» foi o toque tecnológico destes últimos tempos. Não quero com isto dizer que foi o Benfica quem as divulgou (as autoridades judiciais talvez descubram o autor, um dia), mas a forma entusiasmada como o canal do clube as potenciou revelou a estratégia para os próximos tempos: relembrar o caso, expondo Pinto da Costa. Não para atacar directamente o presidente do F.C. Porto, sobretudo para influenciar quem tem de apitar jogos e decidir em instantes.
No meio de tudo isto, o presidente do F.C. Porto já foi duas vezes incomodado directamente: uma antes do jogo, no hotel, em Lisboa; outra há dias, no Estoril, quando o carro em que viajava foi apedrejado. São sinais preocupantes, violentos, mas não se pode dizer que sejam propriamente originais. Pelo menos para quem se lembrar do que passou um antigo presidente do Benfica, João Santos, há uns anos já largos, no Porto.
Aqui chegados, acho que já ninguém terá grandes dúvidas sobre o que nos espera: o pior.
O Benfica estará pronto para levar até ao fim a estratégia que definiu. No campo e fora dele.
O F.C. Porto, agora com Pinto da Costa acossado, tenderá a recuperar fórmulas de defesa e ataque que já funcionaram no passado e que os repetidos sucessos tinham permitido suavizar.
O resumo de tudo isto é, pelo menos aos meus olhos, simples: o Benfica está mais forte do que nos últimos anos e pronto para esticar o conflito até limites que antes não pisava. Pelo menos de forma tão organizada. E isso está a trazer de volta o F.C. Porto de outros tempos.
No meio de tudo isto, resta-nos desejar boa sorte aos árbitros. Vão precisar.