Ponto forte: Jardim de equilíbrio
O processo foi trabalhoso e difícil, mas este Mónaco já se moldou a uma imagem de marca de Leonardo Jardim, que é o equilíbrio das suas equipas. O adversário europeu do Mónaco apresenta sempre um bloco muito compacto, coeso, sobretudo em organização defensiva. A equipa raramente de desequilibra, com todos os jogadores bem cientes do papel que têm de desempenhar, e sempre disponíveis para o cumprir. Dos onze golos sofridos pelo Mónaco, até ao momento, apenas dois foram em situações de contra-ataque, o que mostra que se expõe pouco; golos sofridos quando a equipa estava organizada defensivamente foram apenas quatro, o que é também um bom registo. O problema não está aqui…

Ponto fraco: bolas paradas
São os lances de bola parada que mais fazem tremer a defensiva do Mónaco. Dos tais onze golos sofridos, até ao momento, cinco surgiram na sequência de jogadas deste tipo. Destaque para os quatro penáltis cometidos (Subasic defendeu um deles, curiosamente o único em que se atirou para a sua direita), aos quais se soma um livre indireto e um livre direto (de Carlos Eduardo, emprestado pelo FC Porto ao Nice). Dados que apenas atestam a intranquilidade que a equipa evidencia nestes momentos do jogo, e que têm provocado muitos calafrios a Subasic.

A figura: João Moutinho
É o único jogador de campo do Mónaco que foi titular em todos os encontros desta época, e só não disputou todos os minutos porque Leonardo Jardim decidiu substituí-lo já no período de descontos do jogo com o Zenit. Continua, por isso, a exibir a regularidade que lhe é bem conhecida, não só na disponibilidade física como também no rendimento. É que mesmo nos momentos de menor fulgor, como agora, continua a ser um elemento imprescindível. Com a saída de James Rodríguez para o Real Madrid teve de assumir um pouco o estatuto de condutor da equipa, embora o seu perfil não seja propriamente esse. De qualquer forma já leva dois golos apontados, incluindo o da vitória sobre o Leverkusen, na ronda inaugural da Liga dos Campeões.

Onze base:



SUBASIC: ultrapassada a ameaça da chegada de Valdés, o guarda-redes croata tem dado continuidade às boas exibições da época anterior, apesar de ter agora a concorrência de Stekelenburg. Forte sobretudo entre os postes, com reflexos muitos apurados.

FABINHO: emprestado novamente pelo Rio Ave, o jovem lateral brasileiro conserva a titularidade com um perfil discreto, pouco dado a riscos ofensivos, embora isso não evite os erros que vai cometendo com alguma frequência.

RAGGI: também experiente, embora não tanto quanto Ricardo Carvalho, o central italiano tem revelado um bom entendimento com o português, destacando-se também pelo sentido posicional e pela leitura de jogo.

CARVALHO: o central que regressou recentemente à Seleção Nacional dispensa apresentações. Não tem a velocidade de outros tempos, mas a classe continua intacta, como se vê pela forma como antecipa as jogadas e tira o pão da boca aos adversários.

KURZAWA: jovem lateral esquerdo francês, protagonizou recentemente um episódio infeliz, com um festejo precoce no «playoff» de sub-21 que os suecos aproveitaram depois para lembrar nos festejos. Asneiras próprias da idade, num jogador com condições físicas e técnicas para se tornar um grande lateral esquerdo. Forte no processo defensivo, ataca também com muita qualidade, tirando partido da velocidade e dos cruzamentos. É, de resto, o «rei das assistências» da equipa, com dois passes para golo.

TOULALAN: médio de grande inteligência tática, só com 31 anos, embora o físico deixa a ideia de que soma mais. É o elemento mais posicional da zona intermédia e apaga inúmeros fogos, sobretudo nas laterais, para além da qualidade que aplica à primeira fase de construção de jogo.

KONDOGBIA: um portento físico, um pouco à semelhança de Pogba ou Matuidi, mas ao qual falta ainda aumentar a área de influência, melhorar a capacidade para conciliar as preocupações defensivas, ao lado de Toulalan, e a capacidade para aparecer em zonas mais adiantadas, tal como Moutinho.

FERREIRA-CARRASCO: o extremo belga de apenas 21 anos tem recursos técnicos apurados e incute enorme dinâmica ao ataque, num estilo bem irreverente, mas precisa de definir melhor as jogadas no último terço, seja para servir um colega ou para finalizar.

BERBATOV: consumada a saída de Falcao, no último dia de mercado, o búlgaro tornou-se a opção inevitável para a frente de ataque, mas até ao momento conseguiu apenas dois golos, os mesmos que o colombiano marcou nos 128 minutos que jogou antes de rumar a Manchester). Fica a ideia, contudo, que Berbatov tem sido mais vítima do perfil atual da equipa do que propriamente réu.

OCAMPOS: um ano mais novo do que Ferreira-Carrasco, mas com um perfil idêntico. A uma qualidade técnica indiscutível falta apenas juntar maior consistência exibicional, algo normal para quem tem apenas 20 anos. No fundo trata-se apenas de rentabilizar mais o talento.

Outras opções:
Leonardo Jardim é muito fiel ao «onze base» acima apresentado, e a prova disso é que apenas um daqueles jogadores foi titular em menos de ¾ dos jogos (nove de doze): Ocampos. Tal como acontecia no Sporting, Leonardo Jardim tem de lidar com extremos talentosos mas irregulares, e essas são as opções menos estáveis, por assim dizer. Germain, jogador formado no clube, é outra opção para os flancos, embora possa jogar também numa posição mais central. Bernardo Silva também já apareceu como titular no lado direito do ataque, e o técnico português tem ainda Martial, que participou em oito jogos mas apenas um de início. O jogador de 18 anos pode jogar como extremo ou no centro do ataque, mas Jardim ganhou recentemente uma alternativa muito válida a Berbatov: Lacina Traoré. Depois de um empréstimo ao Everton o avançado marfinense de 2,03 metros falhou o início de época devido a lesão, mas no passado fim-de-semana estreou-se na convocatória e teve entrada direta no «onze», por força da ausência de Berbatov. 
 
