PONTO FORTE: jogo exterior (à esquerda)
Quando se diz que o Astana corre por fora do pelotão nesta Liga dos Campeões, não se trata apenas de uma análise à qualidade global da equipa (com óbvia referência à ligação da cidade ao ciclismo). É também uma pista para uma das marcas mais vincadas da sua forma de jogar: a aposta no jogo exterior. O Astana raramente tenta criar desequilíbrio pelo corredor central. A organização ofensiva privilegia quase sempre a saída pelos flancos, nomeadamente pelo lado esquerdo, onde começaram a ser fabricados cerca de 60 por cento dos golos de bola corrida da equipa. Shomko é um lateral muito ofensivo, que não hesita em cruzar para a área, e à sua frente costuma ter os elementos mais influentes no plano ofensivo: Patrick Twumasi (está suspenso) ou Foxy Kethévoama.
 
PONTO FRACO: debilidades defensivas
No panorama europeu o Astana adota uma estratégia mais prudente, com o bloco mais compacto, o que dá maior segurança defensiva à equipa. Mas as debilidades da equipa neste capítulo são evidentes, sobretudo no plano interno, perante a obrigação de arriscar mais no plano ofensivo. Quanto mais a equipa se alonga no terreno de jogo, mais dificuldades sente à retaguarda. As carências no jogo aéreo são marcantes, de tal forma que quase metade dos golos sofridos surgiram na sequência de lances de bola parada (46 por cento). Frequentemente batida nas alturas, a defesa do Astana mostra-se também muito permável em lances ao primeiro poste, onde é superada na antecipação.

A FIGURA: NEMANJA MAKSIMOVIC

Campeão europeu de sub-19 com a Sérvia em 2013 e campeão mundial de sub-20 este ano, apontando o golo da vitória sobre o Brasil, no prolongamento (2-1). É um médio de enorme potencial, de grande maturidade. Inteligência tática, agressividade defensiva e qualidade no passe. Aparece muitas vezes na área, mas é sobretudo em lances de bola parada que se destaca. Tem seis golos marcados, três dos quais com desvios ao primeiro poste na sequência de cantos ou livres laterais.
 
ONZE BASE
[passe com o cursor por cima dos jogadores para ler a análise individualizada]

 

OUTRAS OPÇÕES:
Com Patrick Twumasi afastado do jogo da Luz por castigo, o lado esquerdo do ataque deve ficar entregue a Foxi Kéthévoama. O camisola 10 do Astana nem sempre é titular, mas em todo o caso é um elemento influente no rendimento da equipa. Nem tanto pelos quatro golos já apontados, mas sobretudo pelas assistências: 13, o melhor registo da equipa. Pode atuar a partir do flanco esquerdo ou nas costas do ponta de lança. O médio de 29 anos é perigoso no último passe e merece cuidados redobrados na conversão de lances de bola parada. A outra opção seria Serikzhan Muzhikov, que também pode jogar na zona central. Referência depois para as alternativas a Nuserbayev: Junior Kabananga, avançado congolês de 26 anos, e Aleksei Schetkin, internacional cazaque de 24 anos. Dois jogadores mais possantes, com uma presença mais vincada na área, mas também tecnicamente mais limitados e menos ativos no processo defensivo. O internacional ucraniano Denys Dedechko é a principal alternativa a Cañas e Maksimovic, embora na visita ao HJK, e perante o castigo do colombiano, a opção tenha sido recuar Zhukov. O plantel tem ainda Igor Pikalkin, médio de apenas 23 anos, que também pode ser uma alternativa para o setor mais recuado. Abzal Beysebekov é uma opção para o flanco direito, tanto para o papel de lateral como para extremo. Vai alternando sobretudo com Ilic, mas revela idênticas limitações, inclusivamente no espaço que deixa para o central mais próximo. Yeldos Akhmetov, expulso na passada sexta-feira, é a «sombra» de Anicic e Postnikov no eixo defensivo, enquanto que Vladimir Loginovsky é o nº2 na hierarquia da baliza, mas esse foi também o número de encontros que realizou esta época (o duplo embate com o Maribor).

