Todos nós gostamos de opinar sobre aquilo que os treinadores fazem ou não fazem. E quando digo todos nós, foco-me na maioria dos que não são treinadores. Se bem, que considero que até os treinadores, muitas vezes, opinam sobre os seus colegas de profissão ou de lazer com indicadores de análise muito semelhantes aos de conversa de café. Mas adiante.

Um dos grandes males e tópicos que os treinadores devem trabalhar é a incapacidade de não se deixarem influenciar pelas emoções do momento. Não quero com isto afirmar que as emoções são um mau apoio de decisão. Mas quando em excesso, sim. E esse excesso deturpa. E não falo apenas de alguém estar exaltado. Ou irritado ou até mesmo muito feliz. As emoções podem desfocar-nos de pequenas análises de informação mesmo que seja quantitativa. Análises de dois atletas para a mesma posição. De quem é o responsável. Ou como reconhecer. Pequenos e grandes detalhes.

E os que não são treinadores vivem pior essa gestão. Porque não tendo a necessidade de trabalhar a gestão de emoções neste contexto de futebol ou de outra modalidade, até pode funcionar pelo lado oposto, que é, este ser claramente o contexto que serve concretamente para isso.

Os melhores treinadores não fazem apenas uma equilibrada e eficiente gestão das suas emoções, mas têm como denominador comum a capacidade de compreender quais as emoções que são positivas ou negativas e em que momentos elas podem ser estimuladas ou castradas. Quer no próprio treinador quer nos seus atletas. Em que atletas, em que momentos e quais os métodos ou ferramentas para tal.

Parece-nos que os treinadores que são peritos nesta área gerem de modo muito diferente as emoções, mas não. Mourinho, Guardiola, Carlos Ancelloti, só para dar alguns nomes. O que eles devem saber é que ferramenta utilizar. E o momento. É como fazer alguém rir. Todos nós podemo-nos rir de coisas diferentes e há uns que gostam mais de piadas simples, outros do humor britânico, mudo, etc. A emoção é o rir. Como nos fazem rir, é o que um treinador deve saber provocar e gerir.

E porque razão nós temos todos um lado desta parte má que os treinadores geralmente destapam em alguns momentos? Porque quando estamos na bancada, a analisar, a ver na televisão, somos tentados a fazer um conjunto de análises deturpadas ao nível daquilo que as emoções nos deixam, ajudam ou impeçam. E será que os treinadores que vamos vendo diariamente pelo mundo fora também sofrem deste problema de enviesamento, deturpação, pigmalião ou ‘fazer sentido’? Sim, claramente.

O que adeptos gostariam de sentir é que eles sabem-no gerir muito melhor que o treinador de bancada. Mas nem sempre isso acontece. Ou porque estão mais expostos ou porque apesar de possuírem muitas competências, essa não é uma delas. Por isso, uns mais do que outros, na bancada ou no banco, todos temos um pouco de treinadores. Uns com mais tiques positivos outros nem tanto.

Rui Lança é licenciado em Ciências do Desporto e Mestre em Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana, e frequenta o doutoramento em Comportamento Organizacional nas áreas da Liderança, Equipas, Autonomia e Treino. Publicou cinco livros, entre os quais «Coach to Coach» e «Como formar equipas de elevado desempenho». É formador nas áreas da liderança, coaching, equipas e treinadores em diversos locais, entre eles na Federação Portuguesa de Futebol no curso de treinadores de futebol e futsal de nível III. Trabalha na vertente do treino do treinador e na área comportamental de equipas desportivas.