Sábado à noite discute-se, no Estádio da Luz, grande parte do título de campeão nacional 2016-17. A oito jornadas do fim, e ainda com encontros de elevado nível de dificuldade para ambos – incluindo obviamente o dérbi de Alvalade –, o clássico poderá inclinar definitivamente a decisão para o lado de um dos candidatos.

O Benfica persegue um histórico tetra e chega ao grande jogo como líder, com mais um ponto do que o rival. Já os dragões tentam evitar um quarto ano de seca, sem troféus. Quando o rendimento é comparado com o de anos anteriores, os portistas aparentam mais saúde e, sobretudo, continuam a depender de si próprios.

Contas simples: uma vitória na Luz poderia virar o campeonato a norte, e ter ainda um efeito devastador nos visitados, que já chegaram a ter vantagem considerável. O empate deixará tudo na mesma. Em caso de triunfo dos encarnados, estes ficariam com quatro pontos de vantagem e também com um avanço razoável para gerir, inclusive até em Alvalade. Tudo teoria.

Os dragões tiveram oportunidade de ouro para assumir a liderança na última jornada e logo após o nulo dos encarnados em Paços de Ferreira, mas também tropeçaram, deixando o Vitória de Setúbal levar um ponto do Dragão (1-1). Os sinais dados por ambas as equipas não foram os mais positivos, embora os portistas possam reclamar uma série de nove triunfos consecutivos.

Um FC Porto em crescendo (até à consolidação)

O FC Porto assumiu com a goleada ao Nacional (7-0, 24ª jornada) o estatuto de melhor ataque (agora, 58 golos, contra 56 do Benfica), que juntou ao que detinha já de melhor defesa (12 nesta altura, menos um sofrido do que os encarnados) só em contas da Liga. Ou seja, parte logo aí em aparente vantagem.

Quando somadas todas as competições, e com os encarnados a chegar a esta fase da época com mais três jogos nas pernas, o cenário é divergente. Foram 34 os golos sofridos em 44 encontros pela equipa de Rui Vitória (0,77 por jogo) contra 20 apenas em 41 para os homens de Espírito Santo (0,48). Já no ataque, o emblema da Luz concretizou por 97 vezes (2,2 por partida) enquanto o rival chegou aos 75 (1,83).

Os encarnados só não tiveram maior percentagem de posse de bola nos dois jogos com os grandes rivais.

Benfica com mais posse, FC Porto mais objetivo

O MAISFUTEBOL analisou as estatísticas oficiais da Liga, e chegou a várias conclusões sobre as duas equipas.

O Benfica tem maior percentagem média de posse de bola (59,85 para 57,92), sendo que apenas apresenta dados abaixo de 50% nos embates com os maiores rivais: 49% no Dragão, 42% na Luz perante o Sporting. Já o FC Porto abdicou da posse em mais encontros: em Alvalade (45%), no Dragão frente a Rio Ave (49%) e Sporting (38%), e em Guimarães (42%).

Apesar de andar menos tempo com a bola nos pés, o conjunto de Nuno Espírito Santo aparenta ser mais objectivo em média: 15,8 remates contra 15,2; 7,5 cantos contra 6,7 e 16,1 contra 16 em faltas provocadas.

Benfica mais dependente, mas centrais portistas e Danilo especialistas nas bolas paradas

Embora o ataque do FC Porto tenha ficado menos dependente das bolas paradas – chegou a ter mais de um terço dos golos marcados desta forma –, existe grande preponderância ainda deste tipo de jogadas na equipa. Com Alex Telles (três assistências) e Brahimi (uma) como principais executantes e a desequilibrarem no cruzamento, a bola procura muitas vezes os centrais e Danilo na grande área. Marcano foi o autor de quatro golos, três na sequência de cantos e um outro de um livre indireto. Felipe tem dois e Danilo outros tantos, sempre em livres indiretos. Só aqui estão oito dos 16 marcados de bola parada (cinco livres indiretos, 5 penáltis, 4 cantos, 1 livre direto e 1 lançamento lateral), ou seja metade. O peso é 27,6% nos 58 golos marcados na Liga, aumenta para 30,7% quando se somam todas as competições (23 em 75).

O Benfica tem precisamente o mesmo número de golos de bola parada (16, cinco livres indiretos, cinco cantos, quatro penáltis, um livre direto e um lançamento lateral) mas num total ligeiramente menor (56), o que aumenta também a dependência (28,6%). Se alargarmos a análise a todas as competições mantém-se a tendência (30,9%). Pizzi (duas assistências) e Zivkovic (uma) são atualmente os executantes preferidos, depois do papel já ter passado por nomes como André Horta, Grimaldo e até Samaris. Na área, Mitroglou (dois golos) e os centrais são os mais procurados, mas curiosamente Luisão e Lindelof, os habituais titulares ainda não marcaram na Liga dessa forma, ao contrário de Lisandro López, autor de três golos.