ANÁLISE DETALHADA
 
AMBIÇÃO SINTÉTICA. Se inicialmente foi o ciclismo que colocou Astana no mapa desportivo, agora é o futebol a dar visibilidade à capital do Cazaquistão. O FC Astana já fez história ao tornar-se a primeira equipa do país a disputar a fase de grupos da Liga dos Campeões, e tudo o que vier a mais será bónus. Em todo o caso a equipa orientada pelo búlgaro Stanimir Stoilov (ex-jogador do Campomaiorense) pode assumir uma influência importante nas contas do grupo, sobretudo nos jogos disputados em casa, onde o relvado sintético vai aumentar as dificuldades dos visitantes. Os 34 jogos oficiais disputados esta época, contra apenas cinco do Benfica, também podem equilibrar um pouco mais a balança.
 
INCLINAÇÃO À ESQUERDA. O Astana parte de um desenho tático em 4x2x3x1 ou 4x4x1x1, e é uma equipa que em ataque organizado aposta quase exclusivamente nas saídas pelos corredores laterais. Com preferência assumida pelo lado esquerdo, onde tiveram origem mais de metade dos golos marcados em lances de bola corrida. Shomko é um lateral bastante ofensivo, que cruza com abundância, e à sua frente costuma ter Twumasi ou Foxi, os dois elementos mais perigosos em termos ofensivos. Os cruzamentos são frequentes, ainda que a dupla de avançados habitual seja de estatura baixa (Zhukov e Nuserbayev). Muitas vezes o desequilíbrio é feito por um terceiro elemento, o extremo do lado oposto (Dzholchiev), que aparece muito bem ao segundo poste. Para além disto é preciso ter em conta a eventual entrada de Maksimovic (boa impulsão) e Cañas (jogador alto), vindos de trás.

[clique nas imagens para aumentar o tamanho]


ARMADILHA LATERAL
. O Astana organiza-se defensivamente em 4x4x2, que muitas vezes transforma-se em 4x2x4, quando os extremos formam a primeira linha de pressão com os avançados, numa tentativa de perturbar mais a saída do adversário. A estratégia principal passa por fechar as linhas de passe no corredor central, com a ajuda dos extremos, que fecham junto dos avançados. O (pouco) espaço que fica entre estes elementos é controlado por Maksimovic e Cañas, que procuram evitar que alguém receba ali um passe vertical. Isto alicia o adversário a tentar sair pelos laterais, e é nessa altura que o Astana intensifica a pressão, muitas vezes com quatro elementos em redor do portador da bola (o extremo desse lado, o médio mais próximo e os dois avançados).





LARGURA E PROFUNDIDADE.
A vontade de incomodar o adversário logo no início da construção de jogo é muitas vezes comprometida pelas debilidades do quarteto defensivo da equipa. A última linha descoordena-se com relativa facilidade, ainda para mais quando um jogador adversário consegue encontrar espaço para atacar a muralha com a bola controlada. O controlo da profundidade torna-se completamente aleatório (há quem suba no terreno, há quem continue a recuar e há quem decida parar). Referência ainda para o posicionamento habitualmente desalinhado de Ilic, que deixa muito espaço para o central mais próximo, o que pode ser explorado através de passes de rutura ou mesmo em condução de bola.





PELOTÃO COMPACTO.
O Astana é uma equipa pouco dada a transições rápidas. Tanto no plano ofensivo como no defensivo. As duas vertentes estão relacionadas, como é natural: se arrisca pouco no ataque, se explora pouco o corredor central, reduz a exposição ao contra-ataque. É nos corredores laterais que recupera a maior parte das bolas, e é lá também que perde a maior parte dos lances. E a partir dessas zonas é sempre mais difícil sair para as transições rápidas.

O DEFEITO SUPERA A VIRTUDE. A formação orientada por Stanimir Stoilov apresenta um aproveitamente interessante dos lances de bola parada (28 por cento dos golos surgiram desta forma), sobretudo através de cantos (sete tentos) e livres laterais (seis tentos). Twumasi e Foxi são os jogadores que assumem habitualmente a cobrança destes lances, apostando frequentemente em bolas tensas ao primeiro poste, onde Maksimovic e Cañas aparecem. Os dois médios são inteligentes também na forma como aproveitam o espaço no exterior na pequena área, sobretudo com defesas à zona.





O problema é que o peso das bolas paradas nos golos sofridos é ainda maior: 46 por cento! O Astana tanto aposta numa marcação individual como numa defesa à zona, mas é batido frequentemente nas alturas ou em lances de antecipação ao primeiro poste, pagando pela falta de agressividade defensiva.