«Zlatan usou uma vez a máquina da verdade. A máquina confessou tudo»; «Zlatan matou duas pedras com um pássaro»; «Quando Zlatan era criança, os pais dele dormiam na sua cama quando tinham medo»…

Exagerado? Talvez. O bom humor dos Zlatan Facts serve para afirmar aos quatro ventos que Ibrahimovic é «o maior» para os seus fãs e que seu feitio e autoestima fazem dele uma espécie de super-herói que, aparentemente, consegue os feitos mais impossíveis ao comum dos mortais. Ele é o alfa e o ómega de uma legião de seguidores, o Chuck Norris dos relvados, dominador da arte de ser Zlatan.

Uma brincadeira, claro está. Mas que Zlatan tem algo de especial, lá isso tem. É um jogador diferente, pelas ações e opiniões desconcertantes, naturalmente, mas sobretudo pela arte (muitas vezes até marcial a fazer jus ao seu cinturão negro) com que joga futebol que o avançado sueco de origem bósnia se tornou num ídolo à escala mundial.

Revelado do Malmö, da sua cidade natal, o jovem Ibrahimovic começa a revelar-se no Ajax. Chega a Amesterdão em 2001, em vésperas de completar 20 anos é aposta fugaz de Co Adriaanse mas é com outro técnico bem conhecido do futebol português, Ronald Koeman (que assume após Adrianse ser demitido em novembro de 2001), que se torna aposta regular no onze titular. A «chicotada» funcionou para o Ajax, que venceu o título holandês desse ano, mas também para «Ibra» que não demoraria a tornar-se na estrela no clube de Cruyff e Van Basten.  

Isso é uma coisa, «Ser Zlatan» é outra. E qual é então o momento fundador do mito?

Apontemos 22 de agosto de 2004 no calendário. Após uma boa campanha pela Suécia no Europeu de que Portugal foi anfitrião (chegou às meias-finais), o ainda jovem e talentoso avançado é cobiçado por meia Europa e quer sair.

Falta no entanto uma semana para o mercado e o contra-relógio faz mexer a cabeça de Ibra, que não estava satisfeito com a possibilidade de cumprir a quarta época seguida com a camisola do clube holandês: quadro dias antes num particular entre a Suécia e a Holanda, lesiona com uma entrada duríssima Rafael van der Vaar, seu companheiro de equipa no Ajax – que viria a acusá-lo de intencionalidade no lance, mais tarde.

No jogo do fim de semana, da jornada 2 da Eredivisie, o tempo corre na Amesterdam Arena e o placard eletrónico assinala já 4-1. O Ajax goleia o NAC Breda e não se espera nada de extraordinário no quarto de hora final da partida. Até que… ZLATAN!

Há um génio no relvado, embora haja quem ainda não tenha a perfeita noção da dimensão dele.

Ibrahimovic, que até já tinha inaugurado o marcador aos 13’, começa a tornar-se Zlatan aqui. Doze toques na bola, sete dribles, meia equipa do NAC pelo caminho.

GOLO!!! O melhor golo do ano de 2004 para os telespetadores da Eurosport. Van der Vaart assiste na tribuna impávido.

Entre o momento em que Ibrahimovic recebe a bola e aquele em que esta entra na baliza 11 segundos de magia. Uma ode à ilusão e ao egoísmo. Futebol-arte. Zlatanbol. O 6-2 final já pouco interessa. Uma goleada do Ajax ao NAC Breda não é propriamente um feito de deixar todos com a boca aberta de espanto.

No documentário Becoming Zlatan (2016), que retrata o início da carreira de Ibrahimovic, além de interessantíssimas declarações do craque na sua juventude há testemunhos como os de Leo Beenhakker, diretor-técnico do Ajax entre 2000 e 2003 e responsável pela sua contratação, lembra as palavras que lhe dirigiu quando chegou ao Ajax.

«É um grande estádio com 60 mil pessoas e tens de mostrar que vales nove fucking milhões de euros», disse-lhe.

Uma semana depois, Zlatan faz o último jogo com a camisola do Ajax, num empate caseiro a uma bola diante do Utrecht. Pressionado, o clube é forçado a vender a sua pérola à Juventus, ainda assim pelo dobro do valor que investiu três anos antes quando o contratou ao Malmö.

Ibrahimovic segue para Turim já como o grande “Zlatan”.

«Uma vez Zlatan transformou o futebol num slalom gigante… E ainda encontrou a porta de saída do Ajax.» Ora aí está um Zlatan Fact verdadeiro: aconteceu a 22 de agosto de 2004 frente ao modesto NAC Breda.