Zinedine Zidane é o novo treinador do Real Madrid. Nem se pode falar de uma estreia absoluta, uma vez que o francês já liderava os destinos da equipa secundária dos merengues, mas este é o trampolim que faltava para se olhar para o francês como um treinador.

A partir de agora é mesmo mister Zidane, o que o coloca numa galeria que, apesar de alargada, não significa que seja de notáveis. No banco, claro está, porque no relvado não houve melhor em vários anos. Falamos dos «Bolas de Ouro».

Estamos prestes a conhecer o vencedor de mais um galardão, o mesmo que Zidane levou para casa em 1998, depois de um ano de sonho em que ajudou a levar a França ao primeiro e único título mundial da sua história.

Ora, transportar o génio dos relvados para o banco de suplentes é uma missão que, diz-nos a história, não é para qualquer um. Não só porque muitos, efetivamente, falharam, mas também porque vários outros nem sequer tentaram.

Vencedores da Bola de Ouro sem experiência de registo como treinador: Raymond Kopa, Lev Yashin, Dennis Law, Eusébio, Flórián Albert, George Best, Gianni Rivera, Karl-Heinz Rummenigge, Paolo Rossi, Igor Belanov, Roberto Baggio, George Weah, Ronaldo, Rivaldo, Luís Figo, Michael Owen e Andriy Shevchenko.

Nesta lista excluímos aqueles que ainda jogam profissionalmente, mesmo que, casos de Ronaldinho Gaúcho e Kaká, longe do nível de outros tempos, e também dois casos fugazes: Gerd Muller (1970) não passou das camadas jovens do Bayern Munique e Pavel Nedved (2003) teve uma experiência como adjunto na Juventus, que rapidamente trocou pelo dirigismo.

Percurso semelhante foi o de Matthias Sammer (1996), atual diretor desportivo do Bayern Munique, mas com uma carreira mais longa como técnico: orientou o Borussia Dortmund entre 2001 e 2004 (vencendo a Bundesliga no ano de estreia) e o Estugarda em 2004/05.



Zidane: entre Papin e Platini ou mais acima?

São quatro os franceses que venceram a Bola de Ouro e, destes, apenas Raymond Kopa (1958) não tentou a sorte como treinador. Zidane é o último a fazê-lo e a chave será, agora, perceber a que nível, sendo que não será, de todo, impossível que se torne o caso de maior sucesso.

Michel Platini (1983, 84 e 85), por exemplo, não foi um técnico de excelência. Orientou, unicamente, a seleção francesa entre 1987 e 1992. Entrou já com o apuramento para o Euro 88 comprometido, falhou o acesso ao Mundial de Itália, levou a seleção ao Euro 92, mas não passou a fase de grupos, depois de uma surpreendente derrota com a Dinamarca no jogo decisivo.

Jean-Pierre Papin (1991) teve um percurso ainda mais modesto nos bancos. Começou nos amadores do FC Bassin d’Arcachon, passou por Estrasburgo e Lens, e, desde que deixou o Chateauroux, em 2010, nunca mais voltou a dirigir uma equipa.

Cruyff e Beckenbauer são os maiores casos de sucesso



De resto, olhando para a lista de vencedores do galardão, não há grandes dúvidas em destacar dois nomes entre os maiores casos de sucesso: Johan Cruyff (1971, 73 e 74) e Franz Beckenbauer (1972 e 76).

O holandês deixou o Barcelona em 1996 e, antes do emergir de Pep Guardiola, ninguém duvidava que aquele tinha sido o mais fantástico Barça da era moderna. Venceu a primeira Liga dos Campeões, acrescentou-lhe duas Taças das Taças e uma Supertaça Europeia, além de vários títulos internos: quatro campeonatos, três Supertaças e uma Taça do Rei. Antes, nas três épocas em que treinou o Ajax tinha ganho «apenas» uma Taça da Holanda.

Mais do que os troféus todos, contudo, Cruyff criou um estilo ainda hoje replicado. Jorge Jesus, por exemplo, não esconde que é a inspiração maior para o seu jogo. E a «dream-team» do Barcelona ainda hoje entra nas melhores memórias do futebol de toda uma geração.

Já Beckenbauer centrou a sua atividade como técnico durante mais anos ao serviço de uma seleção, a alemã. Com sucesso na última tentativa: perdeu a final do Mundial 86, foi eliminado nas meias-finais do Euro 88, mas conquistou o título mundial em 1990, em Itália. É, ainda hoje, a par do brasileiro Mario Zagallo, o único campeão do mundo como jogador e como técnico.

A nível de clubes foi campeão francês, pelo Marselha, em 1991, e orientou o Bayern Munique em duas ocasiões: campeão alemão em 1994 e venceu a Taça UEFA na segunda passagem em 1996.

