Depois de ter defrontado o Vitória de Guimarães na fase de grupos, o Marselha cruza-se agora com o Sp. Braga nos 16-avos da Liga Europa, ao mesmo tempo que, a nível interno, luta pela melhor temporada dos últimos cinco anos.

Com o título francês aparentemente “reservado” já pelo PSG, o Marselha está de olhos postos no segundo lugar, um patamar que não alcança desde 2012/13 (depois disso foi 6º, 4º, 13º e 5º classificado da Ligue 1).

Embora tenha sido ultrapassada pelo Mónaco na última jornada, ao empatar em Saint Étienne (2-2), a equipa de Rudi Garcia tem feito uma campanha positiva, alicerçada também num ataque forte ao mercado de verão, bem patente no regresso de Mandanda ou na contratação de jogadores como Luiz Gustavo, Mitroglou e Germain, para além da permanência de Thauvin, que estava emprestado pelo Newcastle, ou mesmo Clinton N’Jié.

Habitualmente organizado em 4x2x3x1, o Marselha gosta de marcar o ritmo do jogo, preferencialmente moderado, como que a adormecer o adversário antes de lhe aplicar o veneno. E neste sentido a equipa vive muito da inspiração de jogadores como Thauvin, Payet ou Sanson no último terço.

Com liberdade de movimentos, os três jogadores que atuam nas costas do ponta de lança aparecem muitas vezes em terrenos próximos, à procura de situações de superioridade que permitam combinações rápidas.

Thauvin, Sanson e Payet, os três médios ofensivos, na mesma zona do terreno
Maxime Lopez, o ala esquerdo, aparece em zonas interiores, bem perto de Payet, o "10", e de Thauvin, o ala direito

Antes, porém, a qualidade da organização ofensiva do Marselha depende muito do contributo de Luiz Gustavo. O médio brasileiro pega no jogo junto dos centrais (entre eles, ou ligeiramente aberto numa das alas), e se tiver tempo e espaço para levantar a cabeça o Marselha consegue alimentar os criativos com muito mais qualidade.

Será importante para o Sp. Braga reduzir esta ligação e “obrigar” o Marselha a sair pelos laterais, algo que limita muito a criação de jogo do OM, sobretudo se estiver Sakai na lateral esquerda (a alternativa é Amavi). Bouna Sarr, primeira opção para o lado direito, oferece maior qualidade na saída, até por ser extremo de raiz, mas não é um jogador que desequilibre com frequência em termos ofensivos.

Muitas vezes isto conduz o Marselha a um futebol mais direto, do qual pouco beneficia, ainda para mais tendo em conta que o ex-benfiquista Kostas Mitroglou tem estado remetido a um papel secundário (titular em apenas 11 jogos, com 7 golos marcados).

Valère Germain está longe de ser uma referência para os duelos aéreos, mas em contrapartida, aos 27 anos, o ex-jogador do Mónaco parece atingir um ponto de maturação fantástico na forma de interpretar o jogo, sagaz a explorar os espaços e cada vez mais eficaz na finalização (13 golos e 5 assistências).

Os lances de bola parada têm sido uma dor de cabeça para o Marselha no plano defensivo, já que foi dessa forma que surgiram 16 dos 38 golos. Com cinco golos sofridos de canto e outros tantos na sequência de livres indiretos, a equipa de Rudi Garcia confirma carências no jogo aéreo.

Em transição defensiva a formação gaulesa também tem apresentado algumas debilidades, nomeadamente pelas alas, algo que está relacionado com a tal tendência para aproximar os três jogadores que jogam nas costas do ponta de lança, muitas vezes no corredor central. Isto aumenta a exposição dos laterais, sendo que depois a compensação acaba por ser feita pelo central, o que promove situações de igualdade numérica na área.

A cobertura do «duplo pivot» também deixa a desejar, e mesmo em organização ofensiva o Sp. Braga deve procurar soluções que deixem Luiz Gustavo mais desamparado à frente do quarteto defensivo, atraindo Anguissa/Sanson para momentos de pressão noutras zonas.

Importa ainda salientar que Steve Mandanda, o habitual dono da baliza do Marselha, saiu lesionado em Saint Étienne e vai parar duas semanas, pelo que deve falhar ambos os duelos com os «arsenalistas».

A fechar, nota ainda para um hábito invulgar do Marselha: no pontapé de saída (seja na primeira ou na segunda parte) a equipa francesa costuma atirar a bola diretamente para fora, pela linha lateral.

Organização defensiva do Marselha, em 4x4x2: Germain tem a preocupação de cortar a linha de passe para o médio defensivo, procurando que o central seja obrigado a jogar no lateral. Thauvin também se preocupa primeiro em fechar uma linha de passe na zona central, e só depois, quando a bola entra no lateral, é que o vai pressionar
Uma vez mais o Marselha a defender em 4x4x2
Assim que um dos alas prepara a pressão no lateral contrário, o ala contrário compensa por dentro, junto ao «duplo pivot»...
A mesma situação, mas do lado oposto, aqui já com Ocampos, o ala esquerdo, a começar a recuar

A figura: Florian Thauvin

Estamos em meados de fevereiro mas esta já será, provavelmente, a melhor temporada da carreira do talentoso esquerdino. Os números são impressionantes: melhor marcador da equipa, com 15 golos, e «rei das assistências», com 14 passes decisivos.

O lado direito é apenas o ponto de partida para uma liberdade desconcertante. Dispara alarmes nas defesas contrárias quando faz diagonais para o corredor central, dada a qualidade com que define normalmente as jogadas, e é muito perspicaz na área, seja a finalizar ao segundo poste ou a aparecer na zona de penálti.