O Liverpool é uma equipa que dispensa apresentações. É clube histórico, entra-nos todos os fins de semana pela casa dentro, através da TV e que conta nas suas fileiras com alguns dos melhores intérpretes da atualidade.
O Liverpool é um gigante doente: não vence qualquer troféu desde 2011/12, com Kenny Dalglish no comando técnico. Este ano, os reds voltaram a começar a época de forma irregular. Em dez jogos venceram metade, perderam dois e empataram três.
O ciclo de resultados inconstante prolongou-se até à derrota sofrida frente ao Tottenham (4-1), em Wembley. A partir desse jogo, os homens de Klopp disparam para uma série de 18 jogos sem perder: 13 vitórias e cinco empates. Sofreu uma quebra – dois desaires seguidos – até retomar a senda vitoriosa.
Equipa habitual:
É um Liverpool à imagem do heavy metal preconizado por Klopp desde os tempos do Borussia Dortmund. Os reds caracterizam-se por ser uma equipa intensa, vertiginosa e fortíssima nas transições. É também uma equipa impaciente quando obrigada a jogar em ataque posicional – dificuldades agudizadas após a saída de Coutinho - e que, por vezes, se expõem em demasia. Ainda assim, um modelo de jogo pensado para privilegiar os pontos fortes dos homens da frente: a velocidade de Mané e Salah. Alimentados pelo subestimado Firmino, pois claro.
No plantel do Liverpool há jogadores de qualidade mundial e que merecem especial atenção por parte do FC Porto: Mohamed Salah, Roberto Firmino e Sadio Mané. Criativos, incisivos e velozes.
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
No papel esta equipa inglesa apresenta-se em 4x3x3 na grande maioria dos jogos, embora em determinados jogos, Klopp tenha experimentado o 4x4x2, retirando Firmino do jogo e lançando um quarto médio como Lallana ou Milner, já que o alemão tem alternado entre Henderson e Can (suspenso para a primeira mão), na posição seis.
O médio germânico de origem turca, juntamente com Wijnaldum, é quem permite ao Liverpool descansar com bola. Mais cerebral que os restantes, estes dois tentam oferecer aos reds o controlo do jogo. Porquê? A explicação é simples. A equipa da cidade dos Beatles tem como princípio explorar as maiores qualidades dos homens da frente, através de sucessivos lançamentos para as costas da defesa contrária, com Salah e Mané a posicionarem-se em terrenos ligeiramente mais interiores, de forma a conseguirem explorar o espaço entre central-lateral. Em momentos de transição rápida, Firmino tenta aconchegar perto dos colegas de ataque para dar apoio, procurando raras vezes movimentos de ruturas.
Em ataque organizado, Firmino assume outro papel. Deambula por troca a frente de ataque, em constantes permutas com o egípcio e o senegalês. Quando não descai para uma das faixas, o brasileiro assume a posição de pivô, procurando o espaço entrelinhas para servir os seus companheiros, ou para solicitar a subida dos laterais (são quem dá largura) e procurar rapidamente espaço na área.
Há vários movimentos padrão no jogo do Liverpool, em ataque posicional. Quando começa a construir desde a entrada da área, os laterais projetam-se e dois médios recuam para assumir o jogo, enquanto o terceiro se esconde nas costas dos médios contrários junto a Firmino.
Superada a primeira linha de pressão, um dos médios tem por princípio abrir no corredor, permitindo que o extremo esteja sempre em zonas interiores. Este movimento padronizado ocorre com maior frequência do lado direito, com Chamberlain – extremo de origem – a abrir na faixa, permitindo que Salah continue em terrenos mais interiores, perto da baliza contrária para criar ou finalizar. Naturalmente tem sempre o apoio dos laterais que se posicionam bem junto à linha lateral, de forma a dar largura.
O outro movimento acima referido prende-se com as ruturas do médio do lado contrário à bola. Firmino procura arrastar os centrais contrários, arrastando-os para zonas mais próximas da linha média. Quando existe arrasto, gera-se espaço para as entradas dos médios de Wijnaldum ou de Milner (quando joga).
Para além das ruturas dos homens da linha média, a equipa de Sérgio Conceição terá de ter atenção às diagonais dos extremos quando o Liverpool está em ataque posicional.