Um degrau abaixo: de Suárez a Rudd Gullit

Abaixo do nível de Cruyff e Beckenbauer encontram-se muitos outros «Bolas de Ouro». Começando em Luis Suárez (1960), que, embora não tenha construído um palmarés brilhante, conseguiu uma amplitude de carreira de vinte anos. Com início e fim no mesmo clube: o Inter de Milão, onde jogou nove temporadas depois de vencer a Bola de Ouro com a camisola do Barcelona.

O seu único título, contudo, foi o Euro Sub-21 de 1986, pela seleção espanhola. Aliás, levou a seleção A ao Mundial 90, mas caiu nos oitavos de final, frente à Juguslávia.

Alfredo Di Stefano (1957 e 59) não foi um treinador de excelência mas conquistou alguns títulos. À cabeça a Taça das Taças de 1980, pelo Valência, nos penáltis, frente ao Arsenal. Mas também a Liga espanhola de 1971, pelo mesmo clube, a Supertaça de 1991, na segunda passagem pelo banco do Real Madrid. Não ter ganho o título como treinador pelos merengues marcou-lhe a carreira da qual ainda consta Campeonato e Taça da Argentina de 1970, pelo Boca Juniors.



Oleg Blokhin (1975) construiu uma carreira de respeito em países como a Grécia e a Ucrânia, tendo inclusive treinado a seleção e levando-a ao primeiro Mundial da sua história, em 2006, numa aventura que terminou nos quartos de final. Faltou-lhe um título nacional. Aos 63 anos, e sem clube desde que deixou o Dínamo Kiev em 2014, ainda irá a tempo?

Também Kevin Keegan (1978 e 1979) conseguiu uma carreira de vários anos mas sem expressão a nível de títulos. Venceu a II Liga inglesa por Newcastle e Manchester City e levou a seleção inglesa ao Euro 2000. Pouco para quem conseguiu tanto com a bola nos pés.

Mais longe, por exemplo, foi Rudd Gulitt (1987), sobretudo no início da carreira. Em 1997/98 levou o Chelsea à conquista da Taça das Taças e da Taça da Liga inglesa. No ano anterior já tinha ganho a Taça de Inglaterra. O pior veio depois. Falhou no Newcastle e, desde o Feyenoord (2004/05), que não recebe um projeto de relevo na alta roda do futebol.

O seu compatriota Marco Van Basten (1988, 89 e 92) é outro afastado das principais lides europeias, depois de ter levado a seleção holandesa aos oitavos de final do Mundial 2006 e encantado no Euro 2008, antes de cair nos «quartos» com a Rússia. De lá para cá treinou Ajax e Herenveen, chegou a ser trunfo de Bruno de Carvalho na primeira vez que se candidatou à presidência do Sporting, passou de treinador principal a adjunto do AZ Alkmaar alegando «problemas de saúde» e desempenhou igual papel na equipa técnica de Danny Blind na seleção holandesa que, recentemente, falhou o acesso ao Euro 2016.


Marco Van Basten quando foi apresentado por Bruno de Carvalho como trunfo para as eleições

Por fim, ainda a este nível é preciso ter em conta Fabio Cannavaro (2006), que está agora a lançar-se. Em 2015 orientou o Guangzou Evergrande, da China, mas acabou substituído por Luiz Filipe Scolari, que venceu título nacional e continental.

Charlton, Matthaus ou Stoichkov: há quem não tenha mesmo jeito para isto…

Para o final deixamos casos claros de discrepância evidente entre o talento com a bola nos pés e o talento para orientar quem a conduz. Uns por escassas tentativas, outros por manifesta falta de jeito.

Comecemos por Stanley Matthews (1956). O primeiro Bola de Ouro da história não se quis aventurar no banco por muito tempo. Limitou-se a uma época no Hibernians de Malta. Conquistou o título, é certo, mas o campeonato maltês está longe de figurar entre a elite europeia.

Omar Sivori (1961) foi uma figura da Juventus, mas como treinador nunca saiu da Argentina e nunca conquistou títulos de relevo. O checo Josef Masopust (1962) orientou a seleção na década de 80, mas falhou os apuramentos para o Mundial do México e o Europeu da Alemanha.

Bobby Charlton (1966) teve uma carreira como técnico ainda mais fugaz: foi treinador-jogador do Preston North End e não conseguiu ter sucesso, já só como técnico, ao serviço do Wigan. Melhor, mas pouco, fez Allan Simonsen (1977) que passou largos anos a orientar seleções como as Ilhas Feroé ou o Luxemburgo.

Para o fim, mais dois casos de desnorte no banco. Se o de Lottar Matthaus (1990), e que venceu a Liga austríaca pelo Rapid Viena no seu ano de estreia em 2002 mas nunca mais teve sucesso em lado nenhum, causa espanto pelo lado cerebral do seu jogo, já a  Hristo Stoichkov (1994), com tanto de génio como de polémico, seria difícil imaginar um percurso sóbrio como treinador. E corresponde: falhou na seleção da Bulgária, no Celta de Vigo, nos sul-africanos do Sundowns, no Litex e no CSKA Sofia.