Recrutado ao Rennes no início da época, com apenas 20 anos, Bakayoko tem sido a alternativa a Toulalan ou Kondogbia no meio-campo defensivo, embora por vezes Leonardo Jardim opte por recuar Moutinho e lançar um elemento mais ofensivo, como Germain ou Bernardo Silva. 
 
O setor defensivo tem mais duas alternativas com ligações ao futebol português, e mais concretamente ao Sp. Braga: o nigeriano Elderson, alternativa a Kurzawa no lado esquerdo, e o central brasileiro Wallace, que chegou ao Mónaco já com a época a decorrer, emprestado pelos «arsenalistas». A outra opção para o eixo defensivo é Abdennour, que foi emprestado ao Toulouse no início do ano e depois contratado definitivamente. Custou 13 milhões de euros e até começou a temporada como titular, mas com alguns erros cometidos, e depois de uma lesão, já ultrapassada, parece ter o caminho da titularidade tapado. Dirar é o habitual substituto de Fabinho, mas também joga ocasionalmente como extremo, a sua posição de raiz.

Análise detalhada:
Para quem desembolsou cerca de 180 milhões de euros no ano de regresso ao principal escalão do futebol francês, o verão de 2014 foi bem mais tranquilo para o Mónaco. Ainda assim o emblema liderado pelo russo Dmitry Rybolovlev gastou 24 milhões de euros no último defeso, mas perante um encaixe de 95 milhões de euros, conseguido à custa do enfraquecimento evidente do plantel, por força das saídas de James Rodríguez e Radamel Falcao, sobretudo.

Recrutado ao Sporting, Leonardo Jardim acabou por deparar-se com um travão russo no investimento, algo que talvez não esperasse, e teve de moldar a condução a isso. Centrou-se ainda mais naquela que é uma das suas imagens de marca, que é a forma equilibrada com que as suas equipas se apresentam normalmente. Uma característica que Jardim procuraria sempre, mas para sustentar o talento de jogadores como Falcao ou James. Privado dos colombianos, e também de substitutos à altura, o técnico português teve de olhar para o equilíbrio como a base de tudo.

Embora a realidade dos clubes seja bem diferente, Jardim volta a ter de fazer muito com pouco, tal como no Sporting. E taticamente até há várias ideias que foram levadas de Alvalade para o Mónaco. Desde logo a dinâmica do meio-campo, que faz a equipa oscilar entre o 4x2x3x1 e o 4x3x3. Há um elemento mais posicional (Toulalan, tal como era William, embora com um perfil completamente diferente), depois um jogador que tanto fecha defensivamente ao lado do «trinco» como depois de liberta um pouco mais ofensivamente, ligeiramente descaído à direita (Kondogbia como Adrien, embora mais físico e menos técnico que o português) e depois um terceiro elemento que funciona tanto como interior direito como aparece depois a «10» (Moutinho como André Martins).

Com Toulalan a assumir a primeira fase de construção de jogo e Moutinho a procurar alimentar as unidades mais ofensivas, o Mónaco aposta numa posse de bola sólida e paciente. Por vezes em demasia, talvez, mas intencional. É uma equipa muito tranquila, à imagem do seu treinador. Que encara todos os momentos do jogo com muita ponderação.

Em organização defensiva o Mónaco é, como já se disse, uma equipa muito coesa, com as linhas bem compactas. A equipa dispõe-se em 4x4x2  [imagem A da galeria acima apresentada] , com Moutinho a fazer a primeira linha de pressão com o ponta de lança (Berbatov), procurando forçar o adversário a um jogo mais direto. Os extremos recuam sempre com enorme rigor para a segunda linha, ao lado dos médios mais defensivos (Toulalan e Kondogbia, ou eventualmente Bakayoko). Muitas vezes Moutinho acaba por reforçar também esta segunda linha, como quinto elemento, assim que a equipa contrária ultrapassa a primeira barreira. Os laterais fecham bem o espaço junto dos centrais, obrigando o adversário a procurar o jogo exterior, mas a equipa oscila bem na resposta, ainda que o lado direito do Mónaco, com Fabinho a lateral e Raggi a central, seja bem mais permeável do que o lado esquerdo, que tem Kurzawa a lateral e Ricardo Carvalho a central, para além de Kondogbia, sempre ligeiramente descaído para esse flanco. Referência ainda para alguma tendência do Mónaco desproteger a entrada da área, quando o adversário consegue ir à linha cruzar, e muitas vezes a bola acaba por ser metida para essa zona, rasteira.

A postura prudente do Mónaco deixa pouco espaço para transições, tanto ofensivas como defensivas, como provam apenas dois golos marcados e dois golos sofridos dessa forma, para um total de onze golos festejados e outros tantos lamentados.

No que diz respeito às bolas paradas  [imagens B, C e D],  é preciso ter em conta o peso considerável dos penáltis, que se vê sobretudo na vertente ofensiva (dois dos três golos de bola parada são pontapés da marca de onze metros). No plano defensivo as grandes penalidades correspondem a três dos cinco golos sofridos, e uma análise aos doze jogos realizados pelo Mónaco confirma que as bolas paradas são muito mais uma dor de cabeça do que um trunfo para a formação treinada por Leonardo Jardim.