Poder aéreo de Marcano tem sido fundamental para o FC Porto esta temporada.

Portistas arrancam e fecham melhor a primeira parte, encarnados deixam muito para o fim

Os rivais marcam a maior parte dos golos na segunda parte, sendo que do lado dos encarnados a tendência é ligeiramente maior (60,7% contra 56,9%).

O FC Porto entra melhor no primeiro quarto de hora dos encontros (10,3% dos golos contra 5%), perde alguma intensidade no segundo (6,9% contra 17,85%) mas volta a estar mais ativo antes do intervalo (25,9% contra 16,1%). É este terceiro período dos 31 aos 45 minutos aquele em que os dragões são mais produtivos.

Na segunda parte, mais uma vez são os portistas a começar mais fortes (17,2% contra 16,1% na primeira meia-hora) e os encarnados a terminar com maior fôlego (28,6% contra 22,4%).

O emblema da Luz apenas ficou em branco em dois encontros do campeonato: perdeu por 1-0 no Bonfim com o Vitória Setúbal, empatou agora a zero em Paços. Já os portistas somaram quatro partidas sem marcar, todos empates fora de casa: Tondela, Setúbal, Restelo e Paços de Ferreira.

Se o Benfica ainda não conseguiu qualquer reviravolta esta época – o melhor que fez foi empatar com o FC Porto no Dragão depois de ter estado a perder por 1-0 e com o Boavista na Luz, recuperando três golos de desvantagem, de 0-3 para 3-3 – o FC Porto tem quatro para a Liga e mais a de Brugges na Liga dos Campeões: Rio Ave, 1ª jornada, de 1-0 para 1-3; Boavista, 6ª, de 0-1 para 3-1; Chaves, 14ª, de 0-1 para 2-1; e Rio Ave novamente, 18ª, de 1-2 para 4-2.

Casillas foi fundamental em várias partidas, entre as quais o Clássico do Dragão com o Sporting.

Dragão mais controlador, águias mais disciplinadas

A defender, o FC Porto também parece mais sólido. Consente em média 6,6 remates contra 8,5 do Benfica, tal como pontapés de canto, com 4,2 contra 4,5.

Os dragões cometem mais faltas (15,6 contra 14,2) e viram mais cinco cartões amarelos (48 contra 43, 1,8 contra 1,7 por jogo). Curiosamente, os dois rivais tiveram dois jogadores expulsos. Alex Telles, na primeira ronda, e Maxi Pereira no dérbi com o Boavista à passagem da 21ª, viram duplos amarelos. Já Pizzi «forçou» o segundo cartão para poder estar em Guimarães na 16ª jornada, e Ederson viu o vermelho direto frente ao Arouca na 21ª, ao derrubar um adversário que seguia isolado para a baliza.

O perigo das bolas paradas

O FC Porto sofreu 12 golos na Liga, 50% de bola parada: três livres indiretos, dois cantos e um penálti. Já o Benfica tem os mesmos seis em 13, com três cantos, dois livres indiretos e um direto, o que dá 46,2%.

Se alargarmos as contas para todas as competições já são nove golos sofridos em 21 para os dragões (42,85%, três cantos, quatro livres indiretos e dois penáltis), enquanto os encarnados levam 15 em 34 (44,11%, com cinco cantos, 3 livres indiretos, 3 livres diretos e 4 penáltis).

Benfica perdeu poder de fogo nas bolas paradas com a saída de Lisandro do onze.

FC Porto não sofre golos dos 61 aos 75 minutos

Os 12 golos sofridos no campeonato pelo FC Porto estão divididos pelos 90 minutos quase equitativamente. Casillas lamentou seis na primeira parte e outros tantos na segunda, com o período dos 61 aos 75 minutos a não ter qualquer registo. São três os golos no primeiro quarto de hora (25%), um no segundo (8,3%) e dois no terceiro (16,7%). Depois do intervalo, há nova quebra com três remates certeiros encaixados dos 46 aos 60 minutos (25%) e outros três dos 76 aos 90 (25%).

Já no Benfica há um peso ligeiramente superior no segundo tempo: 53,8 contra 46,2%. Dividindo em quartos de hora fica assim: dois dos 0 aos 15 (15,4%), três dos 16 aos 30 (23%), um dos 31 aos 45 (7,7%), dois dos 46 aos 60 (15,4%), quatro dos 61 aos 75 (30,8%) e um dos 76 aos 90 (7,7%). Uma tendência para estar mais seguro no fim do primeiro tempo e no final da partida, e vulnerável a meia-hora do fim.

Iker Casillas não sofreu golos em 16 dos 26 jogos da Liga que jogou, já Ederson deixou os adversários em branco em 14 nos 18,5 (o tal vermelho frente ao Arouca) em que esteve em campo. Júlio César tem 3 clean sheets em seis jogos e meio.

