Jonas, 30 golos.

Bas Dost, 20 golos.

Marega, 20 golos.

Aboubakar, 15 golos.

Pela primeira vez no século XXI, a Liga portuguesa chega à 25ª jornada com quatro jogadores a terem já festejado, pelo menos, 15 vezes. Não há registo assim nas 17 temporadas já disputadas desde o ano 2000.

A título de exemplo, na temporada transata, havia três jogadores acima dessa marca (Bas Dost, 22; Soares, 16; e André Silva, 15). O registo é semelhante para 2015/16 (Jonas, 26; Slimani, 18; e Mitroglou, 15), mas estas até são temporadas atípicas, porque na maioria delas apenas um ou dois jogadores alcançavam estes números. O que se vê este ano, então, é uma raridade.

E ainda é preciso sublinhar os problemas físicos que afetaram, certamente, a média de Bas Dost, Marega e Aboubakar, sendo que todos já falharam jogos devido a lesão. Portanto, mantendo a pontaria afinada, este poderia ser um ano ainda mais atípico.

O rendimento de Jonas, claro, salta logo à vista. Marcar 30 golos em 25 jogos é tão raro que, no mesmo período de análise, apenas Mário Jardel o conseguiu fazer, na sua melhor temporada em Portugal: 2001/02. O «Super Mário» acabou essa época com 42, tendo falhado as três primeiras jornadas da Liga. Conseguirá Jonas semelhante marca?

Os números dos segundos melhores marcadores também impressionam. Bas Dost e Marega já marcaram vinte vezes, algo que só se viu em 2009/10, embora, na altura, fosse numa liderança dividida entre o benfiquista Cardozo e o portista Falcao, ambos também com 20 golos marcados. Um destacado segundo melhor com 20 golos é coisa que nunca existiu.

Aliás, até o registo mais modesto dos quatro, pertencendo a Aboubakar, com 15 golos, servir-lhe-ia para liderar a tabela dos marcadores em três temporadas deste período. Em 2005/06 e 2006/07, no final da jornada 25, ainda nenhum jogador tinha chegado aos 15 golos. Essa era a marca exata de Simão Sabrosa em 2002/03.

Liedson, em 2006/07, foi o melhor marcador da Liga com, precisamente, 15 golos, registo deveras modesto. Tinha 10 na jornada 25. No ano anterior, o melhor marcador da Liga foi Meyong, do V. Setúbal, com 17 golos, mas na ronda 25 tinha apenas 10. Aliás, o camaronês nem liderava o ranking nessa altura: era Nuno Gomes, do Benfica, que seguia na frente com 14 golos, mas nas nove jornadas que se seguiram marcou apenas um e acabou a época com 15.

Há ainda mais seis temporadas em que só um jogador marcou pelo menos 15 golos em 25 jornadas, sendo que na época 2007/08, que consagrou Lisandro López como artilheiro-mor, mais nenhum jogador atingiu a marca dos 15 golos...em toda a temporada.

«Não é o desnível que aumentou, é a qualidade dos jogadores»

De golos percebe João Tomás e foi do antigo avançado que o Maisfutebol se socorreu para analisar este registo inédito. O, agora, diretor desportivo do Famalicão, acredita que tudo se resume à qualidade dos jogadores em questão, embora tenha dificuldades em explicar tudo isto. O futebol, lá está, tem muitas variáveis e algumas bem difíceis de prever.

«Acho que estes números têm a ver com a qualidade dos jogadores, obviamente. Isso é inquestionável. E a qualidade da equipa também. Fala-se de um desnível maior, mas creio que não será por aí. A variável que é mais representativa será a questão da qualidade dos jogadores. Isso influencia e muito o rendimento e a taxa de sucesso nas ações», começa por dizer o antigo avançado.

João Tomás lembra, ainda, que «a própria tática das equipas pode potenciar isto». De facto, a presença de dois jogadores do FC Porto neste restrito leque poderá ter sido possibilitada pela alteração tática introduzida por Sérgio Conceição desde o início da época, apostando numa dupla de avançados em detrimento do tradicional homem de áreas.

