Oito finais, seis campeões e um novo nome garantido no palmarés esta época. Com o Sporting a chegar à «final four» e a procurar tornar-se o terceiro clube português a vencer a Youth League, o Maisfutebol foi olhar para todos os outros campeões europeus de clubes de sub-19 e ver que é feito deles.

O FC Porto, o primeiro campeão português, está entre os clubes que mais partido tiraram da geração que festejou em Nyon. Em campo e também nos cofres do clube. E o Benfica, que venceu em 2022 à quarta presença na final, também já apostou em sete desses jogadores, embora a conquista tenha apenas um ano e essa geração esteja ainda a chegar ao futebol sénior. 

Entre os anteriores campeões há de tudo. Confirmações absolutas, jogadores que superaram expectativas, mas também muitos que ficaram pelo caminho. E muitos ainda, obviamente, com o futuro pela frente.

2013/14

Campeão: Barcelona

Final: Benfica-Barcelona, 0-3

Com a conquista da primeira edição da Youth League, o Barcelona fez justiça ao estatuto da sua formação. Mas a geração que venceu o Benfica na primeira final não foi longe. Sem espaço numa equipa principal recheada de estrelas, muitas delas vindas da cantera, poucas portas se abriram, não só no imediato como no futuro.

Apenas três jogadores dos 24 utilizados naquela campanha da Youth League chegaram à equipa principal. Munir, o melhor marcador daquela Youth League, com 11 golos, foi o único que construiu carreira no Barcelona, com 56 jogos e 12 golos entre 2014 e 2019. Pelo meio, aproveitou as cedências ao Valencia e ao Alavés. Internacional por Marrocos depois de chegar a representar a Espanha, transferiu-se em definitivo para o Sevilha no início de 2019.

Outro nome daquela equipa que chegou ao mais alto nível foi Adama Traore, o avançado que voltou ao Barcelona em 2021/22 para meia época de empréstimo cedido pelo Wolverhampton e está de volta ao clube inglês. Curiosamente, um dos poucos jogadores daquela equipa que joga atualmente nas principais Ligas é o internacional paraguaio Tonny Sanabria. Atualmente no Torino, o avançado não esteve na final, porque deixou o Barça a meio da época, rumo ao Sassuolo. Depois há Xavi Quintillá, lateral que está agora no Santa Clara, depois de passagens por Villarreal, Norwich ou Leganés.

Houve carreiras sinuosas, como a do médio Wilfrid Kaptoum, que fez três jogos pelo Barcelona, depois jogou no Betis, no Almeria, rumou à MLS e está de volta a Espanha, no Las Palmas, do guarda-redes Ondoa, que chegou a brilhar pela seleção dos Camarões mas nunca se afirmou nos clubes ou de Enguene, o jogador com mais minutos na campanha da Youth League, que deixou La Masia em 2016, sem ter chegado à equipa principal. Jogou no Atnalyaspor e esteve meia época no Leixões em 2016/17, onde fez dois jogos. Também já deixou de jogar como profissional.

Apesar de ainda não terem atingido os 30 anos, alguns daqueles jogadores já abandonaram o futebol profissional, como o avançado El-Ouariachi, que passou por vários clubes em Inglaterra, jogou no Hearts e voltou a Espanha, para os escalões secundários. Um dos campeões pelo Barcelona em 2014 já faleceu. Maxi Rolon, que estava de volta à Argentina, foi vítima de um acidente automóvel em 2022.

Aquele Benfica finalista em 2014 tinha em contrapartida Gonçalo Guedes, o internacional português que está agora de volta à Luz, mas também, entre outros, os agora sportinguistas Nuno Santos e Rochinha.

2014/15

Campeão: Chelsea

Final: Shakhtar Donetsk-Chelsea, 2-3

A geração que deu o primeiro de dois títulos europeus sub-19 consecutivos ao Chelsea criou raízes. Esta era a equipa de Loftus-Cheek, Dominic Solanke, Andreas Cristensen, Tammy Abraham, Charly Musonda ou Fikayo Tomori. Nem todos cumpriram as expectativas. Há até jogadores que já penduraram as botas. Entre eles Izzy Brown, o capitão de equipa que marcou dois golos na final com o Shakhtar Donetsk, a quem José Mourinho augurava um futuro brilhante.

