A parte comportamental tem tanta importância naquilo que é o rendimento das equipas, treinadores e atletas que após o clássico de sexta-feira à noite, e apesar do Benfica ter ainda três pontos de avanço sobre o FC Porto, se fizéssemos uma única questão após o jogo, a maioria das pessoas questionadas iria provavelmente afirmar que o Porto encontra-se numa oportunidade única de subir os seus índices de confiança e rendimento e o Benfica, apesar das onze vitórias seguidas, iria para o sentido inverso.

José Peseiro

A verdade, e não sendo nem 8 nem 80, é que a vitória do FC Porto, justa ou não, colocou o treinador José Peseiro numa posição interessante e que o relança na disputa da Liga. O Sporting ainda está a seis pontos, mas com a constante perda de pontos e exibições mal conseguidas dos três candidatos, o treinador de Coruche tem uma oportunidade única para ganhar o grupo, relançar alguns jogadores menos aproveitados e alcançar níveis de confiança e popularidade ainda não conseguidos. O Dortmund vem aí, mas isso e neste momento, pouco interessa.

Peseiro sabe que um tropeção o levará a ficar em piores condições do que antes da Luz»

Peseiro é um treinador que tentará manter as dinâmicas de jogo alcançado na Luz, mesmo com as necessárias adaptações que todos os jogos e adversários exigem. Considera que é por aí que irá lá chegar. E até pode ser, mas mantenho e reforço que neste momento o FC Porto precisa de gerir os níveis de confiança, de uma liderança mais focada no jogador e não apenas nas questões organizacionais do jogo. E sem referências de liderança no campo se excetuarmos jogadores que nem são da casa como Casillas, Maxi e pouco mais, o treinador português sabe que um tropeção o levará a ficar em piores condições de aceitação do grupo face às expetativas agora criadas do que antes do jogo da Luz.

O Benfica viveu semana com algum excesso de confiança (Foto: Lusa)

E Rui Vitória?

O Benfica vinha de onze vitórias seguidas. De boas exibições. Não esteve tão bem no jogo como era esperado, mas o adversário era mais forte do que todas as onze equipas anteriores. Face às oportunidades falhadas, Rui Vitória viu o Sporting fugir novamente e o Porto a aproximar-se. Isto tudo no mesmo fim-de-semana. E numa semana em que se viveu algum excesso de confiança no público benfiquista. Em que, na conferência de imprensa, o treinador assumiu por um lado o favoritismo para o jogo, mas por outro tentou contrariar a ideia de excesso de confiança nos adeptos do Benfica. Em que nos últimos minutos do jogo assumiu o risco na gestão da equipa e do balneário ao colocar Salvio em campo. E agora, Rui?

Nos últimos minutos, Rui Vitória assumiu o risco na gestão da equipa e do balneário ao colocar Salvio em campo»

O Benfica tem um conjunto de jogos com um grau de dificuldade média ou máxima nos próximos dias. Zenit duas vezes, deslocação a Paços de Ferreira, a receção a um União com o qual já perdeu pontos e o Sporting em Alvalade. O que deve fazer o treinador benfiquista? Colocar toda a lenha para a capital do móvel ou jogar frente aos russos como um dos jogos mais importantes da época? Porque o plantel do Benfica – curto e com lesões durante todo o ano – não chegará para todas as frentes e Fevereiro é um mês que costuma castigar as equipas que estão em várias, com perdas de jogadores por lesão, e perda de intensidade individual e coletiva.

Resumindo…

Entre Benfica e Porto só o primeiro depende de si para ser campeão, mas a deslocação a Alvalade, e quando Rui Vitória leva cinco derrotas em cinco jogos frente aos outros grandes, prevê uma Liga esquisita em que a equipa que conseguir deslizar menos – não apenas pela não perda de pontos, mas por não alimentar a esperança os adversários – vencerá. E, ao mesmo tempo, poderá ficar na poltrona a ver os clássicos e os jogos frente ao Sp. Braga como os assaltos finais onde se decidirá quem vencerá.

Resta saber se Jorge Jesus continuará o seu passeio frente ao Benfica esta época e se conseguirá ir ao Dragão sem alterar a sua identidade. Ou se Rui Vitória vencerá o seu último clássico da época. Ou se José Peseiro alterará o quase que o tem acompanhado. 

Os «Óculos do treinador» são um espaço de opinião de Rui Lança, formador nas áreas de liderança, coaching, equipas e treinadores, que escreve na MFTotal todos os domingos.