No que diz respeito a reviravoltas, foram consentidas uma e meia pelo grupo de Nuno Espírito Santo. A equipa esteve a vencer em Alvalade por 1-0 na 3ª ronda, mas permitiu a recuperação dos verde e brancos para 2-1, e depois fez o 1-0 e permitiu que o Rio Ave virasse no Dragão para 1-2, antes de carregar para chegar ao triunfo. 4-2 foi o resultado final.

Já o Benfica não consentiu nenhuma completa, apenas duas meias-viragens no resultado, precisamente frente ao mesmo adversário, o Besiktas, e na Liga dos Campeões: de 1-0 para 1-1 na Luz, de 0-3 para 3-3 em Istambul. Ou seja, os encarnados não viram, mas também não deixam virar.

Diogo Jota marcou ao Benfica no Dragão, mas tem perdido protagonismo por culpa de Tiquinho. Ganhou um novo papel.

Casillas, o único totalista

Iker Casillas será, ao que tudo indica, o único jogador que somou todos os minutos da Liga em campo no Estádio da Luz. O guarda-redes espanhol tem 2340, mais um jogo inteiro do que Felipe e Marcano (2250) e apenas porque os dois centrais tiveram de cumprir um jogo de castigo. O brasileiro no dérbi com o Boavista, o espanhol na quinta jornada em Tondela.

Seguem-se Alex Telles (2138), André Silva (2127), Danilo (1944), Óliver Torres (1700), Maxi Pereira (1429), Corona (1348), Diogo Jota (1199) e André André (1084).

Ou seja, um onze-tipo do FC Porto até esta jornada e só com base nos minutos não teria Tiquinho Soares, que só entrou em janeiro, e seria qualquer coisa assim: Casillas; Maxi Pereira, Felipe, Marcano e Alex Telles; Corona, Danilo, Óliver Torres e André André; Jota e André Silva.

No Benfica, Nélson Semedo perdeu nas últimas rondas o estatuto de mais utilizado por Rui Vitória. É Lindelof quem comanda esse ranking (2250), seguido por Pizzi (2237) e o já referido Nélson Semedo (2151). Mais distantes estão Ederson (1752), Mitroglou (1730), Luisão (1710), Fejsa (1628), Salvio (1537), o já vendido Gonçalo Guedes (1198), Cervi (1017) e André Almeida (945). Ficariam de fora do onze-tipo Jonas (852), Eliseu (816), Zivkovic (760) e Samaris (745), jogadores que têm sido opção frequente nos tempos mais recentes.

Ou seja, um onze do Benfica pelo critério de tempo de utilização seria algo como: Ederson; Nélson Semedo, Lindelof, Luisão e André Almeida; Salvio, Fejsa, Pizzi e Cervi; Gonçalo Guedes e Mitroglou.

Os jogadores mais influentes de Benfica e FC Porto na Liga.

Mitroglou e Pizzi de um lado, André Silva imperial do outro

Se Nuno continuar a apostar em André Silva de início o jovem avançado será, somadas as equipas, o futebolista mais influente em campo na Liga. Soma 15 golos, cinco de penálti, e mais cinco assistências. Apesar do impacto dos nove golos de Tiquinho na ambição portista nesta temporada, é Diogo Jota, que com a entrada do brasileiro perdeu espaço no onze titular, quem segue a cauda de André Silva: sete golos e cinco assistências, assumindo agora um outro papel, o de jogador a lançar a partir do banco. Sobressaem obviamente as sete assistências de Alex Telles (algumas de bola parada como vimos acima), tal como do outro lado as seis de Nélson Semedo, também ele lateral. O benfiquista não tem, no entanto, qualquer peso em cantos, livres ou penáltis.

Os 14 golos e uma assistência de Mitroglou tornam o grego o jogador mais influente no grupo de Rui Vitória, seguido de muito perto por Pizzi, por força de nove golos e cinco passes decisivos. Apesar de ter perdido grande parte da época, Jonas já anda a par de Salvio (seis golos e três assistências, contra quatro remates certeiros e cinco últimos passes para o argentino.

As séries de Tiquinho e Mitroglou

Tiquinho Soares leva nove golos em sete jogos pelo FC Porto no campeonato, tendo ficado em branco precisamente no sétimo, frente ao V. Setúbal.

Já Mitroglou marcou sete em quatro encontros seguidos, tendo quebrado a série na Feira (0-1) e agora voltado a ficar em branco frente ao Paços de Ferreira (0-0).

Um clássico tem obviamente pouco teoria e, num jogo apenas, os números têm uma importância relativa. Os que o MAISFUTEBOL recolheu revelam sobretudo tendências, que podem ou não ser confirmadas no sábado, no Estádio da Luz.