A discussão não é nova e irá certamente continuar. Quem tem mais força no contributo para conquistar o título de campeão nacional: a estrutura de um clube e tudo o que aporta, ou a liderança e o conhecimento de um treinador? Esta época, o tema voltou em força devido à saída de Jorge Jesus do Benfica e à elevada curiosidade em saber-se se a estrutura dos encarnados em conjunto com a liderança de Rui Vitória seriam suficientes para superar as dificuldades da transição de um treinador que esteve ao comando de uma equipa com vários troféus durante seis anos.

Vamos a factos:

  1. Dos 80 campeonatos, apenas 52 vezes (65%) o treinador campeão iniciou a época seguinte;
  2. Nessas 52 épocas o treinador campeão apenas conseguiu revalidar o título em 23 ocasiões;
  3. Por outro lado, em 28 campeonatos em que o clube foi campeão e o treinador saiu esse mesmo emblema só revalidou o título 11 vezes.

Não sabendo o que se vai passar esta época – e tudo pode acontecer devido à disputa acesa e à diferença pontual – temos consciência de que a história acaba sempre por ter algum peso e, por isso, encontramos dois cenários claramente explícitos desde do início da época:

  • O Benfica tenta demonstrar – tal como o FC Porto o conseguiu durante algumas temporadas – que a sua estrutura é bastante estável e consolidada para conseguir oferecer ao treinador as condições para conseguir alcançar o sucesso seguindo as suas diretrizes organizacionais;
  • O treinador Jorge Jesus pretende confirmar que a história vai-se repetir, ou seja, que a possibilidade de sucesso de um clube campeão é maior quando as duas partes (clube e treinador) continuam unidos na procura do sucesso de revalidar o título.

Mais do que uma discussão de opiniões e factos, estes dados revelam-nos aquilo que pode ser o equilíbrio perfeito: a estrutura ser sólida e deve, por outro lado, encontrar o treinador que não só traga valor ao clube, mas que seja ainda o mais compatível possível com as ideias que o primeiro considera serem as estratégias organizacionais e desportivas mais corretas para conseguir consecutivamente os seus objetivos.

Por outro lado, entramos na discussão de quem é mais relevante e mais dependente nesta campanha por se chegar a campeão.

Num clube mais dependente do treinador o percurso tem maior probabilidade de ter conflitos.

Sabemos que se o clube é dependente do treinador, o percurso tem em termos de liderança e equilíbrio maior probabilidade de ter conflitos a toda a hora. Por outro lado, pode chegar a altura em que o ego de um treinador queira superar aquilo que é a história e o território de um clube.

Jonas deu triunfo sofrido no Bessa e liderança ao Benfica (Foto: Lusa)

Esta associação de objetivos individuais e coletivos, e a carreira das duas partes também tem uma importância enorme no que será a duração da relação treinador-clube, mesmo que o sucesso desportivo vá sendo alcançado. Existem diversos exemplos de relações que em termos desportivos geram sucesso e títulos e, mesmo assim, a relação é tudo menos agradável e estável.

O campeonato aproxima-se do fim e, mais tarde ou mais cedo, teremos mais dados a somar às estatísticas aqui apresentadas: quem vencerá, sabendo provavelmente de antemão que a resposta mais correta é que quer o clube quer o treinador precisam do outro e de um modo estruturado para serem campeões.