Começam a tornar-se num habitué os golos apontados por jogadores do setor defensivo no Benfica. Nesta temporada, só nas dez primeiras jornadas da Liga, os defesas são responsáveis por seis dos 23 golos da equipa de Rui Vitória na competição.

Com o golo de Lisandro ao cair do pano no Estádio do Dragão, os encarnados somam agora tantos remates certeiros da autoria de elementos da linha mais recuada do terreno como em todas as 34 jornadas da época passada. Um registo notável para o qual o central argentino é o maior contribuinte, com três golos.

Numa análise comparativa aos três campeonatos anteriores, todos ganhos pelo Benfica, é possível verificar que nunca os encarnados chegaram à 10.ª jornada com este peso dos defesas na concretização ofensiva da equipa.

Mais perto nesta ronda só o Benfica na última época de Jorge Jesus na Luz (2014/15), que não apresentava mais do que quatro golos em igual período. Curiosamente, a veia goleadora dos defesas acabou por disparar no resto do campeonato, terminando a prova com 17 golos, naquele que foi o máximo histórico de jogadores do setor mais recuado da equipa da Luz numa edição da Liga.

Olhando para o último meio século, só por duas vezes, para além de agora, o Benfica atingiu a 10.ª jornada com seis remates certeiros de defesas.

Mais recentemente, aconteceu em 2008/09. Com Quique Flores ao leme, foi Sidnei quem vestiu a pele de central goleador, ao apontar três golos entre a 4.ª e a 8.ª ronda, aquela em que se chegou ao 6.º golo (Luisão marcou o 7.º na 11.ª jornada), podendo esse registo ser considerado ligeiramente melhor do que o alcançado no domingo passado no Dragão.

Depois, é preciso recuar até 1982/83 para encontrar semelhante pontaria. Quem era o defesa goleador das águias? Humberto Coelho, que ainda hoje é o central mais goleador da história dos campeonatos nacionais. Nessa temporada anotou um total de seis golos na Liga, metade deles até à 6.ª jornada: os restantes nas dez partidas iniciais foram marcados por António Veloso (2) e Alberto Bastos Lopes.

Agora, é Lisandro López quem veste a pele de central goleador, ele que só tinha apontado, até esta temporada, um golo de águia ao peito (na época passada, no triunfo por 2-0 sobre o Sp. Braga no Minho): agora, à 10.ª jornada, leva três remates certeiros (todos de cabeça), com a particularidade de dois deles (Tondela e FC Porto) terem sido anotados depois de sair do banco para substituir Luisão.

Ora, se seis golos (Lisandro x3, Grimaldo x2 e Nélson Semedo) representam 26 por cento do total da produção ofensiva do Benfica na Liga 2016/17, estes têm tido também um contributo importante para os cinco pontos que o tricampeão leva de avanço sobre os rivais Sporting e FC Porto: em Arouca, Nélson Semedo e Lisandro marcaram no triunfo por 2-1: três pontos dados por defesas a que há a somar o oferecido pelo central argentino no último sopro do Clássico no Dragão. Este só valeu um, mas teve a particularidade de tirar dois a um rival direto na luta pelo título. São já quatro os pontos que os jogadores do setor mais recuado resgataram para a equipa de Rui Vitória. Os mesmos do que em toda a época passada e em 2013/14 e menos um do que em 2014/15, ano em que os defesas demonstraram um inédito faro de golo.

Golos de defesas do Benfica nas últimas quatro edições da Liga

Ano

Marcadores

Golos

Pontos

2013/14

Garay x6, Luisão e Siqueira

8

4

2014/15

Maxi x5, Luisão x4, Jardel x4 e Eliseu x4

17

5

2015/16

Jardel x3, Lisandro, Lindelof e Nélson Semedo

6

4

2016/17 (até à 10.ª jornada)

Lisandro x3 Grimaldo x2 e Nélson Semedo

6

4