A Liga já teve, ao longo dos anos, períodos em que teve, em simultâneo, goleadores como Jackson Martínez, Lima, Cardozo ou Slimani; Liedson, Benny McCarthy, Nuno Gomes ou Adriano; Hulk, Falcao, Cardozo ou Lima. Apenas alguns exemplos, entre outros nomes que fazem a história do golo na Liga. Mas nunca se viu nada assim.

João Tomás sorri perante a confrontação. «Os dados são frios e cruéis. Nesse sentido, são inquestionáveis», comenta. Salienta, contudo, que será sempre preciso uma avaliação. «Acredito que vários fatores possam influenciar este tipo de números. Até o número de minutos jogados, o que pode ter influência tanto este ano como no passado», lembra, embora, como se disse, excetuando Jonas, já todos os restantes membros do quarteto tenham falhado jogos da Liga por lesão.

«Se é mais fácil marcar agora? Acho que não. Acho que nunca foi fácil marcar golos. Não devemos classificar como fácil ou difícil a marcação dos golos. Acredito que cada vez mais há um estudo por parte das equipas técnicas daquilo que é o jogo da sua própria equipa e do adversário. Isso implicaria, por um lado, tirar vantagens porque os jogadores têm mais informação, mas os rivais também. Acho que há cada vez menos surpresas. E por isso acredito que a variável mais significativa será a qualidade dos jogadores na finalização», insiste.

Deste quarteto, João Tomás não tem dúvidas: «Marega será a surpresa maior. A envolvência da própria equipa tem permitido o sobressair das individualidades e ele tem aproveitado bem.»

De qualquer forma, Aboubakar está a fazer a melhor época da carreira e Jonas, como se disse, nunca tinha chegado a este momento com números destes. Apenas Bas Dost apresenta uma ligeira quebra, face aos 22 golos que tinha marcados na época passada à 25.ª jornada.

João Tomás salienta o rendimento do líder Jonas. «Ele tem quê, 30 ou 40 por cento dos golos do Benfica? [Ndr. O número exato é de 44 por cento]. Isso diz muita coisa. Pode parecer estranho, mas não creio que seja para quem está dentro do que é o futebol. Os jogadores têm qualidade, os planteis têm qualidade, os conceitos de jogo são cada vez mais elaborados e permitem maior número de finalizações e isso, claro, contribui, e de que maneira, a qualidade, a definição final», sublinha.

«A marcação de golos está inerente ao que tem sido o rendimentos dos próprios coletivos. Quem faz mais golos ganha mais vezes, é óbvio», encerra.

Jogadores acima dos 15 golos à 25.ª jornada:

2017/18: Jonas (Benfica), 30; Bas Dost (Sporting), 20; Marega (FC Porto), 20; Aboubakar (FC Porto), 15

2016/07: Bas Dost (Sporting), 22; Soares (V. Guimarães/FC Porto), 16; André Silva (FC Porto), 15

2015/16: Jonas (Benfica), 26; Slimani (Sporting), 18; Mitroglou (Benfica), 15

2014/15: Jackson Martínez (FC Porto), 17

2013/14: Jackson Martínez (FC Porto), 16

2012/13: Jackson Martínez (FC Porto), 23; Cardozo (Benfica), 16; Lima (Benfica), 15

2011/12: Lima (Sp. Braga), 19; Cardozo (Benfica), 18

2010/11: Hulk (FC Porto), 21

2009/10: Falcao (FC Porto), 20; Cardozo (Benfica), 20

2008/09: Nené (Nacional), 18

2007/08: Lisandro López (FC Porto), 21

2006/07: Nenhum

2005/06: Nenhum

2004/05: Liedson (Sporting), 20

2003/04: Adriano (Nacional), 17; Benny McCarthy (FC Porto), 16

2002/03: Simão Sabrosa (Benfica), 15

2001/02: Jardel (Sporting), 30; Derlei (U. Leiria), 17

2000/01: Pena (FC Porto), 17; Van Hoijdoonk (Benfica), 17; Hassan (Farense), 15