Benfica em linha, subindo, Sporting em franco crescimento e FC Porto em quebra. A análise que até se poderia realizar apenas do ponto de vista empírico, como simples observador do campeonato, é também justificada pelos números. Agora que o campeonato chegou ao número redondo das 30 jornadas e entra na sua reta final, é uma boa altura para um balanço comparativo? Quem ganha e quem perde? Entre os candidatos ao título o resumo que abre o artigo assenta como uma luva.

Desde logo a análise de um Benfica relativamente parecido com o de 2014/15. Rui Vitória, aliás, até consegue mais um ponto do que Jorge Jesus na temporada transata. É curioso, de resto, notar que o atual técnico do Benfica só perde para Jesus na época 2012/13, mesmo que os encarnados não tenham sido campeões nesse ano.

Esse Benfica somou 77 pontos nas 30 jornadas que durava o campeonato e foi, no registo pontual, o melhor de Jorge Jesus, mesmo que, em outras três ocasiões, o técnico tenha sido campeão com menos pontos ou, como aconteceu em 2009/10, com os mesmos que Rui Vitória agora somou.

É interessante, ainda, sublinhar que o Benfica deste ano marca mais golos (80 contra 73), mas também sofre mais (21 contra 15).

O Sporting, atual segundo classificado, é o emblema que mais cresceu entre os candidatos ao título. Pode, até, dizer-se, de certa forma que trocou de posição com o FC Porto, embora tenha mais dois pontos do que a equipa de Julen Lopetegui na mesma fase da época passada.

A verdade é que os leões somam mais oito pontos do que em 2014/15, enquanto o FC Porto soma menos oito do que na mesma temporada.

O Sporting de Marco Silva era terceiro, somava 66 pontos, marcava 59 golos e sofria 27. Jorge Jesus melhorou a equipa em tudo: é, agora, segundo classificado, com mais oito pontos (74), mais seis golos marcados (65) e menos sete sofridos (20).

Em sentido inverso, o FC Porto piorou em tudo. Lopetegui era segundo com 72 pontos, Peseiro é terceiro com 64. A equipa do ano passado marcou 67 golos nas 30 primeiras jornadas, a deste ano quedou-se pelos 57, ao passo que sofre mais do dobro (25 contra apenas 12).

Mesmo que o Benfica também sofra mais golos, a verdade é que o registo portista é bem pior: são mais 13 golos sofridos no mesmo número de jogos face a 2014/15. Parte das explicações para a quebra de rendimento também estarão nestes dados.

O FC Porto tem um número anormal de golos sofridos

O super-Arouca e o crescimento interessante de Rio Ave e Estoril

Apesar do registo interessante do Sporting, Jorge Jesus não é o treinador que mais melhorou uma equipa em relação à temporada transata. Essa honra cabe, claramente, a Lito Vidigal.

O Arouca deste ano praticamente só mantém as cores do equipamento. Tudo o resto é evolução. São vinte pontos a mais do que 2014/15, um registo absolutamente incrível. Na temporada transata, a equipa de Pedro Emanuel era 15ª classificada, apenas três pontos acima da zona de despromoção. Tinha um saldo negativo de 22 golos entre os marcados (23) e os sofridos (45). Esta época, com Lito Vidigal, o Arouca ocupa o 5º lugar em igualdade com o Rio Ave e bate às portas da Europa. O saldo de golos é positivo (+5), já que marcou 39, mais 16 do que no ano passado, e sofreu 34, menos 11.

Ninguém cresceu tanto como o Arouca

Embora longe do super-Arouca, há outras equipas em claro crescimento. Desde logo o Rio Ave que tem mais sete pontos do que na temporada passada. Pedro Martins foi o líder em ambas as campanhas e mostra um grupo em desenvolvimento.

Também com mais sete pontos do que em 2014/15 está o Estoril. Fabiano Soares, que pegou na equipa a meio da época passada, rendendo José Couceiro, tem conseguido um campeonato dentro das expectativas, longe das aflições do fundo da tabela e batendo, até, o registo anterior.

