O BENFICA, tricampeão, foi o que menos mudou no mercado.

O estatuto sustenta a decisão, apesar de um arranque ainda pouco efusivo e já com derrame de pontos, em casa, frente ao Vitória de Setúbal.

Em relação à época passada, dois jogadores com peso deixaram a Luz, a troco de 60 milhões fora variáveis: Gaitán e Renato Sanches. Para as faixas, os encarnados não tiveram mãos a medir no investimento. Franco Cervi é a um Nico Gaitán em perspetiva, Andre Carrillo garante, caso recupere a explosão, habilidade, e apostou-se ainda em Zivkovic, uma promessa para vir a ser cumprida a médio prazo. Como se não bastasse, por um pouco mais de 16 milhões, a mais cara transferência de sempre entre clubes portugueses, chega agora também Rafa, que terá nesse flanco o seu ponto de partida para a maior parte dos jogos.

Nesse aspeto, o técnico tem jogadores para vários papéis, seja para dar largura ou jogo interior. Está bem servido tanto à direita como à esquerda, embora Nico tenha obviamente marcado uma era na Luz.

Já na posição 8, que ficou órfã de Renato Sanches, a primeira aposta veio de um miúdo da formação, que tinha estado em gestação em Setúbal: André Horta. O médio começou a época como titular, e sabe agora que terá de lutar com Celis e Danilo para manter a posição pelo menos até janeiro. Os primeiros sinais foram bons, pelo menos no aspeto ofensivo, mas a época é longa e a exigência irá certamente aumentar, nem que seja na Liga dos Campeões.

O setor defensivo manteve-se estável, com Kalaica à espera de se fixar no plantel principal, e o ataque também. Rui Vitória terá como maior desafio encontrar o equilíbrio entre a vertigem pela qual a equipa enveredou nos primeiros jogos, sem conseguir tirar daí frutos evidentes, e o controlo. Daí que com laterais tão ofensivos como Semedo e Grimaldo, e Fejsa e os centrais como únicas unidades de maior equilíbrio, o treinador possa ser obrigado a compensar um pouco mais o seu onze, sobretudo em jogos de maior grau de dificuldade.

É de crer que André Almeida possa fazer parte desse maior equilíbrio, tal como Pizzi, dificultando a vida de Salvio, que dá sinais de recuperar em relação ao passado.

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Joel Campbell já defrontou o FC Porto, a partir da direita.

O SPORTING também apresenta duas saídas de vulto. João Mário e Slimani foram dois jogadores nucleares na última época, e tiveram substitutos com nome: Bas Dost e Markovic. No entanto, o ataque terá de ser todo reconstruído, uma vez que já não há Teo Gutierrez (nem Barcos, mas esse pouco contou). E, para aí, Castaignos, André, Joel Campbell – este poderá também entrar para a discussão sobre o lugar de João Mário – foram os nomes que chegaram.

Mesmo com as saídas dos seus dois elementos mais preponderantes, Jorge Jesus ganhou profundidade no plantel. Terá, no entanto, de reconstruir rotinas com jogadores diferentes, alguns bem diferentes, dos que partiram. Uma (muito) boa notícia é a manutenção de Adrien, fundamental naquele futebol de pressão alta e alta intensidade desenhado por Jesus.

Lazar Markovic foi a cereja no topo do bolo no mercado verde e branco, que disparou muitos tiros certeiros, sem dúvida. E rentabilizou muito bem os ativos que vendeu, alguns de forma surpreendente como Naldo. Em relação ao sérvio, um jogador de classe invulgar como o demonstrou no Benfica, há apenas um ponto de interrogação: não faz um jogo oficial desde fevereiro devido a uma série de lesões musculares, a terceira grave, que obrigaram a tratamento em Inglaterra, Turquia e em Portugal (Porto). Perdeu 22 jogos. Se Jesus o recuperar – e esta predisposição para as lesões musculares desaparecer – promete ser caso sério, sobretudo nas transições para o ataque.

Interessante será a luta no eixo defensivo entre Rúben Semedo – que jogo fantástico no clássico! – e Douglas, e ainda para a posição de segundo avançado, com inúmeras opções. Gelson terá agora, aparentemente, mais um obstáculo para a sua afirmação, mas será em teoria muito importante para agitar como suplente utilizado.

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Brahimi viu a sua transferência cair neste verão.

O FC PORTO foi dos três grandes o que menos vendeu. Livrou-se – parece ser a palavra certa – de Marega, Suk, Indi, José Ángel e Aboubakar. Bueno, que não confirmou os créditos até porque não tinha esquema onde entrar, também saiu. Falhou na transferência de Brahimi, e agora estará reintegrado no plantel.

Comprou um lateral-esquerdo quando tinha Layún como um dos maiores criadores de golos do passado recente, os centrais Felipe e Boly, recebeu os empréstimos de Óliver e Diogo Jota, recuperou Adrián López e assinou com João Carlos Teixeira. O plantel parece curto, e às vezes um pouco monocórdico, fruto de ter jogadores a mais para determinados papéis e inexistentes para outros.

O meio-campo parece excessivamente dependente dos laterais para a largura, afunilando com nomes como Óliver, Herrera, Otávio, André André, Adrián López e também agora Brahimi. Mesmo Corona, capaz de chegar-se mais à linha, gosta de pisar terrenos interiores. Jota acrescentará um pouco mais de soluções, sobretudo se partir da esquerda, mas tudo somado continua a parecer curto para as exigências e quando comparado com os rivais e pensando numa prova de longo curso.

Atrás, chegou Boly, que deverá sacrificar Marcano, embora o FC Porto tenha pensado primeiro em Mangala, que escolheu o Valencia. O francês ex-Sp. Braga esteve longe de ser entusiasmante na Pedreira, mas o setor defensivo estava bastante fragilizado no Dragão.

À frente, André Silva foi e continua a ser a melhor notícia dos últimos meses, e agora há Depoitre para lançar para a confusão quando o resultado estiver apertado. Otávio tem sido o outro jogador acima da média, acrescentando criatividade, e André André deu bons sinais no clássico. Tudo somado, a conclusão é que Nuno Espírito Santo será obrigado a trabalhos forçados.

Um dia depois do fim do mercado, o FC Porto anunciou a saída de Antero Henrique por «razões pessoais». Depois de algumas notícias de cisão interna em torno de reforços e novos treinadores, e três anos sem títulos, chega a confirmação do abandono do administrador. Ao fazê-lo nesta altura Antero Henrique liga a sua saída ao mercado, fazendo transpirar para fora sinais de desconfiança no que foi feito no verão. Cabe ao técnico isolar o grupo.

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