Chegaram à equipa principal mais de metade dos jogadores utilizados na campanha, 12 num universo de 21, ainda que a maioria tenha tido pouca utilização. Loftus-Cheek é o único que continua em Stamford Bridge, com um empréstimo ao Fulham pelo meio. O defesa Dujon Sterling, agora cedido ao Stoke City, é o outro jogador que mantém ligação ao clube.

Há jogadores de talento confirmado, que valeram retornos avultados ao Chelsea. Tammy Abraham saiu em 2021, numa transferência de 40 milhões para brilhar na Roma de José Mourinho, depois de fazer 82 jogos e marcar 30 golos pelos Blues. No mesmo verão, Fikayo Tomori rumou ao Milan, num negócio de 31 milhões de euros. O central, que passou por sucessivos empréstimos até ganhar espaço nos Blues, é um pilar da defesa dos «rossoneri».

De todos, o jogador que fez mais jogos pelo Chelsea, 161 no total, foi Andreas Cristensen, que está agora no Barcelona, depois de terminado o contrato com os Blues.

Também houve grandes promessas que não corresponderam a todas as expectativas. Como Dominic Solanke, o goleador daquela Youth League, com 12 golos até à conquista do troféu. Fez um jogo pela equipa principal do Chelsea, rumou ao Liverpool em 2017 mas não chegou à equipa principal e dois anos mais tarde assinou pelo Bournemouth, onde vai na quinta temporada, tendo sido crucial na promoção à Premier League, na época passada. Chegou à seleção inglesa, tendo uma única internacionalização. Outro jogador para já aquém do que prometia foi Musonda. Numa carreira muito condicionada por lesões, o internacional sub-21 belga encontrou agora alguma regularidade no Levante, ele que só terminou a ligação aos Blues no verão passado, sem ter chegado à equipa principal, depois de duas passagens discretas por Celtic e Vitesse.

2015/16

Campeão: Chelsea

Final: Chelsea-PSG, 2-1

Há vários bicampeões entre os 25 jogadores que conquistaram a segunda Youth League seguida para o Chelsea, como Tammy Abraham, Fomori ou Olai Ana. Entre as caras novas, o destaque mais evidente é Mason Mount, campeão europeu em 2021, referência do meio-campo do Chelsea e da seleção inglesa. Vai entrar no último ano de contrato e é provável que venha a protagonizar uma transferência mediática.

Outro jogador que chegou à equipa principal e continua em Stamford Bridge é o central Trevoh Chalobah, que já passou por várias cedências. Nesta equipa dos Blues são de resto poucos os jogadores que chegaram à equipa principal ou fizeram carreiras sólidas ao mais alto nível. O médio Mukhtar Ali, o jogador mais utilizado naquela campanha, saiu em 2016 para o Vitesse e voltou agora a casa, para jogar na Arábia Saudita. Nesta equipa estava ainda o extremo Jacob Maddox, que em 2020 assinou pelo V. Guimarães. Fez apenas seis jogos, foi cedido na época seguinte ao Burton Albion e hoje está no Walsall, na League Two.

2016/17

Campeão: RB Salzburgo

Final: Benfica-RB Salzburgo, 1-2

A segunda final do Benfica terminou com a vitória do RB Salzburgo, outro clube com reputação na formação e que potenciou alguns destes campeões. Ainda assim, nenhum deles alcançou sucesso planetário, pelo menos comparável a outros craques potenciados em Salzburgo, como Haaland, Mané ou Upamecano.

E não comparável também ao percurso que fariam vários dos jogadores daquela equipa do Benfica, que tinha Ruben Dias, João Félix, Florentino, Gedson Fernandes ou Jota.

Entre os 29 utilizados pelo RB Salzburgo na caminhada até ao título, chegaram seis à equipa principal. Alguns dos campeões garantiram encaixes significativos para o Salzburgo. Como Patson Daka, o internacional zambiano que cresceu em Salzburgo e saiu para o Leicester em 2021, num negócio de 30 milhões de euros.