Para contrariar as mais-valias do conjunto britânico em transição, o FC Porto terá de reagir de imediato à perda da bola para não permitir lançamentos rápidos. Outras das formas de controlar a profundidade será pedir ao guarda-redes para jogar ligeiramente mais subido, assumindo um papel de líbero. Em jogo posicional, os dragões podem colocar os seus laterais a fechar por dentro e ao mesmo tempo solicitar ao médio defensivo que faça uma espécie de parede, colocando-se à frente de Firmino impedindo-o de receber. Além das opções acima enumeradas, os portistas devem manter as linhas juntas para impedir a criação de espaço a linha defensiva e intermédia.
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
É impossível dissociar o momento ofensivo do momento defensivo. A forma como se ataca irá sempre determinar a forma como se defende e vice-versa. Portanto, o modelo de jogo idealizado pelo técnico alemão deixa a sua equipa demasiado exposta. Laterais abertos e profundos, extremos bem dentro e dois médios a equilibrar. Se a reação à perda não impedir a saída contrária, os reds sofrem.
O Liverpool opta por iniciar a pressão desde a saída de bola do guarda-redes. Os extremos pressionam os centrais, enquanto Firmino tenta impedir que o médio defensivo contrário receba. Porém, quando os laterais passam a linha do meio-campo Salah fica e um dos médios quem salta na pressão.
Uma das maiores lacunas da formação do norte de Inglaterra está na organização defensiva, com especial enfoque para a linha média. Os médios reconhecem e interpretam os indicadores de pressão, mas não conseguem articular e organizar a pressão. É comum ver duas camisolas vermelhas a sair na pressão a um adversário, o que abre espaço nas costas. Assim, o adversário consegue facilmente receber entrelinhas.
O Liverpool tenta «empurrar» o adversário para as faixas, então depois pressiona para ganhar a bola. Como é normal cria espaço do lado contrário, porém, esperava-se que esse espaço fosse na zona lateral do lado contrário. Porém, às vezes, esse espaço surge entre o médio e o extremo do lado contrário, devido ao posicionamento de Salah. É raro ver o egípcio fazer piques atrás do lateral adversário, Klopp deixa-o na frente para as tais transições. Firmino, de quando em vez, sacrifica-se e tenta fechar no corredor direito e Mané – mesmo enquanto tem fôlego – é pouco rigoroso tacticamente.
Esta falha pode ser aproveitada pelo FC Porto, colocando os extremos por dentro, por exemplo.
Por último, nota para as segundas bolas. O Liverpool apresenta, pelo que foi possível analisar, dificuldades tremendas na conquista da segunda bola. Invariavelmente, os reds perdem a segunda bola após livre laterais ou pontapés de canto, permitindo que o adversário remate à baliza ou continue em posse. O golo de Wanyama, no empate a dois frente ao Tottenham, é um bom exemplo da incapacidade do Liverpool em controlar as segundas bolas.
Em suma, o Liverpool é uma equipa com várias fragilidades, disfarçadas por um ataque demolidor. Caso o FC Porto faça uma ocupação racional do espaço, procure passes verticais (para explorar espaço entre linhas) e controlem a profundidade podem sorrir quarta-feira, ao fim da noite. A juntar a todos os aspetos elencados, terá de existir muita comunicação dentro de campo para não cair nas trocas posicionais dos jogadores do emblema inglês.
BOLAS PARADAS
O Liverpool é uma equipa que procura aproveitar o quinto momento do jogo, bolas paradas entenda-se, para chegar ao golo. E com algum sucesso, diga-se de passagem, fruto do poderio aéreo de jogadores como Matip, Lovren ou Van Dijk. Aliás, o holandês recentemente contratado ao Southampton é a principal referência dos reds nas bolas paradas ofensivas. Por vezes ensaiam o canto curto, para desmobilizar equipas que marcam à zona, embora nunca tenham sido bem-sucedidos quando tentaram (nos jogos analisados).
No capítulo defensivo, a formação de Klopp opta por fazer uma marcação à zona, na grande maioria das vezes. A exceção acontece quando o adversário tem um ou mais jogadores muito fortes no jogo aéreo, optando o técnico germânico por fazer uma marcação mista.
A FIGURA: Salah
Figura maior dos reds após a saída de Coutinho, em janeiro. A cidade eterna tornou-se demasiado pequena para o talento do egípcio. O Liverpool recrutou-o no último verão e Salah regressou em grande estilo à Premier League. Confirmou o crescimento anunciado ao serviço da Roma e este ano já apontou 29 golos em 35 jogos. Números fáceis de explicar pelo talento do jogador, sem esquecer as associações com Mané e sobretudo Firmino. Ruturas constantes, velocidade frenética, um drible curto desconcertante e uma capacidade de concretização fora do comum. Assim se apresenta Salah, o faraó.