Ainda no campo positivo está o V. Setúbal. No caso dos sadinos, grande parte deste rendimento deve ser creditado à primeira metade da época, onde uma análise deste tipo certamente os deixaria perto do topo das equipas que mais subiram. A segunda volta é que está a ser mais difícil como prova a atual série de 11 jogos sem vencer.

Sp. Braga e Paços na mesma, V. Guimarães uma sombra

Antes de entrarmos nos emblemas que estão em quebra face à época passada, convém salientar dois casos de perfeita «imitação». E curiosamente, ambos com técnicos diferentes.

Paulo Fonseca tem, nesta altura, os mesmos 54 pontos que Sérgio Conceição tinha no Sp. Braga à 30ª jornada. Registe-se que a equipa marca mais golos (51-46), mas também sofre mais (28-19).

Já Jorge Simão, no Paços de Ferreira, tem também os mesmos 42 pontos que…Paulo Fonseca tinha na época passada. No campo dos golos, os pacenses de hoje sofrem também os mesmos golos (38) mas marcam mais (39-35).

No aspeto negativo, a equipa mais em quebra é, claramente, o V. Guimarães, que supera, inclusive, o FC Porto. Com um início de época atribulado sob a alçada de Armando Evangelista e uma série atual que também não ajuda (já são 10 jogos seguidos sem ganhar), a equipa, agora, de Sérgio Conceição tem menos 12 pontos do que a de Rui Vitória, na época passada (47-35).

Uma época abaixo das expectativas em Guimarães

Também o Moreirense está longe do que fez, mesmo mantendo, neste caso, o treinador. Miguel Leal tem menos sete pontos do que em 2014/15, o que também se explica, em parte, pelo mau início de temporada.

O Belenenses tem um registo parecido, com menos seis pontos, numa época que começou com Ricardo Sá Pinto e deverá terminar com o espanhol Júlio Velazquez, mas onde a falta de regularidade traiu os homens do Restelo.

Boavista e Académica ocupam posições parecidas com as que tinham no ano passado, lutando para não descer de Divisão, mas ambas têm menos pontos. Os do Bessa menos quatro, e os de Coimbra menos três, tal como o Nacional, de Manuel Machado.

O Marítimo segue, sensivelmente, em linha, com apenas menos dois pontos do que em 2014/15.

Classificação comparativa com a temporada passada:

1. Arouca (+ 20 pontos)

2. Sporting (+8)

3. Rio Ave (+7)

4. Estoril (+7)

5. V. Setúbal (+3)

6. Benfica (+1)

7. Sp. Braga (=)

8. Paços de Ferreira (=)

9. Marítimo (-2)

10. Nacional (-3)

11. Académica (-3)

12. Boavista (-4)

13. Belenenses (-6)

14. Moreirense (-7)

15. FC Porto (-8)

16. V. Guimarães (-12)

Ainda vai mudar algo até ao fim?

Se a história da época passada se repetisse, Benfica seria campeão

A quatro jornadas do final do campeonato pouco parece decidido nesta altura. Talvez as posições de FC Porto e Sp. Braga sejam mesmo as menos prováveis para sofrerem qualquer mudança. Aliás, os dragões podem confirmar matematicamente o terceiro lugar já na próxima ronda, em caso de triunfo.

O que é curioso notar é que, se a história da época passada se repetir, a classificação que agora vigora para os dados mais importantes, seria a mesma no final da temporada. Em 2014/15 foi assim: as quatro últimas jornadas nada mudaram.

Isto é, os seis primeiros classificados à 30ª jornada foram os mesmos no fim, pela mesma ordem. De igual modo, as equipas que acabaram por ocupar os dois últimos lugares (Gil Vicente e Penafiel) também já lá estavam a quatro rondas do fim.

Se no futebol não há dois jogos iguais, também é claro que não existem duas temporadas iguais, mas se a história se repetisse, o Benfica seria campeão, o Sporting segundo, o Arouca iria estrear-se nas provas europeias e desceriam Académica e Tondela.

Cenários…no futebol pouco valem, mas nunca é demais alertar para eles. O resto decide-se no campo.