«Não digo que seja bipolaridade mas temos oscilado de boas para más exibições. Penso que isso depende já do caráter do grupo e da mentalidade com que vai para o jogo. Penso que é isso.»

A ANÁLISE DE DANILO PEREIRA:



Os jogadores do FC Porto foram confrontados com o tema na zona mista pós-Liga dos Campeões, momento único de contacto livre com diversos elementos do plantel. Entre outros temas, Danilo Pereira apresentou uma explicação para a indesmentível oscilação dos dragões.

A crónica e os destaques do FC Porto-Chelsea (2-1)

Após o sensacional triunfo frente ao Chelsea, Julen Lopetegui voltou a resumir essa questão à incontrolável felicidade. Provavelmente, para defender o grupo. Os jornalistas insistem na pergunta a cada ocasião, chegando ao ponto de incomodar o treinador, e este responde com a sua perspetiva.

«Como explica que em outros jogos, frente a adversários teoricamente menos cotados, o FC Porto por vezes pareça uma equipa desorientada, que certamente não é?»

«Tínhamos uma vontade enorme de vencer o Moreirense»

A pergunta, forte, mereceu um desabafo de um elemento da equipa técnica que assistia à conferência. É notório o desconforto. Lopetegui, sem perder desta vez a compostura, respondeu assim:

«Bem, é a tua opinião. Tratamos sempre de encarar cada jogo com a máxima vontade de vencer, de fazer as coisas bem. Cada jogo é um mundo, é diferente. Não é o mesmo jogar contra uma equipa ou outra. Mas posso assegurar que nós tínhamos uma vontade enorme de vencer o Moreirense, como temos em todos os jogos. É a única coisa em que estamos focados. Quem pensa o contrário equivoca-se.»

«Às vezes acerta-se, outras não, és mais ou menos feliz, cometes erros, mas a vontade e atitude dos rapazes é indiscutível, assim como a nossa vontade de vencer cada jogo, não importa quem jogue, é indiscutível. Quem pensa o contrário está em outro mundo, com todo o respeito.»


A reação de Lopetegui antes do Moreirense

A reação de Lopetegui depois do Moreirense



É uma questão mental, seguramente, mas vai merecendo análises diversas. A de Danilo Pereira, reconhecendo «más exibições» em alguns jogos, falando até em «caráter do grupo» e «mentalidade», é uma delas. De novo o médio, uma de várias caras novas no plantel. Outro fator decisivo.

«É início de época, temos vindo a gerir o esforço físico, a oscilação penso que acaba por ser normal. A minha exibição? Foi um jogo diferente, mais intenso da minha parte, em que consegui estar melhor fisicamente e corrigir certos aspetos em que não estive bem nos últimos jogos.»

Iker Casillas, sem ir mais longe, disse apenas que a equipa tem de «pensar em todos os jogos de igual forma, seja contra o Chelsea ou o Moreirense». E Yacine Brahimi, que voltou a brilhar na Liga dos Campeões, garantiu não sentir maior motivação na prova milionária.

«Esse é o vosso ponto de vista, tenho a mesma motivação em todos os jogos, de fazer o melhor possível, seja na Champions ou no campeonato. São duas grandes competições que tenho a ambição de vencer. A equipa? A verdade é que procuramos dar sempre o máximo em todos os jogos, mas por vezes as coisas não correm como esperamos. De qualquer forma, pensamos sempre em dar 100 por cento. Hoje estamos felizes e tentaremos fazer uma época regular.»

Números provam a oscilação é real mas não no Dragão

Os números não apresentam explicações que podem entrar no campo da psicanálise nem refletem cenários: o FC Porto tem uma equipa nova, essencialmente jovem, em processo de construção. Mas são dados concretos, que devem merecer reflexão.

Em oito jogos realizados na época 2015/16, a formação azul branca apresenta uma eficácia total em casa – 100 por cento de vitórias - e evidente oscilação fora de portas – três empates em quatro.

As estatísticas assentes em resultados negligenciam exibições – a equipa jogou mais em Moreira de Cónegos que no Funchal, como jogou mais no Clássico do que frente ao Estoril – mas são o único caminho incontestável.

A grande força deste FC Porto é o Estádio do Dragão, onde o calor dos adeptos pode servir como fator de motivação e igualmente de responsabilidade. Ali, o grupo não oscila e prolonga séries históricas. A boa notícia para os azuis e brancos: seguem-se mais três jogos consecutivos naquele reduto.

O plantel às ordens de Lopetegui conseguiu até melhorar os índices na condição de visitado. Nesta altura tem 4 vitórias em 4, 8 golos marcados e apenas 1 sofrido (frente ao Chelsea). Isso traduz-se na média de 2 golos por jogo para o FC Porto e 0,125 para os adversários. Na época anterior, o FC Porto teve uma percentagem alta de vitórias em casa (84,7 por cento), contra 0,77% de empates e 0,77% de derrotas. Média superior de golos marcados em 2014/15 (2,58) e de golos sofridos (0,42).

Os dragões não conquistaram títulos na temporada passada mas foram ligeiramente superiores ao campeão Benfica nos jogos realizados em casa. Maior percentagem de vitórias, menor percentagem de empates e derrotas. Mais golos marcados. Apenas uma pequena diferença, para pior, nos golos sofridos.



O peso indesejável de empates fora do lar


Em 2014/15, como na época atual, o grande desafio do FC Porto passa pelo reforço de poderes longe do Estádio do Dragão. A oscilação vem – essencialmente - daí.

De novo o campeão Benfica a servir como ponto de comparação: os portistas venceram menos, também perderam menos mas, diferença gritante, averbaram nove empates fora do lar contra apenas três dos encarnados. Ou seja, foram 18 pontos por conquistar. Marcaram menos e sofreram mais que o Benfica.

Nesta temporada o FC Porto terá de encontrar um ponto de maior equilíbrio – sobretudo mental – nas deslocações.

Os primeiros sinais não são particularmente motivadores para os adeptos: quatro jogos, três empates, oito golos marcados e seis golos sofridos. A defesa azul e branca ainda não regressou a casa com a baliza inviolada.

Os dragões perderam pontos frente a Marítimo (1-1), Dínamo Kiev (2-2, Liga dos Campeões) e Moreirense (2-2), vencendo apenas em Arouca (1-3).

Estes números seriam naturalmente insuficientes para apontar a títulos na época passada. O cenário atual é diferente e dependerá da força de adversários. Mas o FC Porto tem argumentos técnicos para atingir um patamar à altura da sua exigência, sobretudo em jogos do campeonato, onde o empate não é mal menor.  É, pois, uma questão mental.