Condicionado por um início de época rico em lesões, o Borussia Dortmund não conseguiu vencer nenhum dos três jogos prévios à visita ao Sporting. O empate caseiro com o Hertha deixou a liderança da Bundesliga a quatro pontos de distância, um atraso já algo significativo, ainda para mais se tivermos em conta como o Bayern tem «passeado» nas últimas edições da prova.

O boletim clínico tem atrasado a evolução de uma equipa que perdeu Hümmels, Mkhitaryan e Gundogan, mas que em contrapartida recuperou Götze e ainda garantiu Schürrle, Rode e Bartra, para além de jovens talentos como Raphael Guerreiro, Dembelé, Emre Mor ou Merino.

No que diz às ideias da equipa, pouco ou nada mudou relativamente à época passada, quando o Borussia Dortmund conseguiu duas vitórias sobre o FC Porto nos oitavos de final da Liga Europa. Thomas Tüchel continua a conciliar ponderação e verticalidade. A equipa, habitualmente apresentada em 4x2x3x1 ou 4x1x4x1, quer sempre ter a bola e é paciente na forma como espera pelo momento certo para atacar, com uma primeira fase de construção muito competente, mas depois, quando encontra o desequilíbrio, sabe explorá-lo com rapidez e qualidade. 

Onze base

Fiel aos seus príncípios, mas simultaneamente versátil taticamente, Tuchel espera que os seus defesas assumam papel relevante na primeira fase de construção de jogo, pois isso liberta outros jogadores que procuram criar linhas de passe dentro do bloco defensivo do adversário. Os centrais têm mesmo carta branca para avançar no terreno com a bola controlada (e «queimar linhas» em condução) se não tiverem oposição.

Primeiro golo no reduto do Wolfsburgo: Bartra aproveita o espaço para avançar com a bola controlada e depois faz o passe para a entrada do interior Raphael Guerreiro, entre lateral direito e central.
Quarto golo no reduto do Wolfsburgo: subida com a bola controlada por parte do outro central (Sokratis), e passe para a entrada do outro interior (Castro) entre central e lateral.

Muitas vezes a estratégia passa pela «saída a três», ora através do recuo de Weigl, ora com um dos laterais (normalmente o direito) a formar uma linha com os centrais, enquanto que o outro lateral dá largura (no flanco oposto é o extremo que faz).

Curiosamente, no jogo com o Leverkusen o Borussia apresentou uma solução mista, com Raphael Guerreiro a aparecer como lateral esquerdo em organização defensiva, mas depois, quando a equipa recuperava a posse de bola, a aparecer como médio interior.

A forma como cria desequilíbrios na zona central é, porventura, o maior trunfo do Borussia. Uma espécie de força interior. O que alimenta o interesse para o duelo com o Sporting, tendo em conta a forma como Jorge Jesus procura também criar superioridade nessa zona, ainda que de forma muito diferente. 

Tuchel requer sempre dois ou três jogadores a explorar o espaço entre linhas, daí que dispense o recuo dos médios interiores ou até do «10», à procura da bola em zonas recuadas. O Dortmund tem jogadores muitos competentes neste capítulo, desde Götze (algo apagado até ao momento), Castro (três golos e seis assistências), Rode, Kagawa, Sahin ou mesmo Raphael Guerreiro, que tem feito vários jogos como interior e já soma três golos e três assistências.

Centrais constantemente à procura de passes verticais para os médios interiores
Aqui é o extremo direito que aparece em zona interior a receber um passe do central, com o lateral a dar largura

Minimizar a influência do jogo interior é um excelente ponto de partida para anular o Borussia Dortmund. Exemplo disso é a derrota sofrida em Leverkusen, jogo em que Kampl e Aranguiz foram exímios em anular os médios interiores do Dortmund (Rode e Castro), com a ajuda dos extremos.

Kampl e Aranguiz sempre atentos aos médios interiores do Dortmund, com os extremos do Leverkusen a desempenharem também um papel muito importante a cortar a linha de passe para esses elementos

Outra ideia fulcral no modelo de jogo do Dortmund é uma reação rápida e intensa à perda de bola, que muitas vezes anula de imediato a transição do adversário e permite uma espécie de contra-ataque refletivo. Uma estratégia que tem riscos inerentes, já que ao «liberalizar» essa pressão impulsiva, a equipa cria crateras defensivas nas costas.

Vários jogadores pressionam de imediato o portador da bola, após a perda da mesma
Jogadores do Dortmund tentam pressionar o portador da bola e fechar as linhas de passe mais próximas, mas deixam buraco na zona central

Embora tenha deixado fugir a vitória em Dortmund, com um golo sofrido perto do fim, o Real Madrid foi muito perspicaz a transformar esta ameaça em benefício próprio, oferecendo sempre vários apoios ao jogador sob pressão (da qualidade de Modric, Kroos ou James), lançando depois as transições de Bale e Ronaldo.

Em organização defensiva o Dortmund é uma equipa que tenta frequentemente condicionar o adversário logo à saída da área, para forçar o erro ou a aposta num futebol mais direto, o que implica também que a última linha defensiva jogue bastante subida no terreno.

De referir ainda que os lances de bola parada apresentam um peso muito reduzido no saldo de golos do Borussia Dortmund, tanto a favor como contra, ainda que no plano defensivo se note alguma debilidade na cobertura aérea do segundo poste, até pela modesta média de estatura da equipa.

A FIGURA:

Pierre-Emerick Aubameyang: com Marco Reus a recuperar de lesão grave e Mario Götze distante da última imagem deixada em Dortmund, o avançado gabonês vai assumindo o protagonismo maior no Borussia, ainda que o excelente arranque de Raphael Guerreiro mereça uma mensão honrosa. Com oito golos marcados em dez jogos, Aubameyang parece motivado para continuar a superar sempre os registos da época anterior. Finalizador de faro apurado, é muito forte a executar movimentos de rutura (tanto entre os centrais como entre o central e o lateral). A isto junta ainda competência a tabelar de costas para a baliza, privilegiando passes laterais de primeira a devoluções para trás, com o intuito de aproximar a equipa da baliza contrária.