Mergim Berisha, avançado que foi o melhor marcador do Salzburgo naquela campanha, foi um caso de afirmação clara na equipa, antes de sair em 2021 para o Fenerbahçe. Internacional alemão, está agora no Augsburgo.

O RB Leipzig, aproveitando a ligação ao Salzburgo, também tirou partido de alguns dos jogadores daquela equipa, como o internacional maliano Amadou Haidara. O internacional austríaco Xaver Schlager chegou a Leipzig nesta temporada depois de se destacar no Wolfsburgo. Hannes Wolf (Gladbach) ou Igor Julio (Fiorentina) são outros dos campeões pelo clube austríaco que estão a jogar nas grandes ligas. Também há uma ligação a Portugal, claro, com o avançado Alexander Schmidt, que marcou o golo da vitória naquela final e está agora no Vizela, depois de ter jogado no Lask Linz.

2017/18

Campeão: Barcelona

Final: Barcelona-Chelsea, 3-0

A geração do segundo título do Barcelona na Youth League também não teve até agora muito sucesso em Camp Nou. Foram 30 jogadores utilizados e apenas uma dezena chegou à equipa principal, que não tem atualmente nenhum jogador daquela equipa, à exceção do guarda-redes suplente Iñaki Pena.

Houve alguns casos de jogadores que já se afirmaram, ainda que todos estejam numa faixa etária com muita margem para crescimento, entre os 23 e os 24 anos. Um dos nomes mais relevantes daquela equipa é Riqui Puig, o médio que no verão passado trocou Barcelona pela MLS e está no LA Galaxy. Ou o central Óscar Mingueza, já internacional A pela Espanha e que também saiu na última época, para jogar no Celta Vigo. É também esse nesta altura o clube de Carles Pérez, o avançado que foi o melhor marcador do Barça na Youth League e se mudou para a Roma em 2020. Daquela equipa também fazia parte Sérgio Gomez, embora não tenha estado na decisão, tendo saído a meio da temporada para o Dortmund. Está agora a crescer no Manchester City. E Juan Miranda, lateral que passou pelo Schalke e ganha consistência no Betis.

Depois há Abel Ruiz, o avançado do Sp. Braga que lidera um considerável contingente de campeões de 2017/18 com ligações a Portugal. Somou um jogo pela equipa principal do Barcelona e chegou em janeiro de 2020 num negócio de oito milhões que coincidiu com a transferência de Trincão. Também campeão da Europa sub-19 e sub-17, como alguns dos companheiros de geração, já internacional A pela Espanha, é uma das referências do Sp. Braga. Rafa Mujica e Uri Busquets, no Arouca, Alejandro Marquéz, no Estoril, e Dani Morer, agora no FC Andorra mas ainda ligado ao Famalicão, são os outros jogadores daquela equipa que escolheram Portugal para prosseguir as carreiras.

2018/19

Campeão: FC Porto

Final: FC Porto-Chelsea, 3-1

O FC Porto foi o primeiro clube português a vencer a Youth League com uma geração onde havia muito talento. Entre os jogadores que continuam no clube e aqueles que foram referências nas últimas temporadas e deram o salto para as grandes Ligas, é evidente como os «dragões» tiraram partido de parte daquela geração. E com grandes reflexos nas contas.

O efeito foi imediato. Na época seguinte à conquista da Youth League, Sérgio Conceição utilizou oito dos campeões sub-19 na campanha da conquista da Liga portuguesa em 2019/20. Nesta altura, continuam no Dragão Diogo Costa, também a primeira opção na baliza da seleção nacional, e João Mário.

Deste grupo, a primeira grande transferência foi protagonizada por Fábio Silva, o avançado que marcou cinco golos na campanha da Youth League, saiu para o Wolverhampton no verão de 2020, num negócio de 40 milhões de euros. Esta época está emprestado pelos Wolves, agora ao PSV e antes ao Anderlecht.

