Nesta altura, é sempre mais fácil enaltecer quem vence ou se supera e corrigir quem não vence. Não há volta a dar e com isso, infelizmente, despreza-se muitas vezes processos tão ou mais importantes do que alguns resultados.

No caso dos treinadores portugueses Lito Vidigal e Petit, estes não só realizaram bons processos, como conseguiram resultados que lhes encheram a mente e o coração com sentimentos de objetivos alcançados.

Veja-se e aprenda-se com o caso de Petit. Não se trata apenas da distância pontual. Teve de pegar numa equipa que estava destroçada emocionalmente e tinha efetivamente um conjunto de individualidades a precisar de ser potenciado ao máximo. Esteve condenada quase trinta jornadas. Foi obrigado a trabalhar, simultaneamente, as vertentes tática, organizacional e emocional.

Não pode ser bem comparado ao feito do Leicester, mas deixa-nos água na boca ao vermos que é mesmo possível subir até ao nosso pico do Monte Evereste e que podemos aprender uns com os outros.

Esta conquista do Monte Evereste ensina-nos que é preciso perceber que não é o melhor treinador o necessário mas o que reúne as competências necessárias para o nosso objetivo.

A questão é perceber qual o tipo de treinador que conseguiria este feito. Petit não é o melhor treinador. Possivelmente não tem ainda o estatuto de um dos melhores técnicos portugueses. No entanto, teve e procurou aquilo que era necessário para este contexto. Um treinador que já tinha ao serviço do Boavista conseguido algo inédito enquanto jogador. Que sempre foi um atleta mais esforçado e dedicado que dotado tecnicamente. Que tem um modo de estar que apela sempre muito ao esforço. Que tem um discurso humilde e quase paternal.

Esta conquista do Monte Evereste ensina-nos algo que sublinhamos aqui: é preciso perceber que não é o melhor treinador que é necessário, mas sim, o treinador que reúne as competências necessárias para o objetivo a que nos propomos.

Lito Vidigal conseguiu levar o modesto Arouca à Liga Europa.

Como disse um colega seu de curso, Lito vai de forma diferente dos outros alcançando os seus feitos.

E Lito Vidigal? É verdade que este Arouca começou desde de muito cedo a mostrar-se. A vencer o Benfica em Aveiro. A conseguir disputar os jogos, quer com os grandes quer com as equipas do seu campeonato, sempre até ao limite.

Vidigal está na linha dos treinadores que rapidamente dará o salto ou para um Sp. Braga ou para o estrangeiro. O estilo pode não cativar como outros, mas é mais do que eficiente. É verdade que o seu discurso pode ser menos fluído, no entanto consegue garantir o compromisso de quem é necessário: os jogadores.

O técnico português vai conseguindo alcançar bons resultados em todos os seus desafios. Tal como afirmou um colega seu no curso de treinadores da Liga – e eu não sei se será ou não o engraçadinho da turma , Lito vai de modo diferente dos outros alcançando os seus feitos. É verdade. E, aqui, mais importante do que enaltecer os resultados seria perceber como é o treino deste treinador, como é estar no balneário, como é ouvi-lo e perceber como consegue o compromisso dos vários jogadores que lhe vão passando pelas mãos.

Rui Lança é licenciado em Ciências do Desporto e Mestre em Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana, e frequenta o doutoramento em Comportamento Organizacional nas áreas da Liderança, Equipas, Autonomia e Treino. Publicou cinco livros, entre os quais «Coach to Coach» e «Como formar equipas de elevado desempenho». É formador nas áreas da liderança, coaching, equipas e treinadores em diversos locais, entre eles na Federação Portuguesa de Futebol no curso de treinadores de futebol e futsal de nível III. Trabalha na vertente do treino do treinador e na área comportamental de equipas desportivas.