Na temporada passada, as duas referências de talento no meio-campo dos campeões nacionais de 2022 também saíram. Vitinha, também ele já internacional A, rumou ao PSG, num negócio de 41.5 milhões, enquanto Fábio Vieira assinou pelo Arsenal, uma transferência de 35 milhões de euros. São 116,5 milhões de euros em três jogadores.

No total, jogaram até agora na equipa principal portista 10 campeões da Youth League, sendo Gonçalo Borges a aposta mais recente. Vários outros jogadores continuam ligados ao clube, como Diogo Leite, no Union Berlim, outro desses campeões a destacar-se numa das grandes Ligas europeias. Também está agora na Alemanha outro jogador dessa equipa: o colombiano Juan Perea, que deixou o FC Porto logo em 2019, joga no Estugarda.

Romário Baró, agora no Casa Pia, e Tomás Esteves, cedido ao Pisa são outros jogadores ainda com ligação ao FC Porto.

Entre os 28 jogadores que Mário Silva utilizou naquela campanha vários já deixaram o clube em definitivo e prosseguem carreiras na Liga, como Diogo Queirós, que está no Famalicão, Mor NDiaye (Estoril) ou Estrela (Portimonense). E outros, em idades que são ainda de crescimento, jogam nos escalões secundários.

2019/20

Campeão: Real Madrid

Final: Benfica-Real Madrid, 2-3

O Real Madrid levou a melhor naquela que foi a terceira final perdida para o Benfica. Do primeiro título merengue na competição não saíram, ainda, muitas certezas. É muito cedo para tirar conclusões em relação a jogadores tão jovens, mas também neste caso tem sido mais visível o potencial do lado do Benfica, na equipa que tinha Gonçalo Ramos, Morato, Tiago Dantas ou Henrique Araújo.

O lateral Miguel Gutierrez é um dos jogadores daquele Real Madrid com mais rodagem, a confirmar o potencial no Girona, para onde se transferiu esta época, depois de ter chegado à equipa principal merengue. Um percurso que o central Victor Chust também prossegue, no Cadiz. Ou o avançado Pablo Rodríguez, que saiu em 2020 para o Lecce e está agora no Brescia por empréstimo. E ainda o médio Miguel Baeza, que saiu para o Celta Vigo e está esta época no Rio Ave, cedido pelos galegos. Outro jogador que passou por Portugal foi o avançado Vassilakis, que representou o Arouca em 2020/21 e está agora no Elche B.

Na equipa principal têm sido chamados apenas Sergio Arribas, destaque no Real Madrid B e com alguns minutos somados entre os «grandes», e Luis Lopez, um dos guarda-redes suplentes de Ancelotti. Mas a maior parte dos campeões da Youth League mantém a ligação ao Real Madrid. Na equipa B estão promessas como Peter, Alvaro Martin ou Theo Zidane. Depois há vários jogadores emprestados ou ainda no RSC Internacional, filial do clube.

2021/22

Campeão: Benfica

Final: Benfica-Salzburgo, 6-0

Passou um ano desde que o Benfica venceu pela primeira vez a Youth League, ao fim de quatro presenças na final. Dessa conquista saiu aquele que se tornou um dos pilares da equipa principal já nesta temporada. António Silva ganhou o lugar, face a várias baixas no centro da defesa, soma 39 jogos, com cinco golos de «bónus», já é internacional A e esteve no Mundial 2022.

A afirmação meteórica do central não tem paralelo, ainda que vários dos 24 jogadores utilizados por Luís Castro na campanha da Youth League já tenham chegado à equipa principal. Esta época, a aposta mais regular que se segue é João Neves. Afastado da reta final da época passada por lesão, o médio que não jogou a final da Youth League já foi opção de Roger Schmidt em 14 jogos.

Jogadores como Henrique Araújo e Tomás Araújo chegaram à equipa principal ainda na época passada, tal como Martim Neto ou Diego Moreira, lançados por Nelson Verissimo, o treinador que terminou a temporada na Luz e conhecia bem os jogadores da formação. Esta época Cher Ndour elevou para sete os campeões da Youth League que já se estrearam pela equipa principal.

Alguns dos campeões saíram por agora da Luz. Henrique Araújo foi emprestado ao Watford, Tomás Araújo está no Gil Vicente.